Aberta a temporada de festivais
maio 17, 2010 por Lia VasconcelosO Hay Festival, que começa no dia 27 de maio e dura 10 dias, dá o pontapé inicial das grandes festas literárias deste ano. O festival inglês, inspiração para a criação da Flip, espera receber cerca de 100 mil pessoas na pequena cidade Hay-on-Wye, no País de Gales.
São 23 anos de festa e em 2010 os destaques são a participação do ex-ditador paquistanês Pervez Musharraf, do presidente maldivo Mohamed Nasheed, da escritora também paquistanesa Fatima Bhutto, da ganhadora do Nobel, a sul-africana Nadine Gordimer, e de velhos conhecidos da Flip como Martin Amis (Flip 2004), Ian McEwan (Flip 2004) e Christopher Hitchens (Flip 2006).
Em entrevista à Folha de São Paulo, Peter Florence, diretor do festival, explicou como organizar esse tipo de evento em meio a uma crise financeira. “No nosso caso, é uma combinação de estar em linha com estudos sociais e econômicos e desdenhar expectativas sombrias subindo o som. As pessoas têm de se divertir”. Essa tarefa ficará a cargo do comediante inglês Stephen Fry e de um punhado de DJs em alta.
Erva de ferro
maio 14, 2010 por Lia VasconcelosQuer dar uma olhada em primeira mão no livro que rendeu a William Kennedy, presença confirmada na Flip 2010, o prêmio Pulitzer e que virou filme de Hector Babenco, com Jack Nicholson e Meryl Streep?
O blog da Cosac Naify publica o primeiro parágrafo da obra, que conta a história do pai de Billy Phelan, Francis, ex-jogador de beisebol, que abandona a família depois de causar acidentalmente a morte do filho caçula. Francis, então, afunda-se na bebida e passa a viver de bicos em meio à Grande Depressão dos anos 30.
Billy Phelan já é personagem conhecido: é o habilidoso jogador de pôquer e bilhar que se recusa a servir de informante do sequestro do filho de um político poderoso de O grande jogo de Billy Phelan, de 1978, relançado no Brasil neste ano.
Os segredos de uma festa literária
maio 12, 2010 por Equipe de comunicação da FLIPPor Flávio Moura, diretor de programação da Flip.
Artigo publicado no jornal “O Estado de São Paulo” no dia 09/05/2010.
Um dos lados divertidos de trabalhar na curadoria da Flip é receber dicas. Não há pessoa próxima que não tenha sugestão de autor. No mais das vezes, a ideia é bem-vinda e ajuda a engrossar a lista de possíveis convidados. Mas sempre há quem acredite que eventuais ausências se devem ao esquecimento da curadoria. Muita gente acha que basta estalar o dedo para ter um autor de grande porte no evento – e vem com olhar condescendente apontar uma falta na programação. “Umberto Eco”, sussurram alguns. “Woody Allen, chama o Woody Allen”, assopram outros. “Cara, o Philip Roth, por que você não chama o Philip Roth?”. Foi engraçado nas primeiras 350 vezes que disseram isso.
Escolher os autores de maior destaque da Flip é mirar nas grandes figuras do mundo ilustrado e acertar nas que têm interesse em vir ao Brasil ou são acostumadas a excursionar pelo mundo para promover seus trabalhos. A Flip, nunca é demais lembrar, não oferece cachê. A persuasão tem de se dar por outras vias – e para isso a lista de convidados das edições anteriores costuma ser atrativo poderoso.
Também por isso o trabalho é feito em contato próximo com as editoras. Todo ano há quem venha contar quantos autores de cada editora estão presentes e suspeitar de alguma forma de favorecimento. Mas o fato é que a curadoria trabalha em relação estreita com todas as editoras cujo catálogo se aproxima do perfil dos autores da Flip. Parcela expressiva dos convites é feita por intermédio delas – e a elas se deve creditar a presença de muitos dos grandes nomes que já estiveram em Paraty.
Claro que sempre há interesses em jogo. A editora tende a trabalhar com mais afinco para a vinda de um autor com livro para ser lançado na época da Flip. Mas isso é bom para todo mundo. Os jornais têm “gancho” para tratar do assunto – a presença na Flip já justificaria a pauta, mas um livro novo é garantia de espaço maior. O público tem acesso fácil à obra do autor de seu interesse. E a mesa na Flip também ganha um mote, o que faz sentido para que os autores voltem ao festival. Salman Rushdie, por exemplo, esteve em Paraty em 2005 para lançar Shalimar, o equilibrista. Agora, volta para falar sobre seu livro mais recente, Luka e o fogo da vida. O autor é o mesmo, mas o assunto é outro.
Isso não quer dizer que a Flip deixará de trazer um autor importante apenas porque não há lançamento previsto. A projeção da festa é grande demais para que fique a reboque do calendário das editoras. Em muitos casos, o efeito contrário pode ocorrer: a presença de um autor em Paraty vir antes de sua publicação no país. O exemplo mais imediato é Tom Stoppard, que veio em 2008. É um dos maiores dramaturgos em atividade no mundo. Mas quase nada de sua obra teatral estava publicada em português (teatro, como se sabe, só não é um desastre comercial maior do que poesia). Depois da Flip, algumas de suas peças foram encenadas por companhias importantes e uma editora grande anunciou a publicação de seus trabalhos. Não dá para atribuir o feito apenas à Flip, mas é certo que a presença em Paraty ajudou a inseri-lo na agenda cultural do país.
Há um lado voyeur no trabalho da curadoria. Tentar acesso às grandes figuras da literatura é ouvir sobre sua vida íntima – usada como desculpa para recusa nas respostas mais educadas. Um celebrado autor de origem latina é um desses casos. Em 2008, não pôde vir porque tinha “um importante casamento na Itália”. Convidado para 2010, esse mesmo autor justificou a ausência com um detalhado relato sobre seus cistos na coluna. Uma outra autora residente nos EUA, ainda mais jovem e celebrada que o primeiro, costuma dar respostas menos críveis. Na última delas, alegou que o cachorro estava muito doente e não poderia em hipótese alguma ser abandonado.
Nem sempre estamos diante de desculpas, porém. E a insistência nessas ocasiões pode se transformar numa prova de insensibilidade. Foi o que aconteceu com Tony Judt. O grande historiador britânico havia confirmado presença em 2008. Poucas semanas antes, cancelou. Em 2009 a curadoria voltou à carga: sua presença em Paraty seria sucesso na certa, renderia páginas e páginas nos jornais, daria prestígio, enfim, parecia o caso de insistir. Mais uma vez, a resposta era negativa em razão de doença.
Neste ano, a curadoria estava prestes a mandar novo convite quando um artigo de Judt numa publicação americana expôs seu problema de saúde. Ele padece da mesma doença degenerativa do físico Stephen Hawking. A foto dele em cadeira de rodas, os membros retorcidos e a respirar por ajuda de aparelhos, sintetizava a gravidade da situação.
Há um automatismo na lida com os convites que às vezes atrapalha: é grande o risco de acabar trabalhando apenas para comprovar o prestígio da Flip, expor o quanto a curadoria é “antenada” com o debate internacional, confundir escolha criteriosa com mercantilismo da notoriedade alheia. O caso de Judt é um exemplo claro.
E esse não é traço apenas dos festivais literários. Quem quer que trabalhe com cultura está sujeito ao risco: o nome do autor às vezes parece que se descola do seu trabalho, vira objeto de desejo numa luta por distinção que caminha de mãos dadas com o fetichismo. Daí para o universo das grifes do mundo da moda é um pulo.
Os agentes literários são o maior sintoma dessa lógica. Um escritor mediano que já tenha ganhado prêmio e obtido alguma repercussão crítica é tratado pelo agente como se fosse a Maria Callas (falamos de autores que escrevem em inglês e fazem sucesso nos EUA, naturalmente). A agente de uma autora respeitada, mas nem de perto tão celebrada quanto muitos que já foram à Flip, queria 60 mil dólares e duas passagens de primeira classe para que sua cliente desse as caras em Paraty.
Mas nunca eles foram tão poderosos. Um agente literário com uma lista forte de autores tem as melhores editoras do mundo a sua disposição. Ele não controla só os direitos autorais, mas a qualidade das traduções, as estratégias de marketing, o projeto gráfico. Parte do trabalho dos editores – e dos curadores da Flip – é cultivar boas relações com os agentes mais importantes. E brigar para não acabar preterido num jogo que é cada vez mais impessoal e agressivo. Não por acaso, o agente literário mais poderoso do momento (ele é a cara do John Malkovich) atende pelo singelo apelido de “chacal”.
É preciso miopia para achar que a Flip não mudou a paisagem cultural do país. Sua presidente, a editora inglesa Liz Calder, teve e tem papel decisivo para a inserção internacional fora de série obtida pela festa, além de acompanhar de perto cada passo da programação. A Casa Azul, entidade que organiza a Flip, começou a desenvolver trabalhos sociais e urbanísticos em Paraty muito antes de o evento surgir, preencheu lacunas deixadas pelo poder público e encontrou uma química entre cultura e cidade que explica parte do sucesso da Flip.
Mas o Brasil continua sendo um país de poucos leitores na distante América do Sul. Não há pré-sal, Olimpíadas ou Copa do Mundo que mude essa condição de destino exótico aos olhos de muitos autores. Convidado para a edição de 2008, o crítico George Steiner resumiu bem o problema em sua resposta. A carta vinha batida à máquina, numa folha timbrada da Universidade de Cambridge: “Caro senhor: estou prestes a completar 80 anos e o Brasil está, infelizmente, fora de questão”.
Toda a poesia de Vinicius de Moraes
maio 10, 2010 por Lia VasconcelosEsse é o título da iniciativa da Biblioteca Brasiliana da Universidade de São Paulo, que colocou na internet a poesia completa de Vinicius de Moraes. A biblioteca, feita a partir do acervo doado pelo bibliófilo José Mindlin, está atualmente em processo de total digitalização.
A bola da vez foi o poeta, que viveu entre 1913 e 1980, e foi um dos nomes mais significativos da vida cultural brasileira do século 20. O projeto só foi possível devido à liberação dos direitos autorais pela família de Vinicius de Moraes.
Os 15 livros digitalizados são: “O caminho para a distância” (1933), “Forma e exegese” (1935), “Ariana, a mulher” (1936), “Novos poemas” (1938), “Cinco elegias” (1943), “Poemas, sonetos e baladas” (1946), “Pátria minha” (1949), “Orfeu da conceição” (1956), “Livro de sonetos” (1957), “Receita de mulher” (1957), “Novos poemas II” (1959), “Antologia poética” (1960) (1ª ed. 1954), “O mergulhador” (1968), “A casa” (1975) e “Um signo, uma mulher” (1975).
Vai lá.
Wendy Guerra
maio 8, 2010 por Lia VasconcelosQuer saber mais sobre a escritora cubana que estará na Flip deste ano? Assista a este vídeo em que ela fala sobre Havana, seu processo de escrita e suas influências.
Um zilhão de pessoas
maio 6, 2010 por Lia VasconcelosSeria possível fazer o mundo inteiro ler o mesmo romance? Essa é a ousada e gigantesca meta do projeto “One Book, One Twitter”, inspirado em outro movimento o “One Book, One City”, que fez Edimburgo ler O mundo perdido, de Arthur Conan Doyle, Dublin se entreter com O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, e Brighton se debruçar sobre Espionagem: a Rússia põe o amor a seu serviço!, de Ian Fleming.
Por trás do projeto está Jeff Howe, editor da revista Wired, que explica que “o objetivo do ‘One Book, One Twitter’ é fazer com que um zilhão de pessoas leiam o mesmo livro e o debatam. Não é uma tentativa de juntar um grupo de pessoas que amam livros para ler certos títulos e se encontrar uma determinada hora para discuti-los. (…) Essa ‘Grande Leitura’ é organizada por meio do Twitter e manda às favas as limitações físicas”.
Os internautas votam no livro que querem ler e discutir. O primeiro eleito foi American Gods, de Neil Gaiman, que em seu blog disse que a ideia era ótima e se assemelhava a um clube de leitura mundial. O pontapé oficial do projeto é hoje, mas você pode se juntar a ele quando quiser.
Biblioteca para todos II
maio 3, 2010 por Lia VasconcelosO Ministério da Cultura divulgou uma interessante radiografia das bibliotecas públicas municipais. Por um lado, o resultado do 1º Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais (BPMs) é animador, por outro, indica que há ainda um longo caminho a ser percorrido no que diz respeito ao estímulo e acesso à leitura. A pesquisa mostra que, em 2009, 79% dos municípios brasileiros possuíam ao menos uma biblioteca aberta, o que corresponde a 4.763 bibliotecas em 4.413 municípios. A parte ruim é que em 8% das cidades – número relativamente elevado – elas estão fechadas, extintas ou nunca existiram. São, portanto, 2,67 bibliotecas por 100 mil habitantes no país.
O levantamento aponta ainda que as BPMs emprestam 296 livros por mês e têm acervo entre dois mil e cinco mil volumes (35%). Quase a metade possui computador com acesso à internet (45%), o que é ótima notícia, mas somente 29% oferecem este serviço para o público, o que não é notícia tão boa assim. Em média, as pessoas vão à biblioteca quase duas vezes por semana e usam o espaço e o acervo preferencialmente para pesquisas escolares (65%). Apenas 8% têm na biblioteca uma fonte de lazer.
Outro dado importante é que o acervo da maioria das bibliotecas é constituído por doação (83%). O Nordeste é a região onde as doações são maiores (90%), seguido pelo Sudeste (85%) e Centro-Oeste (84%).
Paraty é um bom exemplo de como a doação de livros é uma ferramenta importante para a formação de um público leitor. A Associação Casa Azul que desde 2003 realiza a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) tem um eixo socioeducativo cuja missão é a formação de leitores críticos e reflexivos – a Flipinha. Durante a Flip, o trabalho permanente desenvolvido na cidade de incentivo à leitura, capacitação de professores e mediadores de leitura, organização de oficinas literárias e artísticas e criação e manutenção de bibliotecas é apresentado. O envolvimento da cidade é surpreendente. Em cinco anos de realização da Flipinha, a participação dos alunos e professores saltou de 30 estudantes e 20 professores para 6 mil alunos e 600 educadores, envolvendo, em 2007, 90% de toda a rede escolar pública de Paraty e arredores.
A Flipinha foi responsável pela criação da primeira biblioteca direcionada ao público infantil e jovem em Paraty. Nos últimos três anos, 12 mil livros foram adquiridos por meio de doações – metade deles compõe o acervo da Biblioteca da Flipinha, localizada na sede da Casa Azul, em Paraty, e os outros seis mil livros foram distribuídos em acervos de 300 itens, instalados em 20 escolas da região. Hoje, já são 33 escolas nas zonas rural e costeira beneficiadas. Em 2009, 7 mil alunos usaram a biblioteca da Flipinha.
Além das bibliotecas direcionadas ao público infantil e jovem, a Casa Azul mantém a Biblioteca da Flip, com um acervo de cerca de 1 mil títulos de autores que já participaram da Festa Literária, e o acervo Carlos Calchi, localizado na Biblioteca Municipal Fábio Vilaboim de Paraty, composto por 900 títulos, também de autores convidados da Flip. Ações como essas ajudam, sem dúvida, a consolidar em Paraty uma cultura do livro literário. Melhor ainda seria se nos outros 5.564 municípios brasileiros fosse assim também.
Duelo de titãs
abril 30, 2010 por Lia VasconcelosDe um lado, a Amazon e seu Kindle. De outro, a Apple e seu iPad. No meio, o leitor ainda meio sem saber o que vai acontecer, mas com a certeza de que quer ter a possibilidade de desfrutar das praticidades abertas pela tecnologia ao mesmo tempo em que vai a uma livraria olhar, pegar e sentir o que quer comprar. Quer virar a página manual e virtualmente. Por causa disso, instaurou-se uma briga de gigantes no mercado editorial norte-americano relatada com riqueza de detalhes pela The New Yorker.
Não é segredo para ninguém que o mercado editorial passa por uma crise. Não só financeira, mas principalmente de identidade. Só para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, entre 2002 e 2008, a venda de livros cresceu somente 1,6% e os lucros despencaram.
Quando Steve Jobs pisou no palco do Yerba Buena Center of Arts, em São Francisco, no dia 27 de janeiro, para apresentar ao mundo o novo aparelho da sua companhia – o iPad – foi visto por muitos como um messias e um mecenas. Apesar de o livro digital ainda abocanhar uma pequena fatia do mercado editorial – entre 3% e 5% -, ninguém parece duvidar do potencial de expansão desse negócio (só em 2009 as vendas cresceram 177%).
Para piorar, na opinião de muitos, o mercado editorial passa por uma crise de identidade, pois não sabe ao certo quem é seu cliente e se faz as perguntas erradas, já que a competição real não seria entre o livro impresso e o digital, mas entre os vários tipos de mídia que disputam o valioso tempo das pessoas. As editoras deveriam repensar o livro como um entretenimento multimídia, senão sofrerão as consequências porque, no fim das contas, no mundo virtual o escritor pode prescindir da editora para publicar seu trabalho. Caberá às editoras, portanto, mostrarem-se e serem imprescindíveis.
Mas o que prometia ser a salvação da lavoura, mostrou-se um verdadeiro pomo da discórdia: Apple e Amazon entraram em rota de colisão. Isso porque a Amazon jogou os preços dos e-books para baixo (US$ 9,99), o que tem causado bastante desconforto entre as editoras. Steve Jobs, com seu iPad, promete aumentar os preços para US$ 14,99. Mas fica a pergunta: por que uma pessoa pagaria mais se pode pagar menos? Jobs garante que os preços serão os mesmos porque o mercado editorial está descontente com a Amazon e pode simplesmente “retirar” seus livros da companhia.
Por enquanto, Jobs figura como o melhor parceiro das editoras, mas o duelo promete render ainda muitos capítulos para essa complexa disputa. No Brasil, essa discussão parece a léguas de distância. Afinal, ainda temos que lidar com problemas bem mais prosaicos como a formação de um público leitor…
Orhan Pamuk e seu museu
abril 28, 2010 por Lia VasconcelosOrhan Pamuk (Flip 2005) cursou arquitetura e jornalismo, mas largou tudo quando, aos 23 anos, percebeu que o queria mesmo era ser escritor. O autor turco, ganhador do prêmio Nobel de Literatura em 2006, lançou no final do ano passado o romance Museum of Innocence, que conta a história do industrial Kemal. O livro foi só o começo. Pamuk quer fazer um museu que dialogue com seu último romance. Nele, estarão objetos que aparecem no livro. Muitas vezes o romance foi escrito a partir de objetos achados por Pamuk. Outras vezes a história ganhava vida própria e Pamuk tinha que ir atrás dos objetos sobre os quais escrevia. Como ele explica neste vídeo, o museu não será uma ilustração do romance, assim como o livro não é uma descrição do que estará no museu. São entidades conectadas, embora separadas. Pamuk, entretanto, alerta que será difícil o museu ser apreciado sem que o visitante tenha lido seu livro.
O texto de Flora
abril 26, 2010 por Flavio MouraFlora Süssekind publicou no último Prosa e Verso um texto importante sobre a crítica literária contemporânea. Importante porque é raro alguém se arriscar a compor painéis no estilo “a situação da crítica literária hoje” sem derrapar feio.
Flora é dessas críticas que passam tempo longo sem publicar, a gente acha que desistiram do riscado, mas de repente deixam claro que estão acompanhando tudo com o olhar agudo de sempre.
Seu texto identifica um ambiente dominado pelo conservadorismo e pela irrelevância da atividade crítica. O mote são as reações à morte do crítico Wilson Martins, em janeiro deste ano.
Flora vê na louvação à obra de Martins um indício da autoimagem dos próprios críticos que o elogiaram. Ela dá nome aos bois: refere-se ao texto de Alcir Pécora na Folha de S. Paulo, ao texto de Miguel Sanches Neto, no jornal curitibano Rascunho, e ao post do jornalista Sérgio Rodrigues, do blog Todoprosa.
Ela vê um tom dominante na elegia: o de que Martins era uma figura independente, livre de grupelhos de amigos, com olhar atento à produção contemporânea (que seria raro em críticos de sua estatura) e coragem para ser polêmico.
Flora aponta nessas reações o desejo de um “retorno autocongratulatório a um passado de glórias, no qual os textos de intervenção podiam ainda provocar controvérsia, e o prestígio das Belas Letras enobrecia igualmente críticos e escritores.”
O diagnóstico não é novo – e com ele todos parecem concordar: se a literatura anda mal das pernas, a crítica perde relevância na mesma proporção. O problema é querer transformar Martins em modelo para a crítica do futuro.
O texto de Flora não diz isso com todas as letras, mesmo porque a morte recente de Martins torna o momento pouco apropriado. Mas é fato que o crítico não fez escola – apesar de professor por toda a vida, não investiu na formação dos alunos a ponto de deixar sucessores à altura.
Também não firmou um método crítico que ganhasse consistência para além do pendor enciclopédico dos compêndios ou das provocações dos textos de jornal.
Flora bate mais na tecla do “conservadorismo”, mas creio que esses pontos são tão ou mais importantes a levar em conta.
Os elogios a Martins revelam mais uma disputa velada entre críticos do que propriamente um reconhecimento de seu legado. É nesse sentido que as reações à morte do crítico podem servir de mote para um diagnóstico da crítica literária contemporânea.
É fácil, por exemplo, ver por trás dos elogios à “independência” de Martins um cutucão nos figurões da crítica que viraram as costas para a produção contemporânea. Ou ainda uma disputa entre grupos universitários, sobretudo no caso do texto de Pécora.
Ficam em suspenso os próximos capítulos. Flora tem um estilo enumerativo que lhe permite condensar quantidade notável de informações e pensamentos num único parágrafo, mas no caminho ficam lacunas que pedem desenvolvimento.
Ao constatar que a literatura contemporânea perdeu o nervo e o contato direto com a realidade, ela se põe a listar as exceções. Na opinião da crítica, entre os pontos luminosos da produção atual estão Carlito Azevedo, Bia Lessa, Rodolfo Caesar e Nuno Ramos. Os motivos disso aparecem lá no fim, num único parágrafo.
Talvez numa próxima investida o papel de cada um venha à tona de modo mais claro. Por enquanto, não convence, não.
Fofocas literárias
abril 23, 2010 por Lia VasconcelosVladimir Nabokov leu Ernest Hemingway quando tinha 40 anos e detestou. Evelyn Waugh achou Marcel Proust muito fraco e o comparou a um deficiente mental. Henry James disse que o entusiasmo por Edgar Allan Poe caracteriza um estágio primitivo de reflexão. Martin Amis (Flip 2004) afirmou que ler Don Quixote, de Miguel de Cervantes, é como receber a visita de um parente idoso cheio de manias e maus hábitos.
No Dia Mundial do Livro pode ser divertido descobrir o que uns autores acham dos outros. No site da Book Examiner, Michelle Kerns publicou um divertido top 50 de ofensas feitas a escritores por outros escritores. Algumas pérolas:
James Gould Cozzens sobre John Steinbeck: “Não consigo ler dez páginas de Steinbeck sem vomitar. Não conseguiria ler essas porcarias proletárias que saíram na década de 30″.
Anatole France sobre Émile Zola: Seu trabalho é nocivo. Ele é um desses seres infelizes de quem se pode dizer que seria melhor nunca ter nascido”.
Tom Wolfe sobre Ernest Hemingway: “As pessoas pensam que a razão pela qual Hemingway é fácil de ler é por que ele é conciso. Não é isso. (…) A razão é que ele se repete o tempo todo, usando “e” como preeenchimento”.
Samuel Butler sobre Goethe: Estou lendo uma tradução de Wilhelm Meister, de Goethe. É bom? Para mim parece ser o pior livro que já li. Nenhum inglês poderia ter escrito esse livro. Não me lembro de uma única página ou boa ideia …. É tudo uma piada? Se o que tenho lido é realmente é Wilhelm Meister, de Goethe, estou contente por nunca ter me dado ao trabalho de aprender alemão”.
Biblioteca para todos
abril 19, 2010 por Lia VasconcelosNa última terça-feira, dia 13, a Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal transformou em lei algo que deveria ser obrigatório há muito tempo: toda instituição de ensino, pública e privada, deverá abrigar uma biblioteca escolar. A estimativa do próprio Senado é que em 10 anos isso se concretize.
Segundo o projeto, considera-se biblioteca escolar a coleção de livros, materiais videográficos e documentos registrados em qualquer suporte destinados a consulta, pesquisa, estudo ou leitura. No que diz respeito ao acervo de livros, deverá haver pelo menos um título para cada aluno matriculado.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), relator do projeto, lembrou que o Brasil tem uma biblioteca pública para cada 33 mil habitantes, enquanto na vizinha Argentina é uma para cada 17 mil habitantes. O senador citou ainda pesquisa promovida pelo Ibope, segundo a qual o brasileiro lê, em média, 4,7 livros por ano – cifra que cai para 1,3 quando se excluem os livros didáticos. Nos Estados Unidos e na França, a média é de 10 livros por ano.
Entre os motivos para o baixo índice de leitura no Brasil, Cristovam mencionou a existência de 10% de adultos analfabetos e o elevado custo dos livros. Citou ainda dados do Ministério da Educação, segundo os quais 68% das escolas públicas do país não dispõem de biblioteca.
Quem sabe essa lei começa a mudar esse triste quadro?
Século 21
abril 16, 2010 por Lia VasconcelosCertamente Allen Lane não poderia imaginar isso quando fundou, em 1935, a editora britânica Penguin Books com a intenção de fornecer literatura de qualidade a preços tão baixos quanto, na época, um maço de cigarros. Foi, sem dúvida, uma verdadeira revolução na publicação de livros em brochura. Além de baratos, acessíveis. Lane queria que os livros da Penguin não só fossem vendidos em livrarias, mas que pudessem ser encontrados em todos tipos de loja. Hoje, a editora é um verdadeiro clássico.
Em pleno século 21, outra revolução está em curso. Ninguém ainda sabe ao certo o impacto que o livro digital terá no mercado editorial, muito menos se a ferramenta será apropriada e apreciada pelo público leitor como o bom e velho livro. Fato é que este vídeo mostra aplicativos muito bacanas possibilitados pela tecnologia. O que se perde em cheiro e textura, ganha-se em interatividade. O que você prefere?
Talk show literário
abril 14, 2010 por Lia VasconcelosNão é mais só Paraty que será conhecida por suas belas praias e por sua inclinação literária. Sempre na segunda terça-feira de cada mês a partir das 19h, professores universitários, escritores e jornalistas subirão ao palco do Teatro Hermilo Borba Filho, no bairro do Recife Antigo, em Recife, para debater temas relacionados à crítica literária.
O primeiro encontro aconteceu ontem, dia 13/04, e o debate girou em torno da suposta morte da crítica na imprensa anunciada por alguns, o pouco alcance que a crítica praticada na academia tem e a democratização propiciada pela internet já que o próprio leitor pode exercer o papel de crítico daquilo que lê.
Com várias edições previstas entre abril e setembro, a ideia é fazer “um talk show sobre crítica, com um ar jovem, mas sem perder a seriedade nas discussões”, explicou o escritor, professor e produtor Wellington de Melo, um dos curadores do projeto, chamado Laboratório – Literatura & Crítica, em entrevista ao Portal Literal.
O primeiro talk show colocou lado a lado o repórter de cultura do Jornal do commercio Schneider Capergianni e o professor do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Anco Márcio Tenório para responder à pergunta “Crítica: para quê?”. O apresentador do talk show é o escritor, editor e crítico literário Cristhiano Aguiar, segundo nome da curadoria, que conta ainda com o também escritor e crítico literário Bruno Piffardini e o jornalista Cristiano Ramos.
Os objetivos são criar um espaço no estado de Pernambuco para o exercício da crítica literária e da discussão em torno a obras literárias em construção de autores contemporâneos, promover a formação de leitores das obras contemporâneas produzidas no estado de Pernambuco e fortalecer o diálogo entre os diversos componentes da cadeia produtiva do livro e espaços legitimadores da obra literária.
Não perca os próximos. Os encontros serão transmitidos ao vivo via Twitter e depois lançados em vídeo no site oficial.
Enfants terribles
abril 12, 2010 por Lia VasconcelosO biólogo Richard Dawkins (Flip 2009) e o jornalista Christopher Hitchens (Flip 2006) estão preparando uma emboscada legal para prender o papa Bento XVI por “crimes contra a humanidade” quando ele estiver de passagem pela Inglaterra entre os dias 16 e 19 de setembro.
A dupla de ateus pediu que advogados da área de direitos humanos montem uma ação acusando o papa por ele, supostamente, ter encoberto escândalos sexuais na Igreja Católica quando era cardeal.
Tudo começou quando o jornal norte-americano The New York Times obteve documentos que revelavam que o bispo alemão Joseph Ratzinger teria encoberto um sacerdote americano que abusou de aproximadamente 200 meninos surdos. A correspondência interna de bispos do estado americano de Wisconsin diretamente ao cardeal Ratzinger, que se tornaria papa em abril de 2005, mostra que os responsáveis eclesiásticos até discutiram a expulsão do padre, mas a prioridade maior foi proteger a Igreja do escândalo.
Dawkins e Hitchens acreditam que podem alegar o mesmo princípio legal usado para prender o ex-ditador chileno Augusto Pinochet quando ele visitou a Inglaterra em 1998, sob a acusação de ser assassino e torturador. Pinochet foi enquadrado em uma ação movida por um promotor espanhol com base na legislação internacional que pune o genocídio, a mesma que permite processar criminosos de guerra.
Os enfants terribles ingleses acreditam que o papa não poderia se safar pedindo imunidade diplomática porque, apesar de a viagem ser uma visita de Estado, Bento XVI não é um chefe de Estado reconhecido pela ONU.
O que será que Terry Eagleton pensa dessa providência do “Ditchkins”?
Verão
abril 9, 2010 por Lia VasconcelosDepois de Infância e Juventude, o escritor sul-africano J. M. Coetzee (Flip 2007) concluiu sua trilogia autobiográfica – Cenas da vida na província – com a obra Verão, em que seu alter-ego, o autor John Coetzee, está morto. No relato, o pesquisador inglês Vincent, interessado na vida de Coetzee, recorre aos cadernos do autor e entrevistas com pessoas que o conheceram para escrever sua biografia.
Vincent concentra-se nos anos 1970, período anterior ao reconhecimento literário do jovem Coetzee, então com trinta anos. Vivia-se a plena vigência do apartheid e Coetzee retornava de uma temporada nos Estados Unidos. Ele tem de se readaptar a um país em estado social convulsivo, ao convívio com a família tradicional, de ascendência africânder, e às desconfianças com relação ao seu comportamento excêntrico.
Veja o Prêmio Nobel de Literatura de 2003 e duas vezes ganhador do Booker Prize lendo um trecho do seu último livro:
Literatura para os ouvidos
abril 8, 2010 por Lia Vasconcelos350 livros gravados, de cerca de 280 autores brasileiros. Entre eles Manuel Bandeira, Jorge Amado, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Ziraldo, Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Antonio Calado e Rachel de Queiroz. O projeto Livro Falado tem como objetivo principal incluir os deficientes visuais proporcionando acesso ao livro. Oferece também oficinas de capacitação ao “ledor”, que pode ser tanto aquele que lê quanto aquele que grava livros para cegos. A ideia não é fazer uma dramatização do texto, mas é preciso que a pessoa conheça o estilo do autor que vai ler e gravar.
Para acessar os livros gravados, basta entrar no site, que pretende ainda ser uma rede solidária entre os “ledores” e as pessoas com deficiência visual não só do Brasil, mas também de Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Para obter a gravação de um livro específico é preciso enviar e-mail para livrofalado@livrofalado.pro.br . A remessa é gratuita.
Para onde caminha o mercado editorial, afinal?
março 31, 2010 por Equipe de comunicação da FLIP
Em meio a tantas opiniões pipocando sobre o livro digital, muitas perguntas ficam sem resposta – seja por total desconhecimento do que vem pela frente, seja pelo medo que esta nova ferramenta causa no mercado editorial.
Para ajudar a entender os rumos do setor e propor novas discussões, a Câmara Brasileira do Livro (CLB) organizou o 1º Congresso Internacional do Livro Digital, que acontece durante o 36º Encontro de Editores e Livreiros, em São Paulo.
Direcionado inicialmente a formadores de opinião e profissionais influentes, o Congresso contou com o dobro do número de inscritos que teria um evento tradicional do setor. As conferências e workshops abordaram desde o papel das mídias convergentes e o conteúdo móvel até os hábitos do consumidor de conteúdo digital.
O encontro começou nesta segunda-feira com a aguardada palestra de abertura de Juergen Boss, diretor da Feira do Livro de Frankfurt. Entre outros assuntos, ele destacou a importância da seleção do conteúdo e a necessidade de ousar no mundo digital. Patricia Arancibia, da Barnes & Nobles, Michael Smith, diretor executivo da International Digital Publishing Forum, Rosely Boschini, presidente da CBL e Sergio Valente, presidente da DM9DBB, marcaram presença nos outros dias de conferência.
O 1º Congresso Internacional do Livro Digital acaba hoje, mas a discussão em torno do livro digital está só começando…
Para acompanhar todo o evento e sua repercussão, acesse o blog http://congressodolivrodigital.blogspot.com ou siga @CLivroDigital no Twitter.
Caça-talentos
março 29, 2010 por Lia VasconcelosA iniciativa é boa, resta saber se, uma vez aprovada, a lei vai pegar. Tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que institui concursos regionais em todo país para a descoberta de novos escritores.
Esses concursos passariam a ser uma das atribuições do Poder Executivo para a difusão do livro dentro da Política Nacional do Livro. O projeto do deputado Marcelo Almeida (PMDB-PR) recebeu parecer favorável do deputado Pedro Wilson (PT-GO), na Comissão de Educação e Cultura, e segue para análise da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, com trâmite conclusivo nas comissões da Câmara dos Deputados.
O que você está lendo agora?
março 26, 2010 por Lia VasconcelosBlogs, Facebook, Twitter. As redes sociais virtuais conquistam cada vez mais gente e espaço. No Facebook, a proposta é clara: escrever sobre o que você está pensando agora. No Twitter, o usuário tem 140 caracteres para contar o que está acontecendo na sua vida naquele momento. No embalo das redes sociais, um outro movimento tem ganhado força: as redes virtuais literárias. Tem pipocado aqui e ali sites para saber o que você está lendo, o que já leu e o que ainda vai ler. Esse é o intuito do Skoob, que já tem 150 mil cadastrados. No O Livreiro dá para compartilhar interesses literários nas diferentes comunidades e montar uma estante virtual. O Shelfari é a versão gringa do Skoob.
Embora com objetivos um pouco diferentes, entram também nessa lista o Authonomy e o Inkpop, ambos da editora norte-americana HarperCollins. O primeiro é definido como uma “meritocracia que visa acabar com a pilha de originais não lidos” sobre a mesa de editores. Nele, o candidato a escritor disponibiliza textos para download, outros usuários leem, comentam e votam. No fim do mês, as cinco histórias mais bem colocadas são “avaliadas para publicação”. O Inkpop, filhote do Authonomy, caça talentos adolescentes. Acesse e encontre sua turma.
McEwan solar
março 24, 2010 por Lia VasconcelosO que aquecimento global tem a ver com literatura? Para Ian McEwan (Flip 2004), tudo. A ideia do seu último livro, Solar, lançado em março deste ano e ainda sem tradução para o português, surgiu em uma viagem ao Ártico, em 2005, embora o escritor afirme que pensava em escrever sobre o assunto desde o começo da década de 90, quando os filhos, ainda na escola primária, fizeram um trabalho sobre gases de efeito estufa. Não é a primeira vez que McEwan transforma preocupações contemporâneas em ficção. Em Sábado, o autor discute a violência urbana e a era do medo pós-11 de setembro.
Neste vídeo, o autor conta mais detalhes sobre seu novo livro, que ele mesmo define como uma comédia, e fala sobre mudanças climáticas. Vale a pena conferir.
Vozes do mundo
março 22, 2010 por Lia Vasconcelos150 escritores de 40 países em mais de 50 eventos. Se você der a sorte de estar nos Estados Unidos entre os dias 26 de abril e 02 de maio pode tentar comprar um ingresso para participar do PEN World Voices Festival of International Literature, que acontece pelo sexto ano consecutivo. O festival acontecerá em Nova York, São Francisco e Washington e terá debates, performances e palestras sobre os mais variados temas, entre os quais o aquecimento global, o futuro da leitura (blogs, twitter e kindle estarão no centro do debate) e o que se perde quando se transpõe literatura para as telas de cinema.
A abertura oficial será celebrada com escritores de várias partes do mundo – Paquistão, Hungria, China, Reino Unido, Itália, Finlândia, Afeganistão, Índia, México, Estados Unidos, Polônia e Filipinas – que farão leituras em suas próprias línguas. Salman Rushdie, que participa da Flip 2010, será uma das estrelas da noite, que contará ainda com Mohsin Hamid, László Krasznahorkai, Andrea Levy, Yiyun Li, Daniele Mastrogiacomo, Sofi Oksanen, Atiq Rahimi (Flip 2009), Alberto Ruy-Sanchez, Patti Smith, Andrzej Stasiuk e Miguel Syjuco.
Mania de quê?
março 19, 2010 por Lia Vasconcelos“Só consigo escrever prosa de ficção de manhã. Das seis às oito e meia, no máximo. É nesse horário que minha cabeça funciona melhor, que eu consigo me concentrar mais. Ou me defender menos. Porque tenho a impressão de que às seis horas — isto é, mal-saído do sono —, sentado de frente pro laptop, já tendo tomado uma caneca de café sem açúcar e comido uma ou duas fatias de pão com manteiga, há pouca resistência entre o meu cérebro, minhas mãos e o teclado”, diz Fabrício Corsaletti (Flip 2007).
Já Cintia Moscovich (Flip 2008) não escreve com nenhuma peça de roupa que a aperte, nem com barulho. Além disso, afirma ela, “sempre tenho um copo de água à mão. Quando sinto os olhos cansados, paro de escrever e tomo café. Quando a coisa fica preta, que nada me sai, faço uma dobradinha poderosa, café e chocolate”.
Michel Laub, antigo editor-chefe e diretor de redação da revista Bravo e atual coordenador da área de internet do Instituto Moreira Salles, está publicando em seu blog as respostas de cem escritores brasileiros sobre suas manias, hábitos e superstições na hora de escrever. Divirta-se mais aqui.
Azar Nafisi
março 17, 2010 por Lia VasconcelosFoi confirmada a primeira escritora da Flip 2010: a iraniana Azar Nafisi, autora de Lendo Lolita em Teerã. Traduzido para 32 línguas, o livro, que descreve as experiências de uma mulher secular que vive e trabalha na República Islâmica do Irã, ficou por 117 semanas na lista de bestsellers do The New York Times e rendeu a Nafisi alguns prêmios – o de livro do ano de não-ficção do Booksense e o Frederic W. Ness, entre outros, além de ter sido finalista do prêmio para memórias PEN/Martha Albrand, de 2004.
Nafisi foi embora do Irã com 13 anos para estudar na Inglaterra e nos EUA. Voltou ao país natal em 1979, após a Revolução Iraniana, e lá ficou por 18 anos. Durante esse tempo, ensinou literatura na Universidade de Teerã (de onde foi expulsa em 1981 por se recusar a usar véu tendo retomado suas aulas somente em 1987), na Universidade Livre Islâmica e na Universidade Allameh Tabatai.
Atualmente, é professora visitante de ética, cultura e literatura do Foreign Policy Institute, da Universidade norte-americana de Johns Hopkins. Em seu livro mais recente, O que eu não contei, lançado este ano no Brasil, a autora investiga as ligações entre o passado de sua família e a conturbada história do Irã.
Sua atuação não se restringe ao universo literário. Nafisi tem dado muitas palestras e escrito sobre as implicações políticas da cultura e da literatura, bem como sobre os direitos humanos de mulheres e meninas iranianas e o importante papel que desempenham no processo de mudança do Irã para se tornar um país plural e aberto.
Salman Rushdie fala sobre o trabalho de escrever
março 15, 2010 por Lia VasconcelosNesta entrevista, o escritor indiano, que pela segunda vez marca presença na Flip (2010 e 2005), comenta o ofício de escrever. O vídeo não é recente, mas é bastante interessante descobrir como é o processo de trabalho de Rushdie, que fala sobre como ter disciplina e ser disciplinado são aspectos fundamentais para que um romance saia do mundo das ideias. O autor compara o trabalho de escrever um livro a uma maratona. Vale a pena ainda conferir as continuações.
Terry Eagleton
março 12, 2010 por Lia VasconcelosO mordaz crítico cultural materialista Terry Eagleton, que já publicou mais de uma dezena de livros e inúmeras resenhas e artigos, é mais um nome confirmado para a Flip 2010. O escritor britânico transita entre a crítica e a criação literária e é também autor de ficção e obras teatrais. Sua obra de maior destaque é Teoria da Literatura: uma introdução, que traça a história do estudo de textos contemporâneos, desde os românticos do século 19 até os autores pós-modernos.
Polêmico, tem entrado em confronto com Richard Dawkins (Flip 2009) e Christopher Hitchens (Flip 2006), que ironicamente junta sob o jocoso apelido de “Ditchkins”. A pendenga gira em torno dos conceitos de fé e religião. Como resposta, Eagleton publicou Reason, Faith, and Revolution: Reflections on the God Debate, reunindo uma série de aulas ministradas na Universidade de Yale, em 2008. Em linhas gerais, Eagleton põe em xeque o racionalismo defendido por “Ditchkins”, propondo uma reflexão de cunho materialista acerca dos conceitos de razão, fé e revolução. É sobre esse assunto que o escritor falará na Flip 2010.
Abraham B. Yehoshua
março 10, 2010 por Lia Vasconcelos
Yehoshua começou sua carreira como escritor logo depois de completar o serviço militar obrigatório em Israel. Seu primeiro livro, The Death of the Old Man, foi publicado em 1962, quando ele tinha apenas 26 anos. Em um artigo para o jornal norte-americano The New York Times, o autor elencou suas principais influências literárias: Franz Kafka, Shmuel Yosef Agnon e William Faulkner.
O escritor israelense também é bastante conhecido por suas posições políticas. Ele é um ardente e incansável ativista do movimento pacifista de Israel. É crítico da ocupação israelense, mas também dos palestinos.
William Boyd
março 8, 2010 por Lia VasconcelosEm 2007, ele foi convidado, mas não pôde vir. Para a Flip 2010, o autor nascido em Gana está confirmadíssimo. Boyd é um homem multifacetado que defende, chuta a gol e cobra escanteio. Ele já foi crítico de televisão, professor de literatura inglesa na prestigiada Universidade de Oxford e escreveu diversos roteiros de cinema, entre eles o do filme A Trincheira, de 1999, do qual foi também diretor.
Boyd ainda adaptou dois romances do autor britânico Evelyn Waugh (Furo e A Espada e a Honra) para a televisão. Não satisfeito, adaptou também seu próprio romance, Armadilho, para uma série de três partes que foi ao ar, em 2001, pelo canal britânico BBC. E tem três filmes no currículo: um sobre Shakespeare e seus sonetos e dois sobre a vida nos colégios internos ingleses.
Foram seus livros, entretanto, que lhe renderam reconhecimento. Seu primeiro romance, A good man in Africa (1981), lhe garantiu dois prêmios, o Withbread e o Somerset Maugham. Em 1983, Boyd tornou-se membro da Sociedade Real de Literatura Inglesa. Ao todo, o escritor já publicou 10 romances, 3 coletâneas de contos e uma coletânea de textos de não-ficção. Seu mais recente romance, Ordinary Thunderstorms, foi publicado no final de 2009 e narra a experiência de um jovem que, sem explicação, perde tudo o que tem na vida.
A pérola do senador Demóstenes
março 5, 2010 por Flavio Moura“Fala-se que a miscigenação deu-se pelo estupro. Gilberto Freyre, hoje renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual e que isso levou o Brasil a ter hoje essa magnífica configuração social”.
A frase acima, da lavra do senador Demóstenes Torres (DEM-GO), foi proferida nesta quarta-feira, em audiência pública do Supremo Tribunal Federal sobre cotas raciais. É uma demonstração bastante clara de como ainda há muito a discutir sobre a obra de Gilberto Freyre – o homenageado da edição de 2010.
A pérola do senador é uma apropriação tosca do pensamento de Freyre que pelo visto ainda encontra eco nas hostes conservadoras do país. Uma coisa é discutir a questão de fato encruada das cotas raciais na universidade. Outra é sugerir que não havia opressão nas relações sexuais entre colonizadores e negros descritas por Freyre.
É uma leitura que ecoa a polarização política dos anos 1970, quando Freyre era estigmatizado pela esquerda por ter apoiado o regime militar. Já faz muito tempo que isso deixou de ser um ponto central nos estudos sobre a obra dele.
Mas a afirmação do senador reforça essa dicotomia: ela leva água ao moinho da esquerda mais relutante em aceitar a importância do pensamento do autor pernambucano.
É um expediente clássico dos congressistas a citação de autores clássicos como Freyre – e em 99% das vezes, as alusões são verniz retórico a reforçar as veleidades beletristas da vida parlamentar. Justamente por isso, tendem a ser vazias e inócuas.
Não foi o caso desta afirmação do senador Demóstenes. Seria ótimo se ele pudesse assistir a algumas das mesas sobre Freyre planejadas para Paraty.
Tudo que é sólido desmancha no ar?
março 3, 2010 por Lia VasconcelosJason Epstein, o editor que lançou o formato do livro em brochura, em 1952, anos mais tarde fundou a The New York Review of Books e que, em 2007, criou a On Demand Books, faz uma reflexão interessante acerca do futuro do mercado editorial frente à crescente expansão da digitalização dos livros.
Segundo ele, a grande revolução está na transformação pela qual o mercado editorial está passando. Se antes pensávamos em grandes armazéns abarrotados de livros, hoje os livros estão em arquivos digitais que circulam no ciberespaço de um lado para outro e podem ser enviados para qualquer canto do mundo como se fossem um email. De forma barata e rápida. Essa mudança traz diversos desdobramentos. A digitalização deve, segundo ele, abrir caminho para uma inédita diversidade de conteúdo em idiomas diferentes. Por outro lado, especial atenção terá que ser dada à questão do compartilhamento de arquivos, do copyright.
Há ainda uma dimensão moral nisso tudo para a qual devemos ficar atentos. Segundo ele, se o mercado editorial permitiu a ampla distribuição de Montaigne, Shakespeare e Cervantes, também nos brindou com O protocolo dos sábios de Sião e Minha luta, de Hitler. Para Epstein, temos que encarar que somos uma espécie problemática com longo histórico de auto-destruição e, nesse cenário, “a digitalização irá amplificar tanto o que há de melhor em nossa natureza quanto o que há de diabólico. A censura não é a resposta para esses males”. Sempre muito ponderado, o editor vê a digitalização como uma ferramenta extremamente poderosa, mas frágil.
“A gente passa, os livros ficam”
março 1, 2010 por Lia VasconcelosAos 95 anos, morreu ontem José Mindlin, um dos mais importantes bibliófilos brasileiros. O empresário que ergueu a maior biblioteca privada do país estava internado desde janeiro deste ano. Seu acervo de 38 mil obras começou a ser constituído em 1927 e inclui preciosidades como a primeira edição ilustrada do poeta italiano Franceso Petrarca, de 1488, e as primeiras versões anotadas de Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. Uma parte desse acervo – 17 mil títulos, ou 40 mil volumes – será abrigada na biblioteca Brasiliana, projeto acadêmico da Universidade de São Paulo (USP) que reunirá a maior coleção de livros e documentos sobre o Brasil, em um edifício de 20 mil metros quadrados na Cidade Universitária. Veja uma bonita homenagem aqui.
Roupa suja
fevereiro 26, 2010 por Lia VasconcelosOs personagens: Martin Amis (Flip 2004), a jornalista aposentada Anna Ford, o jornalista e escritor Christopher Hitchens, e o falecido escritor Mark Boxer.
A trama: Anna Ford acusa Martin Amis de ter fumado no leito de morte do seu então marido, Mark Boxer, em 1988. A viúva também reclama de o escritor inglês ter feito uma visita tão longa que deixou seu marido completamente exausto. E ainda torna pública sua mágoa por Amis ser, nas palavras dela, um péssimo padrinho para a filha do casal, Claire.
Ato 1: Tudo começou com um artigo de Amis no jornal inglês The Guardian no dia 13 de fevereiro deste ano em que ele comenta a sua nem sempre harmônica relação com a imprensa.
Ato 2: Anna Ford escreve uma carta no dia 20 do mesmo mês acusando Amis de ter fumado cigarro no leito de morte do seu marido, de ter feito uma visita longa demais deixando Boxer exausto (diz Ford que Amis estava matando tempo antes de pegar um vôo) e ainda de ser um péssimo padrinho para Claire, sua filha com Boxer.
Ato 3: Dois dias depois, Amis responde reconhecendo que ele, de fato, era um padrinho bastante relapso, mas nega as outras acusações.
Ato 4: Hitchens, que acompanhava Amis na visita nos idos de 1988, entra no meio da intriga para apoiar Amis.
Ato final (por enquanto): Ford volta a escrever e admite que quem fumou o cigarro, na verdade, foi Hitchens. Mas não se faz de rogada e faz uma última acusação: depois da morte de Boxer, os amigos Amis e Hitchens em nada ajudaram a família.
A novela promete render mais episódios. Para acompanhar o divertido embate com riqueza de detalhes desde o começo, acesse o seguinte link.
É dada a largada
janeiro 27, 2010 por Ana Carolina ArantesO irlandês Colum McCann é o primeiro nome confirmado para a Flip deste ano. Autor de dois livros de contos e seis romances, como Zoli, Dancer e The Slide of Brightness, McCann foi traduzido para mais de 30 línguas e teve seus textos publicados em revistas como New Yorker, New York Times Magazine e Paris Review. Começou a carreira como jornalista do Irish Press e já contribuiu com Guardian, The Independent, La Republicca, Paris Match e The New York Times, entre outros.
Seu último livro, Let the Great World Spin, considerado pela revista Esquire “o primeiro grande romance sobre 11 de setembro”, parte da famosa travessia do equilibrista francês Philippe Petit entre as torres do World Trade Center de Nova York, em 1974, para narrar histórias fictícias de anônimos que o observavam no momento. (Neste vídeo, da Amazon, o autor comenta o processo de criação e a inspiração para o romance). O livro garantiu a McCann a vitória do National Book Awards e figurou nas inúmeras listas de melhores de 2009. Sob o título Deixe o grande mundo girar, sairá no Brasil pela Record ainda no primeiro semestre deste ano.
Judt, doença e autocrítica
janeiro 12, 2010 por Flavio MouraEm dezembro de 2007, num restaurante no bairro do Flamengo, uma conversa entre a curadoria da Flip e a editora Objetiva firmou a intenção de convidar o historiador Tony Judt para a Flip. Seu livro Pós-guerra estava para sair nos meses seguintes e a presença do autor em Paraty seria uma boa maneira de apresentar ao público brasileiro um historiador ainda pouco lido por aqui.
Pouco antes da Flip, em junho de 2008, ele escreveu para dizer que não viria mais. Alegava problemas familiares e necessidades de viagem. Tinha toda pinta de desculpa esfarrapada. A curadoria insistiu, inconformada com a baixa de um convidado importante daquela edição da Festa.
Para o evento de 2009, um novo convite foi enviado. Ele mesmo respondeu, cordato, mas dizia que os problemas de saúde continuavam e que ele não podia aceitar. Como muitos que preferem não expor a causa efetiva da recusa dizem o mesmo, a curadoria continuou sem acreditar na história.
Em outubro, um anúncio em diversas publicações americanas de que ele faria uma conferência na Universidade de Nova York parecia comprovar a tese: se faria uma aparição pública dessa magnitude, então não estava tão mal assim, era tudo desculpa.
Mais uma vez a Flip se preparava para insistir no convite. A presença de um historiador dessa importância seria sucesso na certa: páginas e páginas na imprensa, uma conferência memorável sobre o jogo político contemporâneo, mais um “nome de peso” para a galeria dos notáveis de Paraty.
Há um automatismo na lida com os convites que às vezes atrapalha: é grande o risco de acabar trabalhando apenas para comprovar o prestígio da Flip, expor o quanto a curadoria é “antenada” com o debate internacional, confundir escolha criteriosa com mercantilismo da notoriedade alheia.
E esse não é traço apenas dos festivais literários. Editoras de livro, cadernos de jornal, gravadoras, galerias de arte, quem quer que trabalhe com cultura está sujeito ao risco: o nome do autor às vezes parece que se descola do seu trabalho, vira um objeto de desejo numa luta por distinção que pode descambar para o fetichismo. Daí para a lógica das grifes do mundo da moda é um pulo.
Por tudo isso me pareceu tão forte o texto de Judt publicado na Folha de S. Paulo neste domingo. O autor sofre de uma doença degenerativa gravíssima. Está paralisado do pescoço para baixo, respira por aparelhos, depende de ajuda para realizar as atividades mais básicas.
O texto divide com os leitores os detalhes de seu sofrimento de maneira impiedosa. Ao lado, uma foto sua na tal conferência na Universidade de Nova York, em que já aparece em cadeira de rodas e respirando com auxílio de máquinas. O diagnóstico veio justamente em 2008, época em que desistiu de vir ao Brasil.
A descrição de Judt, feita mais de secura e resignação que de autopiedade, é forte e transforma a insistência da Flip numa atitude que pede esta autocrítica. Ela restitui as disputas por prestígio à dimensão que efetivamente possuem.
Claro que as regras do jogo existem e devem ser respeitadas: na Flip como em qualquer instituição cultural, o perfil ideal de participante alia qualidade do trabalho, respeitabilidade crítica e notoriedade. É nisso que a curadoria centra foco e não me parece errado que seja assim.
Mas quando a vida é quem apresenta a conta, a hora é boa para repensar os critérios e lembrar quais os valores que de fato importam.
Round 2
janeiro 8, 2010 por Ana Carolina ArantesA rivalidade entre António Lobo Antunes e José Saramago foi assunto retomado por matéria na última Bravo! após povoar jornais, blogs e conversas sobre literatura no Brasil de forma intensa, principalmente no período da Flip 2009, quando Lobo Antunes protagonizou uma das mesas mais elogiadas da Flip. A preferência brasileira por Saramago – influenciada de certa forma por sua maior representatividade no mercado editorial brasileiro – foi comentada em diversas das matérias escritas a propósito da visita de seu oponente ao Brasil. Repetida a exaustão, a alcunha de “maior escritor de língua portuguesa após Eça de Queiroz”, atribuída a Lobo Antunes, causou surpresa a muitos, já que se tratava de um autor relativamente desconhecido no país. Apesar de contar episódios divertidos do aspecto pessoal da rixa – entre cavalheiros que, sim, se estranham, mas nunca perdem a classe -, a revista focaliza o embate literário e pede aos críticos José Castello e Paulo Polzonoff Jr. que defendam suas predileções. O balanço pode ser lido na íntegra, na versão on-line da matéria.
Farpas aos quatro cantos
janeiro 6, 2010 por Ana Carolina ArantesO escritor e jornalista inglês Will Self (Flip 2007) lançou recentemente Psycho Too, uma reunião de ensaios escritos a partir de viagens do autor a lugares inusitados, provincianos ou simplesmente propensos a atrair sua costumeira e mordaz ironia, caso dos Emirados Árabes – “Acredito que, se você compra uma casa numa península artificial de 25 quilômetros quadrados em forma de palmeira, sentirá a ira de Deus em sua direção”. Uma cabana de um ermitão em Suffolk, na Inglaterra, e o estado da Baviera, na Alemanha, são outros destinos que rendem observações ácidas de Self. Fundamentais às narrativas de Psycho Too, as ilustrações ficaram a cargo de Halph Steadman, conhecido pela longa parceria com o também provocativo Hunter Thompson, criador do chamado jornalismo gonzo. No Brasil, Self possui publicados os romances Os grandes símios (1997), Como vivem os mortos (2000) e O livro de Dave (2007).
Um voto para o “Pornopopéia”
dezembro 18, 2009 por Flavio MouraUm post recente aqui no blog perguntava sobre os melhores livros brasileiros de 2009. É pergunta que não arrisco responder. Porque qualquer resposta daria a entender que por trás há leitura suficiente para isso, o que está longe da verdade.
E aí o que resta é a estratégia de sempre: guiar-se pelos prêmios literários, pelas resenhas de jornal, pelas opiniões daqueles a quem nos interessa agradar, pelas apostas seguras nos autores já devidamente cobertos de prestígio e atenção. Mas também não dá pra confiar muito em quem faz uma “lista de melhores” com base nesses critérios.
Apesar de tudo isso, só queria insistir num ponto: me parece justo que qualquer seleção dos melhores de 2009 inclua o Pornopopéia, de Reinaldo Moraes. O livro não ganhou prêmio importante nem foi para a lista dos mais vendidos, mas seus fãs já ultrapassaram há muito os muros da mercearia São Pedro — o bar paulistano que está para Reinaldo Moraes como a Praça Roosevelt para Mário Bortolotto.
Imagino que muitos tenham desistido da leitura por causa do tamanho. Ou por achar que ali está o mesmo ego desgovernado de outros autores associados ao universo “underground”. Ou ainda por acreditar que se trata de um novo Tanto faz, o romance de Reinaldo do começo dos anos 1980 que narra suas estripulias em Paris.
O livro é bem mais que isso, como mostrou esse texto do crítico Alcir Pécora na Folha de S. Paulo (conteúdo restrito). Nos quesitos ambição, refinamento do estilo e humor, estou para ver algum que seja páreo entre os lançamentos de 2009. Fica então o lembrete aos que se arriscam a montar listas dos melhores do ano.
Homenagear Freyre
dezembro 15, 2009 por Flavio MouraJustificar a homenagem da FLIP é sempre um malabarismo retórico. No fundo ela não precisa de explicação, já que o filme costuma ser muito parecido: em todos os casos, está em jogo a celebração da obra de um autor canônico da tradição brasileira.
Claro que o alcance crítico é limitado. Como são nomes de grande porte, a quantidade de seminários e colóquios já realizados a respeito deles, a riqueza da fortuna crítica, o conjunto, enfim, do que já se disse a respeito está bem acima do que se pode fazer num evento para grande público como a FLIP.
Por isso não tem como não soar artificial sempre que a curadoria fala em “redimensionar” a figura do homenageado, ou ainda em “resgatar” a importância da obra ou qualquer platitude semelhante.
Importa mesmo o fato de que num país como o Brasil, sempre que há ocasião para falar de autor importante – e a FLIP é uma excelente ocasião –, alguma contribuição terá sido dada.
Alguns critérios são respeitados para a escolha do nome. Neste ano, mais que uma efeméride ou movimento editorial importante, o que motivou a decisão foi o momento particular que vive o Brasil. Pareceu à curadoria que era preciso escolher escritor que tivesse feito da reflexão sobre o país a razão de ser da sua obra. Nesse contexto, há poucos como Gilberto Freyre.
A idéia é trazer para o primeiro plano o debate sobre os rumos do Brasil. A tentativa de fixar uma “identidade brasileira”, a volta do ufanismo nesses últimos anos de era Lula, as aspirações de protagonismo do país no cenário internacional, todos esses temas me parecem dignos de discussão no âmbito dessa homenagem.
Já faz algum tempo, desde o centenário de Gilberto Freyre, em 2000, que trabalhos de relevo vêm sendo publicados sobre o autor e que o debate em torno da obra está aceso. A homenagem da FLIP é mais uma ação nesse cenário bem mais amplo de recuperação e reavaliação de seu legado.
Pode haver antipatia por causa das posições políticas que Freyre assumiu nos anos 1960 e 1970. Vale também perguntar se o elogio que ele faz da sociedade patriarcal combina com o que se deve esperar de um pensador progressista. As críticas procedem e as fragilidades são muito evidentes para não ser debatidas.
Mas o mais importante de sua contribuição não está em xeque. A mestiçagem vista como vantagem, e não defeito, a ênfase sobre a cultura em detrimento da raça, a inovação ao abordar temas da vida cotidiana e íntima (antecipando procedimentos que a história viria a privilegiar nas décadas seguintes), as virtudes inegáveis de prosador, tudo isso está consolidado acima dessas resistências.
Que seja figura controversa é traço que só acrescenta interesse à homenagem.
Keep writing
dezembro 10, 2009 por Ana Carolina ArantesJunot Díaz escreveu na revista de Oprah Winfrey sobre os cinco anos em que viveu o temido bloqueio criativo e como, justamente a partir dessa fase, teve a certeza de ser um escritor. O texto é tragicômico e tem passagens dignas de folhetim, condizentes com o desespero de Díaz no período: “Era como se, de alguma forma, eu tivesse entrado em um mundo paralelo da não-escrita e não conseguisse achar a saída. Como se estivesse acorrentado ao navio afundado daquelas 75 páginas e não houvesse solução ou remendo para o buraco no casco”, dramatiza o autor. Mas os anos de limbo lhe trouxeram recompensa – Díaz, que é professor de escrita criativa no MIT, foi apontado pela New Yorker como um dos 20 principais escritores do século 21, e A fantástica vida breve de Oscar Wao (primeiro romance do escritor, concluído após a crise) foi o vencedor do Pulitzer de ficção em 2008. (Uma busca nos arquivos da New Yorker indica diversos dos textos do autor reunidos no livro de contos Afogado e publicados originalmente na revista a partir de 1995.)
Poemas da Polônia
dezembro 8, 2009 por Ana Carolina ArantesO caderno Babelia, suplemento de cultura do El País especializado em literatura, publicou no sábado entrevista com a vencedora do Nobel de literatura de 1996, a polonesa Wislawa Szymborska, de 86 anos. Durante a conversa com Javier Rodríguez Marcos, a poeta falou sobre a presença, ou ausência, de grandes temas como a guerra, a morte e o amor em sua produção, conhecida pela linguagem coloquial e pelo trânsito entre o lirismo e a ironia.
Para Szymborska, o bom poema precisa estar ligado à realidade, à vida do poeta ou de outras pessoas. Não à toa, a Fundação Nobel justificou o prêmio “pela poesia que, com precisão, permite que o contexto histórico e biológico se traduza em fragmentos da realidade humana”. Szymborska faz parte de um grupo de autores poloneses, formado também por Czeslaw Milosz e Zbigniew Herbert, que se tornaram conhecidos internacionalmente durante a Guerra Fria. Há um artigo no site Words Without Borders com mais informações a respeito.
No Brasil, não há nenhum livro de Szymborska disponível em português, mas para quem quiser conhecer mais sobre suas obras, o próprio site do prêmio Nobel traz uma análise de diversos de seus poemas.
Desafios da era virtual
dezembro 3, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPO Itaú Cultural realiza, de 3 a 5 de dezembro, o VI Colóquio Rumos Jornalismo Cultural, que reúne, sob o tema Convergências, profissionais de comunicação de todas as mídias. Luiz Antonio Giron, editor da seção Mente Aberta da revista Época; Almir de Freitas, editor-sênior da revista Bravo!; Lúcia Guimarães, correspondente d’ O Estado de S. Paulo e da Rádio Eldorado em Nova York; e os jornalistas e escritores José Castello e Humberto Werneck, entre outros, discutem questões como a emergência de novos sites e coletivos de referência e as implicações da difusão do Twitter.
A programação completa do evento pode ser vista no site do Itaú Cultural.
Que rufem os tambores
dezembro 1, 2009 por Ana Carolina ArantesA dica chega atrasada, mas vale a pena ler a matéria do Guardian da semana passada com os melhores livros do ano eleitos por escritores, editores, cineastas e até chefs de cozinha e estilistas de peso. Cada um puxou a sardinha para sua própria área, o que dá uma dimensão abrangente das boas publicações lançadas durante este ano segundo a pesquisa do Guardian. O New York Times também acaba de publicar sua lista dos mais notáveis de 2009, seleção feita anualmente pelo jornal desde 1999.
Uma comparação entre as listas mostra que, dos 76 livros citados pela matéria do Guardian e dos 100 eleitos pelo Times, há somente oito em comum. É claro que a aproximação tem seus limites, já que os consultados do Guardian têm formação mais heterogênea, o que dá margem para a presença de muitos livros de não-ficção. De qualquer forma, o romance Brooklyn, de Colm Tóibín (FLIP 2004), e a reunião de poemas Rain, de Don Paterson, citados várias vezes na pesquisa do Guardian, não figuram na lista do Times.
Mas vamos aos unânimes: Wolf Hall, é claro, da vencedora do Booker deste ano, Hilary Mantel; Cheever: A Life, biografia do contista John Cheever escrita por Blake Bailey; o romance Love and Summer, do inglês William Trevor; o inventivo Let the Great World Spin, romance de Colum McCann que aborda a travessia do equilibrista francês Philippe Petit entre as torres do World Trade Center de Nova York, em 1974; A Gate at the Stairs, de Lorrie Moore, sobre a passagem para a vida adulta de uma garota no pós-11 de setembro; Everything Ravaged, Everything Burned, primeira reunião de contos de Wells Tower; o político Zeitoun, não-ficção de Dave Eggers sobre a situação de uma família síria após a passagem do furacão Katrina, em Nova Orleans (EUA), em 2005; e The Little Stranger, de Sarah Waters, romance que combina suspense e crítica social, ambientado na Inglaterra do pós-guerra.
Vale lembrar que Clarice,, a biografia de Clarice Lispector escrita pelo norte-americano Benjamin Moser e lançada em São Paulo na semana passada, foi eleita um dos notáveis do NYT. E, falando em Brasil, não encontrei na internet uma lista com os melhores livros do país de 2009. Sabemos que o Jabuti elegeu, na ordem, Manual da Paixão Solitária, de Moacyr Scliar, Orfãos do Eldorado, de Milton Hatoum, e Cordilheira, de Daniel Galera, como os melhores romances de 2008; que a Portugal Telecom premiou Ó, do artista Nuno Ramos; e que Leite Derramado, de Chico Buarque, foi o vencedor na categoria Literatura do Bravo! Prime deste ano. Fica a pergunta aos leitores do blog da FLIP: quais foram os grandes feitos da literatura brasileira em 2009?
Wood versus Auster
novembro 27, 2009 por Ana Carolina Arantes“Cova Rasa” é o título do artigo de James Wood sobre Paul Auster, publicado na última New Yorker na esteira do lançamento de Invisible, livro mais recente do escritor. Considerado por muitos de seus pares o melhor crítico literário de sua geração, Wood é reconhecido pela defesa do realismo literário em detrimento da literatura pós-moderna, e a resenha de Auster concentra grande parte dos argumentos frequentes de Wood em sua cruzada.
O crítico sugere uma fórmula aos “agradáveis, levemente condescendentes” livros do escritor e a toma emprestada para criar o começo de um romance a la Auster na abertura do artigo, dando indício aos leitores de que não será dócil o teor dos parágrafos seguintes.
Há uma longa passagem em que comenta a presença de clichês nas obras de Auster. Ao contrário de Flaubert, em cujos romances as expressões gastas são empregadas com ironia, ou mesmo de Beckett e Nabokov, conscientes do “tomar emprestado” da cultura de massa, Auster “não faz nada com o clichê, a não ser usá-lo”, afirma Wood.
Seus enredos, de forma geral, são caracterizados por Wood como de um realismo pouco convincente e até dotados de certa atmosfera de filme B. As reviravoltas da trama – que, a propósito, Hollywood foi pródiga em consagrar-, fariam de seus romances máximas do surrealismo ou, tomando uma perspectiva otimista, suas histórias traduziriam apenas um realismo diluído, pasteurizado.
E quem esperava do artigo ao menos um final redentor não soube dimensionar o cinismo de seu início. Aqui, a superficialidade e a futilidade sugeridas pelo título soam como galanteios: Wood traz à tona o conceito da linguagem contemporânea ligada ao vazio, à ausência, apenas para solicitar: mais silêncio, Auster.
Para quem deseja assistir a todos os rounds, o artigo pode ser lido na íntegra na versão digital da New Yorker, que trouxe ainda conto inédito de Don DeLillo.
Últimas palavras
novembro 26, 2009 por Ana Carolina Arantes
A editora norte-americana Melville acaba de lançar The Last Interview & Other Conversations, reunião de entrevistas realizadas com Roberto Bolaño por diversos jornalistas da América Latina ao longo dos cinco anos que ele levou para escrever 2666, romance de quase 900 páginas publicado postumamente em 2004. Parte da última entrevista, concedida à jornalista Monica Maristain para a Playboy mexicana no mês da morte de Bolaño e reeditada no livro, foi disponibilizada no blog de literatura do New York Times. É curioso observar em retrospectiva um escritor de temática densa e alçado a cânone por críticos literários de todo o ocidente respondendo a questões típicas da linha editorial da revista, como “John Lennon, Lady Di ou Elvis Presley?”
Demorou, mas…
novembro 25, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPPublicamos aqui os melhores poemas da oficina de poesia da FLIP 2009, selecionados por Carlito Azevedo.
Pedras
I
Depois de anos passeando juntos pela estrada de pedras, quando ela finalmente se tornou plana, tropeçaram.
II
Estão aqui, bem aqui, todas as pedras.
A que atirei de bodoque, aleijando o passarinho, aos nove.
A que arremessei com êxito na vidraça do vizinho (e culpei a bola), aos treze.
A que atingiu em cheio o supercílio do policial naquela manifestação em prol não sei de quê, aos dezessete.
A pontuda que deixei estrategicamente embaixo do pneu do vizinho, aos trinta.
A pedra grave, pesada, que pus em cima do assunto que Vanessa preferia manter em aberto, aos quarenta.
E inclusive esta, fria, rígida, que amanhã não comemora quarenta e um.
Marco Bassini
Atacama
Ver o Afeganistão no Atacama de um jeep 4 x 2
ouvindo The Doors no som – no me moleste mosquito
pero acá no hay nadie
por acaso na hora da foto
uma placa de Coca-Cola empoeirada e caída:
não havia P.D.V.
mais adiante a igreja
que ao sol parece aerada
concentra nuvens de adobe
porém levaram São Pedro
no alto, vulcão rosado
tem textura de aquarela
seguindo reto – ainda falta -
laranjada a dez reais
e uma leva de europeus
é o azul marinho maciço
atrás de pontos de prata
que prenuncia a troca
das peles surradas quentes
de pescadores-ferrugem
pelo vestir-se em abraços
na remota tentativa de
estancar feridas secas
superar queda dos graus
a estrada: única palavra
ao alcance do horizonte
não acompanha o ritmo
do que era ritmo antes
Maria Cecilia Brandi
Nós vamos afundar
Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem
ainda.
Jorge de Lima
Não é: o que é arte?, mas? quando é arte?
A partir de Nelson Goodman
Antes dos remorsos
desse avião despedaçado
que nunca passeou com os filhos,
antes dos poetas míopes,
do homem de chapéu Panamá,
e dos colecionadores de nuvens,
antes que o sino dobre
e o mosquito amigo do rei
penetre a pele velada
pelo mosquiteiro furado,
nós vamos afundar
dançando devagar até o fundo da
garrafa e lá vamos nos reencontrar
transformadas em bestas
de corpo fosforescente, criaturas
vivendo sem luz, no fundo
mais fundo, submersos
no lodo, sem olhos
para abrir e ver,
só um par de antenas
cravadas no couro velho e duro.
E, no momento mais agudo,
esses monstros lá de baixo
vão nos mastigar devagar
e, como nossas irmãs hienas,
vão nos enterrar na areia
e voltar para comer
o resto mais tarde.
Mas um corpo morto é um copo
deitado, não segura mais nada;
aberto para o mundo,
não se fecha nunca mais.
Ah, nós vamos afundar
devagar, e vai ser bom demais.
Porque lá no fundo a felicidade
vai estar nos esperando
com a boca aberta,
macia, sem dentes, pronta para
nos reconhecer
e nos engolir sem mastigar.
Ah, vai ser bom demais.
Nós vamos afundar
agora, juntas.
Paulo Moreira
Desonra no cinema
outubro 22, 2009 por Flavio MouraNão sei se é desatenção minha, mas acho que ninguém deu muita bola no Brasil à versão cinematográfica de Desonra, o romance premiado de J. M. Coetzee (FLIP 2007). Tanto que o filme nem chegou a estrear no cinema: foi direto para o DVD.
Há John Malkovich no papel de David Lurie, o professor de literatura que cai em desgraça após acusação de assédio sexual. Há tomadas grandiosas das paisagens do interior sul-africano. Há ainda trilha sonora cheia de efeitos, cores esfuziantes e demais recursos do cinemão. Mas nem por isso se falou do filme por aqui.
Confesso que achei meio sem graça e artificial. Mas o ponto não é esse. Quando o livro saiu no Brasil, em 2000, a crítica fez um auê danado – poucas obras de ficção foram tão festejadas nos últimos tempos. Mas mesmo assim os exibidores acharam que não valia a pena levar o filme para o circuito comercial.
É verdade que os grandes autores contemporâneos não costumam ser campeões de bilheteria: os últimos filmes inspirados em trabalhos de Philip Roth, por exemplo, não eram exatamente empolgantes. Mas pelo menos o leitor pôde verificar isso no cinema. Queria entender por que a Coetzee não foi dada a mesma chance no Brasil.
Retrato do profanador máximo
outubro 20, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPA Folha de S.Paulo publicou hoje, no caderno Ilustrada, um perfil do escritor colombiano Fernando Vallejo encomendado a Alan Pauls (FLIP 2007). Famoso pela crítica virulenta à Igreja católica e ao governo da Colômbia, Vallejo participou de uma conversa acalorada com o escritor holandês Cees Nooteboom na FLIP 2008.

Fernando Vallejo
Mais um
outubro 14, 2009 por Ana Carolina ArantesDepois de vencer o Eisner, chamado por muitos de “Oscar dos quadrinhos”, na categoria melhor antologia, Gabriel Bá foi considerado o melhor desenhista de 2008 pelo Harvey Awards, outra importante premiação norte-americana divulgada neste final de semana na convenção de quadrinhos de Baltimore.
Bá conquistou o prêmio pelas ilustrações de The Umbrella Academy, escrita por Gerard Way, e disputava ainda a categoria de melhor antologia pelo número inicial de Pixu, feita em parceria com seu irmão, Fábio Moon. A série, de terror psicológico, difere bastante dos trabalhos da dupla, que têm foco no cotidiano urbano e nos relacionamentos.
Lançadas inicialmente nos Estados Unidos e apresentadas ao Brasil na semana passada no Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, Pixu e The Umbrella Academy terão estreia paulista hoje à noite, durante sessão de autógrafos na Fnac Pinheiros.
Nobel
outubro 8, 2009 por Ana Carolina Arantes1 semana, 2 prêmios, 2 mulheres. Dois dias após a vitória de Hilary Mantel no Booker Prize, Herta Müller foi anunciada nesta manhã como vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2009. Radicada na Alemanha, a escritora nasceu na Romênia e teve seu primeiro livro censurado pelo regime ditatorial de Nicolae Ceausescu. Identificada pela expressividade poética de sua prosa, a escritora costuma retratar a vida cotidiana sob condições opressivas. O compromisso é seu único livro publicado no Brasil.
Booker
outubro 7, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPFavorita desde o anúncio dos indicados, em julho, a inglesa Hilary Mantel venceu o Booker Prize deste ano, anunciado ontem à tarde. Com o romance histórico Wolf Hall, ambientado na Inglaterra de 1520, a autora desbancou nomes como J. M. Coetzee e A. S. Byatt, ambos vencedores de edições passadas do prêmio.
Notícias de um festival literário no Brasil
outubro 2, 2009 por Ana Carolina ArantesEsta matéria, sobre a FLIP 2009, saiu em uma das edições de agosto da revista Spectator. A dica é um pouco atrasada, mas vale a pena. Publicação importante na Inglaterra, principalmente quando o assunto é liberalismo, a revista trouxe informações relevantes sobre Paraty e a FLIP. Está lá a menção à caipirinha, mas os comentários a respeito do patrimônio natural e histórico são comedidos na linguagem “guia turístico”, muito comum em matérias estrangeiras sobre o assunto.
O autor dá detalhes sobre o número de leitores e as ações do governo brasileiro de estímulo à leitura e ainda contextualiza a tradição religiosa do país a propósito dos vários parágrafos dedicados à crítica do “sermão populista” de Richard Dawkins, que seguem a linha conservadora da publicação. E já que o assunto é Dawkins, Stephen Colbert roubou-lhe o posto de showman em uma conversa bastante divertida entre os dois, que aconteceu no Colbert Nation desta quarta-feira.
Gangland
setembro 30, 2009 por Ana Carolina ArantesCom autorização de Jon Lee Anderson, reproduzimos neste link sua reportagem sobre o tráfico de drogas no Rio de Janeiro, veiculada na New Yorker desta semana e comentada por ele em sua mesa na última FLIP.
O uso político da matéria para influenciar a escolha da cidade que sediará as Olimpíadas de 2016, sugerido por algumas publicações essa semana, foi negado por Jon Lee, que fez questão, entretanto, de lamentar que o debate em torno da cidade-sede possa desviar a atenção da opinião pública de um debate “que é bem mais profundo e que tem a ver com o problema da desigualdade social e de como a violência epidêmica do Rio tem sua origem nesta insensibilidade social, que faz com que os ricos convivam com a desigualdade como se ela não existisse ou que não fosse um problema de todos”.
51° Jabuti anuncia seus vencedores
setembro 29, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPAcabam de sair os resultados do Prêmio Jabuti deste ano.
Moacyr Scliar venceu na categoria romance, com Manual da paixão solitária. Milton Hatoum ficou em segundo lugar com Órfãos do Eldorado e Cordilheira garantiu a Daniel Galera a terceira colocação.
Vanessa Bárbara teve seu O livro amarelo do terminal premiado com o primeiro lugar na categoria reportagem. Entre os indicados na categoria poesia, venceu Dois em um, de Alice Ruiz, seguido por Antigos e soltos: poemas e prosas da pasta rosa, organizado pelo Instituto Moreira Salles, e Cinemateca, de Eucanaã Ferraz.
Na categoria biografia, Lilia Moritz Schwarcz foi a primeira colocada, com O sol do Brasil, seguida por José Mario Pereira, com José Olympio, o editor e sua casa, e Humberto Werneck, com O santo sujo: a vida de Jayme Ovalle.
Para ver a lista completa dos vencedores, acesse http://www.cbl.org.br/jabuti.
Cartas à redação
setembro 22, 2009 por Flavio MouraNo dia 15 de outubro, a curadoria da Flip estará com o agente literário de Philip Roth. Pela terceira vez, entregará a ele um convite para que o autor de “Complexo de Portnoy” venha a Paraty. As chances de sucesso são mínimas – como se sabe, Roth não vai nem até a esquina para falar sobre seus livros. Mas é aquela história: perguntar não ofende e a insistência faz parte do ofício. Então, se você for um leitor e quiser deixar na caixa de comentários um motivo para que ele venha a Paraty, seu recado irá junto com o convite da Flip. Vai que o sujeito muda de ideia?
Mais interativa
setembro 16, 2009 por Flavio MouraA FLIP acaba de aderir ao Flickr e ao Facebook. Fotos da 7a. edição já estão disponíveis no Flickr e, aos poucos, serão adicionadas imagens de todas as edições anteriores. O Facebook possui um grupo de discussão para o debate da literatura e da Festa Literária – caso não seja um usuário, crie uma conta e adicione a FLIP à sua rede.
Sentimentos históricos
agosto 13, 2009 por Ana Carolina ArantesA versão online da London Review of Books trouxe uma crítica de Eric Hobsbawm do livro The Morbid Age, escrito pelo historiador inglês Richard Overy. Com enfoque na Inglaterra do período entreguerras, o livro insere-se na tendência recente de pesquisa histórica que se debruça sobre a concepção que os indivíduos têm dos acontecimentos históricos, proposta radicalmente diferente da tradição acadêmica, que estuda o que aconteceu e em que circunstâncias. Esta última destaca, portanto, os agentes da História, e não o que poderíamos chamar, ainda que de forma pouco precisa, de seus espectadores. É no primeiro time que se inserem, por exemplo, os historiadores Simon Schama e sua entrevistadora na FLIP 2009, Lilia Schwarcz, expoentes da chamada história narrativa, na qual a História é caracterizada a partir da experiência de cidadãos comuns, vivendo durante momentos decisivos.
Overy, entretanto, dá um passo adiante neste sentido. Em The Morbid Age, o historiador, especializado em Segunda Guerra Mundial, optou por caracterizar os fatos históricos a partir dos sentimentos que dominavam a sociedade inglesa no período.
Com ressalvas à erudição do historiador e à extensão da pesquisa histórica levada a cabo por ele, Hobsbawm questiona de forma incisiva o recorte adotado por Overy. Além de indagar a respeito do próprio objetivo de definir um período histórico ou um país a partir de possíveis sentimentos comuns entre seus cidadãos, aponta problemas intrínsecos a esta abordagem, como o fato de as emoções não serem socialmente homogêneas ou mesmo cronologicamente estáveis.
Overy identifica diversos sentimentos catastróficos, como quanto ao fim do capitalismo e à iminência de uma nova guerra, nos escritos privados e declarações públicas de uma minoria composta pela burguesia intelectual e por representantes da classe política. Evidentemente, questiona Hobsbawm, como é possível determinar a congruência ou a influência das preocupações desta minoria às da população inglesa? Ao contrário, Hobsbawm identifica o domínio, se não de esperança, da falta de pessimismo da população em relação ao futuro incerto, mesmo entre escombros.
No limite, a experiência de caracterizar determinado período histórico a partir de sentimentos dominantes envolve tamanha generalização que o resultado não é eficiente do ponto de vista da reconstrução do passado, mesmo que os sentimentos possam e devam ser levados em conta para a constituição de um panorama histórico.
Vivaldi num clique
agosto 7, 2009 por Ana Carolina ArantesAlex Ross publicou um artigo na última New Yorker sobre sua experiência com a música erudita no formato digital. Atualmente, são vários os selos de música clássica cujas lojas virtuais disponibilizam downloads de gravações antigas em diversos formatos para compra. É possível escolher entre arquivos de mp3 de alta qualidade, arquivos com qualidade de cd e até aqueles de qualidade superior à do cd. Andrew Rose, um especialista em áudio que dirige a loja Pristine Classical, desenvolveu técnicas de reequalização de gravações antigas a partir de outras mais recentes com o mesmo repertório, utilizadas por Rose como parâmetros. Ross surpreendeu-se com o resultado: os chiados desaparecem, o baixo ganha corpo. Em suma, a nova gravação recupera a sensação do ambiente da sala de concerto.
Como bom apreciador de música clássica, entretanto, Ross olha com certa desconfiança para o que é considerado um aprimoramento das gravações. A “limpeza” é positiva? Por que é preferível ouvirmos concertos antigos com a impressão de que tivessem sido realizados recentemente? Além destas questões, há um efeito psicológico intrínseco a esse mercado virtual: as múltiplas opções de download geram insatisfação. Assim que um download é feito, a expectativa pelo próximo faz com que a apreciação do primeiro seja parcial.
Em tempo, pondera Ross, é sempre possível recorrer aos bons e velhos discos preferidos, confortavelmente dispostos ao lado do som estéreo.
Prêmio São Paulo de Literatura
agosto 5, 2009 por Ana Carolina ArantesCriado no ano passado, o Prêmio São Paulo de Literatura encerrou sua segunda edição nesta segunda-feira, no Museu da Língua Portuguesa. O júri final elegeu Altair Martins na categoria estreante e concedeu a Ronaldo Correia de Brito o prêmio de livro do ano. Nascido em Porto Alegre, Altair Martins foi selecionado por A parede no escuro, romance que narra a experiência de duas famílias ao lidar com a perda de suas figuras paternas. Galiléia é o primeiro romance de Brito, autor de três livros anteriores de contos, e acompanha o retorno de três primos ao sertão cearense, em visita ao avô. Entre os concorrentes a livro do ano figuraram nomes de peso como José Saramago, por A viagem do elefante, e Milton Hatoum, por Orfãos do Eldorado. Vale lembrar que no ano passado os vencedores do prêmio foram Tatiana Salem Levy (autor estreante) e Cristóvão Tezza (livro do ano), ambos convidados da FLIP 2009. Entre os finalistas da categoria estreante deste ano estavam os participantes da FLIP 2008 Vanessa Barbara e Emilio Fraia, que concorriam ao prêmio por O verão do Chibo, e o psicanalista Contardo Calligaris, pelo romance O conto do amor.
Diário de Atiq
agosto 1, 2009 por Ana Carolina ArantesO jornal francês Libération, na edição do dia 11 de julho, publicou o trecho abaixo, retirado do diário escrito por Atiq Rahimi durante sua visita ao Brasil, quando participou da FLIP. A seguir, impressões do escritor sobre a literatura, sobre sua mesa com o brasileiro Bernardo Carvalho e sobre o encontro entre Sophie Calle e Grégoire Bouillier, entre outras.
“Eis um momento de encantamento”
Sábado
Inferno dos escravos, paraíso dos autores
E o Ano da França no Brasil. Somos seis autores (sim! agora sou considerado autor francês) convidados na FLIP, a festa literária internacional que ocorre em Paraty, uma pequena cidade colonial, na beira do mar. Uma cidade pitoresca com centro histórico que proíbe a entrada dos carros, onde paralelepípedos obrigam os visitantes a andar de cabeça baixa, para não torcer o tornozelo. Então precisa-se andar como os escravos que eram trazidos até aqui, outrora, para trabalhar nas minas de ouro. Apesar disto, que atmosfera boa! Que público entusiasmado! Hora do café da manhã. Me isolo num cantinho para escrever tudo o que vivenciei ontem durante um encontro literário com o autor brasileiro Bernardo Carvalho na frente de um público de mais de mil pessoas! Ocorreu um debate de verdade entre nós. Ele, o defensor fervoroso da “literatura nacional”, constata que pouco importa a ele se os leitores de uma outra cultura, de um outro continente, não entendem e, consequentemente, pouco gostem de sua obra. Embora, quando o encontrei em Toulouse, ele estava muito feliz de se encontrar com o público francês! Para ele, o universalismo, o humanismo se mostram duvidosos. Pode até ser. Mas não podemos confundir universalismo com globalização e humanismo com humanitarismo! O nacionalismo é tão perigoso como o universalismo. O universal e o autêntico não são antagônicos. Podemos ser autênticos e universais ao mesmo tempo. “Bom dia” – uma voz tímida me tira de meu caderno. É o Grégoire Bouillier. Convido-o à minha mesa. Sem graça por me interromper durante minha escrita, ele quer se sentar num outro lugar. Insisto. Um leve véu de dúvida e incerteza, com toque de angústia, assombra seu olhar brilhante. Comento a minha experiência de ontem. Ele fica ainda mais preocupado. Hoje, às 11h30, Grégoire vai encontrar publicamente Sophie Calle pela primeira vez depois da famosa história de “cuide de você”. Por que agora, e aqui? Ele não saberia dizer. Talvez seja para por um fim a esta história, ele me fala, o olhar perdido em sua xícara de café. Ele acende um cigarro. Porque aceitamos participar de festivais literários? É contrário ao ato de escrever? Tarde demais para fazer perguntas. Precisamos enfrentar! Eu o acompanho. Sophie C. fica numa outra pousada. Só vão se encontrar meia hora antes da palestra.
Domingo
Viver ou escrever? Um não impede o outro!
Como de costume, escrevo durante o café da manhã, sobre os acontecimentos da véspera. Então vamos voltar ao encontro de Sophie C. e Grégoire B. O auditório estava lotado. A audiência, super excitada para ver de carne e osso esse casal cuja ruptura tinha se transformado numa obra de arte. Bem longe de um “reality show” encenado por um casal acertando as contas, estes dois artistas, por sua inteligência, souberam transformar o encontro numa continuação de sua arte, oferecendo a todos um momento de êxtase e o direito de meditar mais uma vez sobre a eterna pergunta: onde termina a vida? Onde começa a arte? Depois deste encontro, Sophie C., Catherine Millet e eu somos convidados para um passeio bonito de barco. Apesar da nuvem, e de algumas gotas de chuva, o tempo está bom. Somos levados até umas ilhas. Perguntei para a Sophie C. se ela acredita no encantamento. Após uns segundos de silêncio, e o olhar perdido no horizonte, ela me fala que não se lembra da última vez em que ficou encantada. Talvez tenha sido há muito tempo … Sophie C., ela, nos deixa toda vez encantados com sua arte. Mergulhamos na água. “Eis um momento de encantamento”. Desde que cheguei ao Brasil, não tive tempo de entrar na Internet e ver o que está acontecendo no mundo. Nada novo, com exceção da morte de Michael Jackson. Neste ambiente de luto internacional, longe dos Estados Unidos, os soldados americanos são assassinados no Afeganistão. Mas não passa de uma notícia comum, um acontecimento banal. Ou seja, do cotidiano! Quantos mortos entre os civis afegãos? E entre os talibans? Nenhum número. Ou esses mortos são raros, ou sem importância. O Irã mergulha no torpor. Meus amigos iranianos me enviam mensagens me incentivando a organizar uma outra manifestação em Paris. Na semana anterior, estava com eles. As fraudes eleitorais são pretextos. O que queremos é acabar de uma vez por todas com o Estado islâmico e os imãns. Um jornalista me pergunta o que é a literatura. Colocar palavras onde não há, respondo. Ele espera o resto. Nada a acrescentar. É simples: escreve palavras numa página branca ou numa tela vazia…Precisamos relembrar o que Roland Barthes dizia? “O escritor é aquele que escreve”. É só isso.
Segunda-feira
A caravana francesa
Ontem, assisti à palestra de Catherine Millet com, como se fosse um acaso, uma psicanalista brasileira. Com sutileza, Catherine Millet evita entrar no jogo. Ela insiste em defender sua escrita, a literatura: “Fazer as palavras dizer o que ainda não dizem”. Que frase bonita! Para a noite de encerramento, os organizadores pediram a alguns autores para ler um trecho de uma obra de sua escolha. Eu leio quatro landays, esses poemas populares das mulheres pashtuns, que falam do “pequeno horroroso”, este apelido que dão ao marido. Hoje, Angel, meu editor brasileiro, nos leva, Sophie Calle e eu, de volta para São Paulo, onde continuamos nossa aventura na “caravana francesa”. Sophie C. monta a sua instalação “Cuide de você” num espaço lindo, uma antiga fábrica reformada. Tenho um encontro num teatro onde falarei de minha experiência como autor-cineasta.
Terça-feira
Dignidade, amor e perseverança
Eu dormi muito mal, como sempre, e talvez como todo mundo, quando muda de cama, de cidade, de país…Preciso comprar um chapéu. O meu editor me leva numa loja surpreendente, gerenciada por um pai e seus dois filhos gêmeos. O pai é de uma perfeita elegância, longe do dandismo ou do esnobismo… Nada disso. Esta elegância só tem uma razão: a dignidade. Não achei meu chapéu. Mas achei um casaco muito bom. De noite, mais um encontro numa livraria com transmissão ao vivo pela internet. Autografo meus livros, pedindo como de costume aos leitores a palavra que trazem no coração para que possa escrevê-la com caligrafia persa. Aqui, no Brasil, só se quer amor e perseverança.
Quarta-feira
Politicamente incorreto
Um dia calmo, tranqüilo. Sem encontro. Passeio pelas ruas de São Paulo que, depois de Paraty, me deixam tonto. Pendo a cabeça para trás para observar o topo dos prédios. Internet. Alguém das Nações Unidas no Afeganistão observa que “como a lei afgã não pode proteger as vítimas de estupro, então certas comunidades precisam recorrer à tradição”. Como se esta fosse a melhor defensora dos direitos das mulheres! Vale lembrar, até para as instâncias internacionais, que o que falta no Afeganistão não é a lei, mas uma vontade, uma determinação governamental para aplicar a lei. O que Karzai é incapaz de fazer. Ele quem assinou o decreto autorizando o estupro conjugal! Só para ganhar os votos da comunidade religiosa xiita. Pergunto para os brasileiros sobre o programa de “bolsa família” que beneficia mais de dez milhões de famílias respeitando duas condições: escolarizar suas crianças e as vacinar contra as principais doenças infantis. Aparentemente, este programa funciona bem no país. Me pergunto, talvez com ingenuidade, por que a nossa proposta baseada no mesmo conceito (Libération – 17 de Abril), para o Afeganistão, não provocou nenhuma reação.
Quinta-feira
Burca, e que mais?
Avião, São Paulo-Paris. O vôo é longo. A insônia está no encontro. Leitura de revistas está no programa. Na França, a disputa sobre o véu esta onipresente. Mesmo em Paraty, os jornalistas me sondaram sobre o assunto. Eu, que batalho contra a burca no Afeganistão, como poderia defendê-la na França?! Recito um landay: “Amanhã os famintos dos meus amores serão satisfeitos/porque quero atravessar o vilarejo de rosto descoberto e cabelo no vento”. Não só eu, mas as mulheres que gritam!
Sexta-feira
O corpo e a alma
Paris. Trabalho na exposição que estou preparando com a Galerie Vu para o mês de novembro. A partir do catálogo dos fotógrafos contemporâneos da galeria, seleciono obras que nos perguntam sobre a representação do corpo. Uma tentativa para mostrar como a fotografia, mais que as outras formas de artes, consegue revelar a dimensão do “djan”, palavra persa que designa tanto o corpo que a alma.
Ainda não
julho 29, 2009 por Ana Carolina Arantes
Kindle 2
A New Yorker desta semana trouxe uma matéria a respeito da segunda geração do Kindle, o aparelho leitor de livros eletrônicos da Amazon cujas vendas, como afirma o fundador e C.E.O. da loja virtual, Jeff Bezos, “superaram as mais otimistas expectativas”.
Lançado em 2007, o foco do primeiro Kindle era os ebooks. Com o lançamento do Kindle 2, a Amazon, além de corrigir problemas de ordem técnica, aumentou o acesso de seus usuários a jornais, revistas e blogs.
Para os brasileiros interessados no aparelho, a Amazon não o envia ao Brasil. Só é possível comprá-lo se houver um endereço nos Estados Unidos relacionado à conta na Amazon e, em seguida, alguém no país que possa enviá-lo para o endereço brasileiro. Além disso, o download de livros pela rede wi-fi só é possível nos Estados Unidos. Fora do país, é preciso fazer a compra dos livros digitais e transferir o conteúdo para o Kindle por meio de um cabo USB.
Preocupado quanto a certa unanimidade midiática em torno do Kindle 2, construída às custas de muita camaradagem por parte de escritores (Neil Gaiman foi de cético a fã incondicional, conta a matéria) e de uma campanha publicitária nas páginas da Amazon que beira a lavagem cerebral, o autor da matéria, Nicholson Baker, fez uma longa experiência com o Kindle 2.
Entre as conclusões, Baker relatou a persistência de falhas técnicas do aparelho, como desaparecimento da imagem com a exposição do aparelho ao sol, e problemas graves relacionados à cor (não o bom e velho preto e branco das páginas dos livros, e sim um cinza esverdeado). De qualquer forma, tais aspectos – imagina-se – podem ser aperfeiçoados ao longo das gerações seguintes do Kindle. O grande problema está no fato do conteúdo dos livros ser alterado de forma radical na conversão para ebooks. Apesar de sempre sustentarem um preço melhor do que o dos livros físicos no próprio site da Amazon, os livros digitais perdem fotos, número das páginas, índice, e raramente têm suas notas de rodapé legíveis. Baker relata ainda casos extremos de caríssimos livros científicos cujos gráficos perdem sua função ao ser privados de cores e legendas classificatórias.
Há também a questão da incompatibilidade do software. O Topaz, software desenvolvido pela Amazon exclusivamente para o Kindle, não roda em nenhum outro leitor a não ser no Iphone e no Itouch, e ainda não há uma movimentação pública para que o software seja compatível com outros leitores eletrônicos. Por fim, os ebooks são intransferíveis – não é possível, como no caso dos livros, emprestá-los, doá-los ou mesmo vendê-los.
É claro que o objetivo de Baker com o teste do leitor de ebooks não é determinar se a informação digital irá ou não substituir jornais e livros no futuro. Todavia, a julgar pela decepcionante experiência com o Kindle 2, os apocalípticos terão de adiar suas profecias funestas quanto ao destino dos impressos – ao menos enquanto o leitor eletrônico líder de mercado for o da Amazon.
Cenas de um casamento
julho 21, 2009 por Ana Carolina ArantesApós inúmeros pedidos do público, postamos abaixo o texto Separações, escrito por Domingos Oliveira para sua apresentação na FLIP e cedido por ele para figurar neste blog. Divirtam-se, leitores, com os percalços de Domingos em seus sucessivos enlaces matrimoniais:
“Separações
Há pessoas que sofrem com separações, outras, muito mais raras, se alegram com isso. Realmente uma separação é sempre um alívio. E alguns logo encontram a “solidão magnífica”, conforme chamou Freud. Mas não sou esse tipo de pessoa e, para os homens comuns, separação dói muito.
O assunto não me é estranho porque já fiz um filme sobre ele e também porque tive cinco casamentos e cinco separações. No entanto não tenho nada a dizer sobre o assunto. Há coisas assim, quanto mais se vive ou mais se pensa, mas obscuras ficam.
Na primeira separação, tinha uns vinte e poucos anos. O nome dela era Eliana. Me desarticulei tanto que não podia sair na rua, achando que os edifícios cairiam sobre mim. Lembro também que foi nessa época que descobri a psicanálise e logo depois o álcool. Na boemia, no tempo sem tempo da boemia, procurava aflitamente o Amor. Quebrei minha mão dando um soco na parede e fui à sessão de psicanálise tocar uma flauta de plástico que alguém me deu, com a mão engessada. Quero dizer que sofri muito.
Na minha segunda separação sofri muito. Tinha três namoradas ao mesmo tempo, e brochava com as três. O nome dela era Leila. Em vez de tocar a flauta, fiz um filme, “Todas as Mulheres do Mundo”. Ninguém duvide disso: períodos de separação são em geral altamente produtivos.
Minha terceira separação, Nazareth, eu tinha quarenta e poucos, sofri muito e não teve graça nenhuma. Eu estava sem dinheiro e vivia minha vida nos corredores dos bancos adiando promissórias, parcelando dívidas, movido por anfetaminas. Naquela época eram vendidas como remédio para emagrecer.
Meu quarto casamento, Lenita, durou dez anos e tive uma filha. Maria Mariana. Na quarta separação tinha quase cinqüenta, tive poucas namoradas, poucas porém boas.
Até que há vinte e oito anos, casei com Priscilla, adorável criatura que me acompanha até hoje. E lá pelo oitavo ou décimo ano de casamento, passamos um ano separados. Se eu tinha desarticulado na primeira, nessa ultima desagreguei, quero dizer, sofri muito. Mas sempre produtivamente. Essa experiência resultou num filme, “Separações”.
Se eu cito esses dados biográficos nesta palestra, é apenas para tentar perceber o que há de comum entre essas cinco malditas porém necessárias passagens. Na verdade quase pode ser dito que todo homem solteiro quer casar assim como todo casado quer ficar solteiro. Não conheço nenhum casal decente que não nutra um sólido desejo de separação. Faz parte de um bom casamento, creio. Afinal, o amor tira a liberdade, sem dúvida. O que é inadmissível. E a solidão muita vezes é desagradabilíssima e vazia. Enfim, assim vamos todos, amando e desamando, carneirinhos a espera do corte.
A pergunta que faço hoje em dia a respeito do assunto é sobre a possibilidade de amar, casar e separar sem sofrer. Muito me perguntei sobre o mistério da dor do amor. Para tentar entender a dor do amor existem três indagações sobre o amor, ele mesmo.
Primeiro. Porque o amor (a paixão) acaba? Infinita enquanto dura, mas não dura. É por esquecimento de si mesmo? Porque, sendo explosão, com tempo se atenua? Porque, tendo dado ao amante sua chance de eternizar-se, não tem mais nada a fazer ali?
A segunda indagação vai mais direto ao ponto: Porque dói tanto quando o amor acaba? Porque é tão triste? Porque é inaceitável? Nenhum raciocínio ou vivência autorizou a crença de sua perenidade? Porque afinal nos dilaceramos? Ah, a dor do amor. É mais que uma angústia. É uma febre, uma desidratação. Poucas coisas são tão tristes quanto o fim de um grande amor. Talvez nem o fim da vida seja tão triste. E o que dói? Onde dói? Dói por não ser mais o que era. Dói por tudo que poderia ser, se ainda fosse, mas não será jamais. Dói a perda da paixão, única moeda cósmica que temos a nossa disposição. Porém, acalmemos. Deve haver um motivo objetivo para tanta dor. Examinemos metodicamente uma a uma as perdas.
O que se perde quando é perdido um amor? Talvez a moeda cósmica? Não, não deve ser isso. Todos os homens sofrem separações e nem todos se importam com o cosmos.
A perda do objeto sexual? Também não deve ser isso. Há muitas Marias para cada João.
Qualquer coisa ligada a ciúme de terceiros? Mas há separações que não envolvem terceiros, nem por isso deixam de ser sofridas.
Tão pouco são razoáveis as explicações psicológicas, quebra da fantasia, falência de um investimento sentimental ou qualquer coisa desse tipo. Mas também não é isso. Homens maduros, estudiosos, que certamente ultrapassaram esse tipo de acontecimento psicológico também sofrem como cães envenenados.
Aprofundemos essa espiral.
Talvez o horror da solidão quando convivemos muito com a pessoa amada, perdemos totalmente a noção de como somos sós no mundo. Nossa íntima alegria ou dor é compartilhada, ganhamos um ouvinte interessado e perder isso, convenhamos, é perder muito.
Talvez o medo da liberdade, citando Dostoievski, meu caro companheiro desde a adolescência, “Não há nada que o homem deseje mais do que a liberdade, nem nada que lhe seja tão doloroso”.
Na terceira indagação sobre o amor pergunto se ele é necessário. Na pesquisa da verdade todas as hipóteses devem ser levantadas, mesmo as deselegantes. Existirá mesmo um grande homem só? Não será um homem um animal ou dois? Como intuía os antigos gregos, um ser cuja biológica natureza verdadeira é ser parte de uma unidade maior, chamada casal. Se a função da hipótese é responder paradoxos, esta é a meritosa, posto que pelo menos explica a dor do amor. Dói porque falta uma parte, tanto quanto doeria se nos arrancassem um braço ou um olho.
Quando escrevi o roteiro do filme “Separações” eu tinha farto material a respeito. Tanto retirado da minha vivência quanto daquela dos amigos, mas não conseguia fechar a história. Somente pude fazê-lo quando lembrei da Kubler Roth e de suas fases pelas quais obrigatoriamente passa um doente terminal. Quando reparei que elas podiam coincidir com as fases do meu herói ridículo num período de separação, o roteiro ficou resolvido. Somente é possível comparar a separação de dois amantes com a morte de um homem. No filme minha ordem é: a Negação (“Não! Não pode ser! É mentira, ela vai voltar. Foi uma briguinha à tôa.”), a Negociação (“Se ela voltar para mim eu paro de fumar, subo os degraus da Penha, nunca mais vou ser galinha”), a Revolta (“Quero te matar, sua puta!”) e a Aceitação, que é quando se arranja outra namorada. Ou então a mulher volta. Observe que tomei certas liberdades com a Kubler Roth. Inverto a ordem, que é: a Negação, a Revolta, a Negociação, a Depressão e a Aceitação. E dou por subentendida a fase da depressão.
Bem, espero que quem não viu possa ver o filme. É muito engraçado ver aquele homem arrastando-se pelo chão, pagando todos os micos possíveis para recuperar a mulher amada.
Hoje tenho 72 anos, continuo querendo me separar da Priscilla, e ela de mim naturalmente, posto que somos normais e tenho a impressão que poderíamos fazer isso alegremente sem nenhum ciúme e nenhuma dor. Tenho essa exata impressão e com a mesma convicção que não acredito absolutamente nela. Morro de medo de me separar da Priscilla. Creio, concluindo, que é uma questão genética. Há homens que nasceram para viver sozinhos, e certamente não sou um deles. A verdadeira arte de viver talvez seja tentar ser aquilo que você é. O que evidentemente é muito difícil.
Me aguardem no meu próximo filme, é uma espécie de continuação de Separações. Acompanhando o casal, até digamos assim, o fim. Titulo: ‘Inseparáveis’.”
Última chance
julho 17, 2009 por Ana Carolina ArantesPara quem perdeu a estreia na quarta-feira, a TV Cultura irá reexibir no domingo, dia 19, às 13h30, o Especial FLIP 2009, que reúne os conteúdos dos programas Entrelinhas, Metrópolis e Vitrine realizados durante a FLIP. Além de reportagens, o especial traz entrevistas com António Lobo Antunes, Richard Dawkins, Gay Talese, Chico Buarque e Sophie Calle, entre outros destaques da programação.
Até a próxima
julho 15, 2009 por Ana Carolina ArantesPara o encerramento da FLIP 2009, a tradicional mesa Livro de cabeceira reuniu diversos autores da programação para lerem seus livros preferidos.

Tatiana Salem Levy, que já traduziu obras francesas, optou pelo autobiográfico Escrever, de Marguerite Duras. Rodrigo Lacerda desculpou-se à organização por ter trocado sua leitura inicial, de Raymond Carver, por trecho de Viva o povo brasileiro, do brasileiríssimo João Ubaldo Ribeiro.
O obscuro Mario Bellatin escolheu um escritor peruano pouco conhecido do público nacional, Julio Rámon Ribeyro. Sophie Calle também alterou sua leitura no último dia de FLIP e leu trecho de O convidado surpresa, do escritor Grégoire Bouillier, ex-namorado com quem dividiu a mesa no sábado à noite. Segundo ela, o dia em que o livro foi publicado na França foi o mesmo em que Grégoire lhe enviou o email rompendo o namoro, e por isso Sophie havia odiado o livro por muito tempo. A leitura, pois, seria uma boa maneira de se libertar da mágoa.
A irlandesa Anne Enright, como esperado e apreciado, leu James Joyce. O afegão radicado na França Atiq Rahimi elegeu cinco poemas curtos de mulheres afegãs. Por fim, James Salter fechou a mesa e o festival emprestando sua verve dramática às linhas fortes de Enormous room, do poeta modernista e.e. cummings.
Veja os autores lendo trechos de seus livros favoritos clicando aqui .
Homenagem em feitio de oração
julho 8, 2009 por Bruno Zeni
Edson Nery da Fonseca e Zuenir Ventura fecharam a homenagem prestada a Manuel Bandeira na FLIP 2009. Na mesa literária “Antologia Pessoal”, que emocionou o público da Festa Literária, os dois relembraram episódios em que encontraram Manuel Bandeira e declaramaram poemas do autor pernambucano.
Zuenir, que foi aluno de Literatura Hispano-Americana de Bandeira, contou uma visita que fez ao apartamento do poeta nos anos 50, lembrou a “poesia encharcada de vida” de Bandeira e leu “Pneumotórax” e “Canção do vento e da minha vida”.
O professor Edson Nery da Fonseca, que conheceu o escritor em Belém em 1942 e depois conviveu com ele no Rio de Janeiro, declamou vários poemas de Bandeira. Nery contou que, em vez de dizer orações, costuma rezar com poemas do autor pernambucano. “Fui à missa aqui em Paraty e, em vez do missal, recorri aos poemas do Bandeira.”
Nery também cantou uma composição feita por Bandeira em parceria com Villa-Lobos e fechou a conversa com a declamação, recebida com entusiasmo da plateia, do poema “Evocação do Recife”.
Veja um trecho da conversa, que teve o jornalista e escritor Humberto Werneck como mediador.
Um presidente saturado de história
julho 8, 2009 por Bruno ZeniNa mesa “O futuro da América”, o historiador britânico Simon Schama falou sobre a importâncida da eleição de Barack Obama à presidência americana, e ressaltou a magnitude de seus discursos e de suas referências à história americana, especialmente aos chamados “Founding fathers” (Pais Fundadores). “Obama é alguém saturado de história. Ele resgatou a comunidade da nação. É um homem que acredita no poder da palavra”.

Em conversa com a historiadora brasileira Lilia Moritz Schwarcz, Schama disse que os Estados Unidos não elegeram Obama por ele ser negro. “Os americanos olharam além da raça dele. Viram em Obama o melhor condutor para o país neste momento catastrófico de crise.” Segundo o autor, nosso tempo histórico levará o nome sombrio de “O Começo do Fim da Terra, a não ser que façamos algo a esse respeito”.
Veja um trecho da palestra.
Paradoxos e lugares-comuns do amor
julho 8, 2009 por Bruno Zeni“Escrevo para me livrar de mim mesma.” A afirmação é da crítica de arte e escritora francesa Catherine Millet. A autora falou na FLIP, na tarde de domingo, sobre seus dois livros autobiográficos, A vida sexual de Catherine M. e A outra vida de Catherine M.
O primeiro causou furor nos meios intelectuais franceses em 2001 pelo teor descritivo e confessional das aventuras sexuais da própria Catherine, até então uma respeitada crítica de arte, fundadora da revista Art Press. O segundo causou não menos surpresa. Nele, ela narra uma crise de ciúme por que passou ao descobrir a foto de uma amante do marido, Jacques Henri, entre os papéis dele.

“Era um paradoxo: eu e Jacques tínhamos um casamento aberto e eu sabia que ele tinha muitas amantes. Mas a possibilidade de que ele sentisse algo por aquela mulher me transtornou.”
Em conversa com a psicanalista brasileira Maria Rita Kehl, ela disse que saiu da crise de ciúme ao perceber que estava sentido prazer com aquilo e quando se descobriu, ao contar casualmente sua situação a um taxista, pertencente à “comunidade das mulheres traídas pelo marido”. Segundo ela, o lugar-comum ajudou a lhe dar alívio. “Mas sempre precisamos de algo mais. Por isso, a literatura, para me distanciar do que vivi e me olhar de fora”.
Catherine admitiu a hipótese da entrevistadora de que tenha esbarrado no “tabu do melodrama”. “Sim, obrigado doutora”, brincou. “É muito interessante a hipótese. De fato, A outra vida segue um modelo mais tradicional. Tive de adotar a forma do romance”.
Veja um trecho da mesa.
The art of hanging out
julho 7, 2009 por Ana Carolina ArantesNa tarde de sábado, na mesa Fama e anonimato, o jornalista americano Gay Talese, munido de seu habitual terno de três peças e chapéu panamá, foi entrevistado pelo jornalista brasileiro Mario Sergio Conti e recebido por uma platéia de admiradores

Não há uma expressão precisa no português que substitua hanging out, um hábito corriqueiro que, nas mãos do jornalista, transformou-se em poderosa ferramenta profissional. A idéia é de um tempo que se passa na companhia de alguém, jogando conversa fora ou partilhando preciosos momentos de silêncio – em suma, tudo o que pouco convém a jornalistas da atualidade, dada a necessidade de informação direta e rápida. Todavia, é por causa de tanta conversa nada dispensável que o jornalista de 77 anos escreveu perfis e livros-reportagens como Frank Sinatra está resfriado e A mulher do próximo, exemplos clássicos do new jornalism, modalidade jornalística da qual Talese é considerado um dos criadores.
Simple stories of simple people
Irônica a conclusão de que por ter sido a antítese dos jornalistas tradicionais, Talese tornou-se maior que muitos deles. Um jornalista que nunca quis escrever notícia, e sim explorar o comportamento humano; um contador de histórias que nunca quis escrever ficção. Talese escolheu os relatos de anônimos e não as façanhas dos grandes agentes da história; deu as costas à declaração calculada e acolheu as divagações e os pensamentos soltos de entrevistados conquistados com tempo e escuta solidária. “Curiosidade, paciência e perseverança”, foram os conselhos do escritor, cuja eloqüência e honestidade encantaram o público.
Ao final de 75 minutos, mais do que um relato de sua experiência profissional, Talese presenteava os ouvintes com sua visão de mundo, muito típica daqueles escolados pelo tempo e pelo olhar atento às entrelinhas. O público agradece.
O poeta Euclides da Cunha
julho 7, 2009 por Ana Carolina Arantes
A mesa O mar e os sertões, da programação FLIP – Casa da Cultura, reuniu os críticos literários Francisco Foot Hardman e Walnice Nogueira Galvão e o escritor Milton Hatoum, que discutiram as obras e a figura de Euclides da Cunha. Ao final das conversas, o público pôde identificar no autor de Os sertões um escritor multifacetado.
Segundo Foot Hardman, o livro ofuscou muitos outros escritos de Euclides, que foi ensaísta, jornalista e poeta. Hardman leu algumas poesias pouco conhecidas, cujo lirismo e sensualidade surpreenderam o público.
Para Milton Hatoum, o estilo e o preciosismo das obras de Euclides o alinhavam ao projeto modernista de Mário de Andrade. Seu espírito irrequieto e sua índole aventureira, apontados por Walnice Galvão, faziam dele o avesso do intelectual de seu tempo. Não foi por acaso que, durante a belle époque, Euclides ignorava Paris, cidade modelo da intelectualidade brasileira, e se empenhava em explorar a Amazônia.
Para discutir a mudança de partido do escritor em relação ao conflito em Canudos, Foot Hadman leu, ao final da palestra, o primeiro soneto escrito por Euclides após seu retorno da comunidade, cujas linhas revelam a transformação das ideias do escritor após constatar a experiência dos seguidores de Antonio Conselheiro.
O direito à cultura
julho 7, 2009 por Bruno ZeniA cultura é um direito de todos e um instrumento de transformação social, e o acesso a ela continua difícil nas grandes cidades. Mas a população está cada vez mais consciente de que a arte, a música, a informação e a leitura podem incentivar o convívio entre pessoas de diversas classes e referências culturais. Foram essas as principais colocações dos três convidados especiais da manhã de domingo na FLIP 2009.
Paraty abrigou a mesa “Zé Kleber – Como a cultura desenha a cidade”, promovida pela Casa Azul, para discutir o papel da cultura no desenvolvimento social e urbano. Os participantes foram o secretário de Desenvolvimento Social de Medellín, Jorge Melguizo Posada, o secretário de Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil, e o diretor do Instituto Sou da Paz, Denis Mizne.
Jorge Melguizo apresentou os projetos que vêm transformando a cidade de Medellín (Colômbia) nos últimos cinco anos: os Parques-Bibliotecas instalados nas áreas mais pobres da cidade, antes dominadas pelo narcotráfico. “Eles funcionam como uma espécie de acupuntura do tecido urbano. Só fecham dois dias por ano e funcionam até oito da noite e transformaram-se em espaços de convivência.”
Carlos Augusto Calil falou sobre alguns de novos equipamentos culturais de São Paulo, como um centro cultural que será construído em Cidade Tirandentes, o Calçadão Cultural de Grajaú e a biblioteca de Itaquera, além de comentar a Virada Cultural. “É uma festa de rua que São Paulo não tinha, e está levando todas as idades e classes sociais ao centro”.
Denis Mizne falou das Praças da Paz construídas pelo seu Instituto em parceria com as comunidades onde elas são instaladas. “Não adianta construir equipamentos culturais que são elefantes brancos e depois ficam abandonados. É preciso ocupar os espaços, ouvir a população sobre o que ela quer, aumentar o repertório e insistir que a cultura é um direito não um favor ou um presente.”
Flávio comenta a memorável mesa de Lobo Antunes
julho 5, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPA outra faceta de Gay Talese
julho 5, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPAo comentar a presença de Gay Talese na FLIP, Flávio Moura destacou os últimos momentos da mesa “Fama e anonimato”, que ocorreu neste sábado em Paraty. Segundo ele, Gay Talese revelou uma faceta bastante íntima ao ser questionado sobre a exposição de sua esposa na mídia em função de suas obras.
Veja no vídeo abaixo o momento em que Talese fala sobre esta questão a partir da pergunta de Mario Sergio Conti.
Flávio comenta a mesa de Gay Talese, Fama e anonimato
julho 5, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPConcerto Kaleidos lota a Igreja da Matriz
julho 5, 2009 por Equipe de comunicação da FLIP
Nesta sexta feira, o quinteto de sopros Kaleidos lotou a Igreja da Matriz apresentando composições apreciadas por Manuel Bandeira. No repertório, músicas de Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Ari Barroso, entre outros. O concerto integrou a programação da FLIP – Casa da Cultura.
Abaixo um vídeo com um trechinho do evento, infelizmente a qualidade da imagem e do áudio não faz jus ao concerto, mas dá para ter uma ideia de como cativou o público.
Um português brasileiro
julho 5, 2009 por Bruno ZeniO escritor português António Lobo Antunes arrancou aplausos calorosos da plateia, no noite de sábado, em conversa com o jornalista brasileiro Humberto Werneck. Um dos maiores ficcionistas da atualidade, o autor disse estar escrevendo em Paraty, relembrou suas raízes brasileiras, falou sobre os autores de que mais gosta (especialmente os brasileiros), definiu a arte de escrever como um trabalho “impossível”. Ao comentar sua obsessão em corrigir seus textos à exaustão, decretou: “O escritor aspira à arte total”.
O autor de Arquipélago da insônia e Meu nome é legião emocionou o público ao relembrar o avô, seu homônimo, que morou em Belém do Pará, a avó, para quem escrevia (e vendia) poemas religiosos, e o pai, que lia poesia brasileira, para ele e os irmãos, antes de eles dormirem. “O Brasil para mim não é um país. São cheiros, é a comida, maneiras de viver e falar. O Brasil é uma coisa íntima”.
Lobo Antunes rememorou as leituras dos autores brasileiros do século XIX: Machado de Assis, José de Alencar, Raul Pompeia, Aluízio Azevedo. “Foi onde mamei”, disse ele. O escritor relembrou a relação com Jorge Amado e com João Ubaldo Ribeiro. “Jorge era muito terno comigo, tinha uma relação filial. Me dizia: ‘Gosto de lamber meus filhotes’.” A leitura de poesia, para o escritor, ensina mais que a prosa. “Li os grandes poetas brasileiros. Seus livros estavam em casa: Drummond, Cabral, Bandeira, Murilo Mendes, Jorge de Lima”. Para escrever bem é preciso cortar até osso, advérbios, adjetivos, que Cortazar chamava de “essas putas”.
Sobre a arte de escrever, disse que o livro é um organismo vivo e que todo grande livro é “uma reflexão profunda sobre a arte de escrever”. “Quando entra em você, ele se faz sozinho, deixa as mãos felizes.” Disse que é preciso ir até as camadas mais profundas de todas as superfícies superpostas da consciência. “Por isso gosto de escrever por cansaço.”
E ainda deu receita para escrever, aludindo ao futebol brasileiro: é preciso cabeça, para criar, e mãos para corrigir. “A cabeça cria e a mão corrige. Para quem quer ser escritor, recomendo observar Garrincha jogando. É preciso ter a cabeça de um Didi e a habilidade de um Garrincha.” E, citando Fernando Pessoa, disse que muitas vezes o escritor recebe textos prontos: “O escritor é emissário de um rei desconhecido”.
Veja um trecho da palestra.
Profissão repórter
julho 5, 2009 por Ana Carolina ArantesO jornalista americano Jon Lee Anderson, entrevistado por Daniel Piza na programação FLIP – Casa da Cultura, expôs ao público suas impressões quanto ao futuro dos Estados Unidos e do Iraque e sua experiência na cobertura de conflitos em países da América do Sul, como Colômbia e Brasil. O tom pessimista e ao mesmo tempo apaixonado pontuou boa parte de suas impressões. Pessimismo legítimo, que pouco se confunde com postura niilista, dado o esforço contínuo de Anderson na divulgação dos crimes de guerra. Ao comentar o caso do escritor espanhol Garcia Lorca, morto em 1936 pelo governo ditatorial de Franco, declarou que uma nação que não expõe os erros cometidos no passado está fadada a repeti-los.

Questionado sobre suas expectativas quanto à presidência de Obama, Anderson foi mais comedido que grande parte de seus colegas democratas da imprensa norte-americana. Segundo ele, é um alívio tê-lo na presidência porque Obama é um homem “inteligente e sensato”, qualidades que, apesar de fundamentais a qualquer dirigente, tornam-se uma benção na comparação entre ele e George W. Bush, “possivelmente o pior presidente da história dos Estados Unidos”.
Outra surpresa foi sua opinião a respeito da retirada das tropas no Iraque. Com expressões como “ao abrir a caixa de Pandora não há caminho de volta” e “situação em que não há ganhos”, Anderson afirmou não saber o melhor a ser feito. Afirmou que os Estados Unidos possuem obrigação moral de assistir o Iraque na reconstrução, mas que, sem dúvidas, o procedimento abre margem para mais atrocidades.
Família, amor, guerra e outras encrencas
julho 5, 2009 por Bruno ZeniJames Salter e Anne Enright protagonizaram a mesa “Segredos de família” na tarde de sábado em Paraty. O escritor americano foi, antes de se tornar escritor, piloto de caça da Força Aérea dos Estados Unidos, tendo combatido as forças soviéticas na Coreia. A autora irlandesa foi produtora de TV antes de começar a escrever.
“Durante um tempo, eu tinha que enfrentar o combate na televisão, com adrenalina parecida com a de quem vai à guerra”, relatou Enright. Salter contou que começou a escrever quando ainda era piloto. Seu primeiro livro era um romance sobre a experiência da guerra.
A família, para Enright, é um assunto fascinante pois nem sempre gostamos de quem amamos. “A família é algo que pode ser bem desagradável, ainda que amemos aqueles que são carne da nossa carne. Tenho um grande interesse em investigar a diferença entre o amor biológico e o amor por escolha. O fascinante dos filhos é que eles sintetizam esse dois tipos de amor”, obervou a irlandesa, autora de O encontro. O autor americano falou de seu antigo casamento com o cinema, do qual, porém, se divorciou e com o qual agora mantém uma relação apenas “amigável”.
Sobre as mulheres na literatura, Salter lembrou que a presença feminina é relativamente recente. É um fenômeno moderno, que vem desde o Iluminismo e só se intensifica”. Salter, autor de Última noite, disse conhecer muitas mulheres, mas que “na essência, são sempre desconhecidas”. Para Enright, “não se pode ser mulher 100% do tempo. Muitas vezes, disse ela “sou apenas humana”.
Ao comentar suas influências, Enright disse gostar de Joyce e Yates e ter descoberto a obra de Clarice Lispector recentemente, no aeroporto. Salter elegeu entre seus autores preferidos os russos do século XIX, como Gogol e Isaac Bábel, além de Tchecov. Veja o trecho da conversa em que eles comentam suas vozes narrativas.
Prenez soin de vous
julho 5, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPSophie Calle explica como o romance com Grégoire terminou e como se transformou na exposição “Prenez soin de vous” (Cuide-se).
O mediador Angel Gurría-Quintana pergunta à Sophie por que ela não falou com Grégoire após a carta do fim do relacionamento.
Discutindo a relação
julho 4, 2009 por Bruno ZeniNa primeira vez que os ex-namorados Sophie Calle e Grégoire Bouillier se encontraram em público depois do fim do relacionamento, a conversa entre os dois se concetrou na antiga relação e na maneira como ambos reagiram ao rompimento. Ambos responderam de maneira diferente à pergunta sobre se a vida mudou depois que Sophie transformou a carta de separação em obra de arte. Grégoire disse “não”, Sophie, “sim”.
A separação resultou de um e-mail enviado por Grégoire. Confusa com as palavras evasivas do namorado, Calle decidiu mandar a carta para 107 mulheres interpretarem o que ele realmente quis dizer. A artista escolheu mulheres de 107 profissões diferentes: revisora, cantora, atriz, bailarina, psicanalista, jornalista. “Não convidei nenhuma artista. Nesse trabalho, a artista sou eu.” O resultado é o trabalho Prenez soin de vous (Cuide-se), que recebeu como título as últimas palavras da carta. Indagado pela plateia sobre por que tratou Sophie formalmente (por “vous” e não por “tu”), Grégoire disse que é assim que trata as mulheres que ama. Sophie, por sua vez, disse que também trata assim os homens com quem se deita.
Os dois discordaram sobre a maneira que a relação terminou, mas concordaram sobre a qualidade das obras artísticas que falam do namoro: Prenez soin de vous, e o livro O convidado surpresa, de Grégoire. “Não concordo com o procedimento de Sophie, mas o resultado é incrível”, disse ele. “O e-mail era de alguém que decide ir embora, mas não sabe como dizer isso”, retrucou Sophie. “Mas não se tratava de vingança, mas um projeto artístico”.
Ao final, reconciliação pública pela arte e pela palavra.
Flávio comenta a mesa Entre quatro paredes, com Sophie Calle e Grégoire Bouillier
julho 4, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPRuidosa música
julho 4, 2009 por Bruno ZeniNa manhã de sábado, o crítico musical da revista New Yorker, Alex Ross, falou ao público de Paraty sobre a música clássica do século XX. O autor de O resto é ruído comentou as reações fervorosas do público à estreia de A sagração da Primavera, de Stravinski, com coreografia de Nijinski, em 1913. Ross falou também sobre a relação de alguns compositores, como Strauss, Shostakovich e Wagner com a política e com a história.
Sobre a perda de público que a música erudita sofre no último século, Ross disse que este tema ainda é um enigma. “As pessoas gostam de Picasso, Matisse, Rotkho e Pollock na pintura, de James Joyce na literatura, mas na música ainda há dificuldade em aceitar a dissonância. E, no entanto, o cinema usa largamente músicas que não são melodiosas, basta lembrar dos filmes de Hitchcock. O ruído ainda parece ser um fenômeno social chocante”.
Ross contou que chegou a escrever alguns parágrafos sobre música brasileira, mas os cortou do livro. “Agora estou arrependido”, brincou. O resto é ruído faz menção a Villa-Lobos, mas Ross diz que gosta também de Camargo Guarnieri, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, de bossa nova, Caetano Veloso e Chico Buarque.
Não bastasse a verdadeira aula de história da música contemporânea, o crítico ainda explicou a música dodecafônica de Schoenberg. Veja o trecho da palestra em que ele fala de música brasileira.
Flávio comenta a mesa de Alex Ross, O resto é ruído
julho 4, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPManifestação das comunidades tradicionais paratienses teve o apoio de Chico Buarque
julho 4, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPAs ruas de Paraty assistiram ontem a duas manifestações populares. Um grupo de maracatu percorreu a cidade batucando, e o Fórum das Comunidades Tradicionais protestou pelos direitos de indígenas, quilombolas e caiçaras.
Veja abaixo as principais reinvidicações do Fórum das Comunidades Tradicionais.
Chico Buarque, ao final de sua mesa, falou algumas palavras em apoio a manifestação.
Flávio comenta a mesa de Chico Buarque e Milton Hatoum
julho 4, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPTas na FlipZona
julho 4, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPMarcelo Tas dá aula de blog para a molecada da FlipZona
Acompanhe a cobertura da FLIP feita pelos meninos da FlipZona acesse www.flipzona.org.br
Realismos universais e estranhamentos particulares
julho 4, 2009 por Bruno ZeniO afegão Atiq Rahimi e o brasileiro Bernardo Carvalho protagonizaram a mesa “O avesso do realismo”, em que leram trechos de seus romances mais recentes: Syngué sabour – Pedra de paciência e O filho da mãe. Os dois autores começaram por discordar a respeito da capacidade de a literatura transitar por culturas diversas e se deixar influenciar por elas.
Para Rahimi, que escreveu dois de seus romances no exílio, o Afeganistão não foi capaz de constituir uma literatura nacional, e suas obras procurar aliar um gênero típico da literatura ocidental, como o romance, à tradição persa, marcada pela oralidade. Para ele, o escritor quer compartilhar sua cultura e está “destinado a romper fronteiras”.
Para Bernardo Carvalho, porém, não há passagens tranquilas de uma cultura a outra. “Me interessa não o que é universal, mas as estranhezas particulares que podem ser incompreensíveis para determinadas culturas.” Ambos concordaram ao comentar o aspecto realista de suas obras. “Meu realismo é autorreflexivo, traz o germe de sua própria destruição”, disse Carvalho. Para Rahimi, o realismo é uma convenção. “Quando voltei ao Afeganistão em 2002, o país estava em ruínas, tudo parecia irreal, como num sonho ou num pesadelo. Para existir, a realidade precisa ser contada”, disse ele. Veja um trecho da mesa.
Flávio comenta a mesa de Edna O´Brien
julho 4, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPFlávio comenta a mesa de Edna O´Brien.
Em seu comentário destaca o poema que Edna escreveu para Obama, que segue no video abaixo.
A experiência pessoal é válida como motor da literatura?
julho 4, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPFlávio Moura comenta a mesa o Eu profundo e os outros eus, onde Mario Bellatin critica a inspiração literária na própria vida do autor. Por outro lado Cristóvão Tezza escreveu um livro muito bem sucedido aonde o tema central é justamente sua expriência pessoal na relação com seu filho, que possui síndrome de down.
Fica aí a pergunta, a experiência pessoal é válida como motor da literatura?
Sequências brasileiras
julho 4, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPNa noite desta sexta-feira, Chico Buarque e Milton Hatoum dividiram a mesa “Sequências brasileiras”.
Você pode conferir os detalhes da mesa aqui e ver a seguir alguns trechos da mesa mais procurada da FLIP 2009.
Autobiografia, autoficção, e dublês
julho 4, 2009 por Bruno Zeni
O mexicano Mario Bellatin e o brasileiro Cristovão Tezza dividiram a mesa “O eu profundo e outros eus”, na tarde de sexta-feira na FLIP 2009. Bellatin falou sobre o seu projeto de “desaparecer” como autor. “Procuro me distanciar do que escrevo para me tornar leitor de mim mesmo. Tento indicar o que há de vazio e de silêncio nos textos, escapando de estruturas como autor, conjuntura, época”. O escritor recusou, porém, o rótulo de experimental e disse que não se trata de evitar a realidade, mas, ao contrário, “incidir de uma maneira mais poderosa” sobre ela. Bellatin comentou também algumas de suas ações literárias pouco usuais, como a de ter organizado um colóquio de literatura com dublês dos maiores escritores mexicanos contemporâneos.

O brasileiro Cristóvão Tezza, por sua vez, ganhou projeção no último ano graças a um livro autobiográfico, O filho eterno. Para Cristovão Tezza, a ficção é um modo de compreensão do mundo, que não se confunde com as linguagens da religião, da moral, da ciência, da informação, mas se apropria de todas as outras a linguagem. “Para mim, o fato biográfico é mais um elemento da realidade, como qualquer outro”, disse o autor.
Os escritores leram trechos de suas obras: Flores, de Bellatin, e Um erro emocional, romance inédito de Tezza.
Um teto todo seu
julho 4, 2009 por Ana Carolina ArantesA mesa 8 da FLIP, Sentidos da transgressão, reuniu duas distintas damas: a escritora irlandesa Edna O’Brien, entrevistada pela presidente e fundadora da FLIP, Liz Calder. Apesar da produção focada nos romances, foi poesia que o público pôde observar em seus gestos delicados e fala ritmada, de elegância britânica que muito condiz com os 50 anos vividos na Inglaterra. Nascida em 1932, Edna abandonou a Irlanda na década de 1960, após ter seu livro de estreia, Coutry Girls, banido pela comunidade religiosa local em função da naturalidade com que as personagens discutiam suas vidas sexuais. O exílio, entretanto, não é visto com pesar pela escritora, que continua a ambientar as histórias em seu país natal. Autora de uma das mais respeitadas biografias de James Joyce, Edna referiu-se ao escritor em diversos momentos para explicar sua trajetória na literatura e seu processo criativo.
O universo feminino e, mais especificamente, a realidade de ser escritora e mulher, pontuou os principais temas da conversa. Para Edna, que foi casada apenas uma vez e teve filhos, a vida conjugal tradicional e a vida de escritora são, de certa forma, inconciliáveis. Entretanto, são os filhos, diz, a razão por que mantém sob controle a loucura e a insensatez que a fazem escritora. Perguntada sobre o papel da paixão em seus romances, brincou: “Paixão? É dela que fui acusada”, em referência à censura dos livros. Séria, em seguida, concluiu: “É a paixão na vida que alimenta a paixão nas páginas”, conquistando, como esperado, longa sessão de palmas do público.
Questionada por Liz Calder, Edna encerrou a mesa recitando um poema que fez em homenagem ao presidente Barack Obama, a que chamou de “meteoro humano”

Falcatruas brasileiras
julho 4, 2009 por Bruno Zeni
Falcatruas, mamatas, narrativas míticas, literatura e música foram tema da conversa entre Chico Buarque e Milton Hatoum, na mesa 10 da FLIP 2009. Como se esperava, “Sequências brasileiras”, foi a mesa literária mais concorrida deste ano, até o momento. O blog da FLIP acompanhou a conversa de fora da Tenda do Telão, no início da noite de sexta, nas ruas lotadas de Paraty.
Chico Buarque e Milton Hatoum contaram como conceberam seus relatos mais recentes: o romance Leite derramado e a novela Órfãos do Eldorado, respectivamente.
O livro de Chico é narrado por Eulálio, um homem centenário que relembra os tempos de glória de sua família quatrocentona, inclusive algumas falcatruas, como a de um deputado paulista que ganhou uma “mamata”: a concessão para construir o porto de Manaus. “São histórias reais, que ouvi contar por gente conhecida minha.” O fato de ser filho do historiador Sergio Buarque pode ter ajudado na composição da história. “Papai gostava de contar muitas histórias e gostava muito de fofoca. “Reunia os amigos e contava coisas escabrosas”. O romance tem como protagonista e narrador esse membro de uma família da elite brasileira, que se denuncia no próprio relato.

Milton Hatoum também foi buscar na história inspiração para sua novela. Mas a narrativa de Arminto Cordovil esbarra não só em episódios históricos, mas também no mito de Eldorado, a rica e mítica cidade perdida no fundo de um rio. Milton contou que sua pesquisa histórica, feita para compor a história, resultou em material farto a respeito das falcatruas brasileiras. Indagado se sentia um escritor regional, disse que sim, com orgulho. Sou tão regional que me torno universal. Num mundo globalizado como o de hoje, sem chão histórico, ser regional é motivo de orgulho.”
Comentando algumas semelhanças sobre os dois livros, os dois escritores disseram, em tom de piada, que haviam copiado uma ao outro. Os autores comentaram ainda a concisão de suas obras, e outros escritores de que gostam, como Guimarães Rosa. Chico comentou ainda que prefere ler a escrever. “Escrever é chatíssimo”, disse ele. “Durante o tempo que eu escrevia o livro, todo dia relia o texto inteiro”. Comentou também a dificuldade de se livrar dos livros anteriores. “Os narradores permanecem na minha cabeça”. E falou também sobre a relação entre música e literatura. “Tenho necessidade de sentir musicalmente cada frase. Se o que escrevo não estiver cantável, jogo fora”.
Ao final da mesa, Chico se pronunciou a favor das comunidades quilombolas, indígenas e caiçaras, que fizeram manifestação pelas ruas de Paraty nesta sexta.
Veja em breve trechos da conversa entre os dois escritores.
Flávio fala sobre a mesa O avesso do realismo
julho 3, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPFlávio fala sobre a mesa Evocação de um poeta
julho 3, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPPoesia, inspiração e melodia
julho 3, 2009 por Bruno ZeniTrês poetas brasileiros contemporâneos homenagearam Manuel Bandeira e leram composições próprias na manhã de sexta-feira. Na mesa “Evocação de um poeta”, Angélica Freitas, Heitor Ferraz e Eucanaã Ferraz comentaram a falsa oposição entre inspiração e trabalho na construção dos poemas, falaram sobre a relação entre poesia e música e contaram como Bandeira os influenciou.

Do poeta pernambucano, Angélica Freitas escolhe “Porquinho-da-Índia” e “Namorados”, ambos de Libertinagem, para sua leitura bandeiriana e destacou que a poesia, para ela, é uma forma de “emoção interior” que se manifesta fisicamente. Heitor Ferraz leu “O martelo”, “Consoada” e “Maçã”, escolhidos por terem relação com a obra dele próprio. Heitor disse ter aprendido com Bandeira a ouvir a melodia da língua e com Francisco Alvim a “ideologia cristalizada” na fala brasileira.
Eucanaã leu “Evocação do Recife”, onde disse haver toda a poética de Bandeira e “Satélite”. O autor destacou sua relação com a música popular, especialmente com Chico Buarque, Caetano Veloso e Vinicius de Moraes, e com a cantora Maysa. Veja um trecho da mesa abaixo.
Flávio fala sobre a mesa de Richard Dawkins
julho 3, 2009 por Flavio MouraDawkins responde
julho 3, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPAo final da mesa do autor britânico, houve uma sessão de perguntas da plateia.
Confira no vídeo abaixo como Dawkins reagiu.
Antidarwinista social
julho 3, 2009 por Bruno ZeniNo ano em que se comemoram 200 anos do nascimento de Charles Darwin e 150 anos da publicação de A origem das espécies, a FLIP recebeu o maior darwinista em atividade no mundo. O britânico Richard Dawkins comentou seus principais livros, como O gene egoísta e Deus, um delírio, e reafirmou sua descrença na existência de Deus. “Sabemos por meio de evidências, não por revelação, tradição e autoridade”, disse ele. No entanto, Dawkins afirmou apreciar a Bíblia, do ponto de vista literário, e obras como as de Bach e Michelangelo, inspiradas pela religião. “Mas claro que isso não prova a existência de Deus”.
Segundo ele, os últimos 150 anos mostraram que Darwin estava certo e que a seleção natural é o processo pelo qual se desenvolve a evolução. O ser humano, porém, é o único animal que luta contra a Natureza e rebela-se contra o princípio darwinista. Apesar de admitir que pode haver “epidemias culturais”, como na moda, na música e no comportamento religioso, Dawkins disse que o darwinismo não explica os processos sociais: “É preciso evitar o darwinismo social e político”.

O autor falou também de duas questões importantes para a humanidade: a consciência e a linguagem. Para o primeiro tema, disse não ter uma teoria. “Se a tivesse, já teria ganho o Nobel”, brincou. Quanto à linguagem explicou que alguns primatas conseguem aprender a linguagem de sinais e adquirem vocabulário, mas não articulam ideias; e que computadores podem disputar partidas de xadrez, mas não sentem nada a respeito disso.
Questionado sobre o que diria a Deus se o encontrasse quando morrer, brincou mais uma vez: “Perguntaria qual deus ele era: Zeus, Mitra, Apolo, um deus asteca, australiano, africano? Ou então simplesmente diria que isso não era evidência suficiente da existência de Deus”.

Veja o trecho em que Dawkins explica qual o sentido da vida, do ponto de vista da ciência.
Flávio comenta a mesa China no Divã
julho 3, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPChina cubista
julho 3, 2009 por Bruno ZeniNa primeira vez que a China é representada na FLIP, dois autores chineses traçaram o retrato de um país desarticulado. A jornalista Xinran e o fotógrafo e ficcionista Ma Jian, ambos radicados em Londres, comentaram os livros que publicaram no Brasil e falaram sobre episódios da história recente do gigante asiático.

Para Ma Jian, o que houve de mais terrível no massacre da Praça da Paz Celestial, que completa 20 anos em 2009, foi a atitude do governo chinês de procurar eliminar o episódio da história chinesa. “O local do massacre foi limpo e fizeram uma lavagem cerebral na população chinesa”, disse o escritor. O romance Pequim em coma, de Ma Jian, recria esse acontecimento por meio da história de um personagem, inspirado no irmão do autor, que passa 10 anos em coma e acorda subitamente. Ma Jian, que foi obrigado a deixar o país e seguir para Hong Kong e depois para a Inglaterra, disse que muitos autores ainda têm medo de escrever na China.

Para a escritora Xinran, autora de As boas mulheres da China, as novas gerações estão desconectadas da história e das tradições do país. Ela criticou a sede de novidade, consumo e transformação por que passa o país. Xinran comparou o país a um “retrato de Picasso”, em que os elementos estão fora do lugar, como numa colagem. Seu livro mais recente, Testemunhas da China, traz depoimentos de chineses que viveram a Revolução Cultural de Mao Tse-tung.
Veja o que os autores disseram sobre seus livros na mesa 4 da FLIP.
Manifesto por um Brasil Literário foi lançado na FLIP
julho 3, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPNa quinta, dia 2 de julho, durante FLIP, o Instituto C&A, a Associação Casa Azul, a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, o Instituto Ecofuturo e o Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF) promoveram debate sobre a importância da leitura literária e políticas de promoção da leitura. Na ocasião, o escritor e poeta Bartolomeu Campos de Queirós leu o “Manifesto por um Brasil literário”, construído a partir do anseio das instituições envolvidas em promover a leitura de livros de literatura.
Esse documento é o ponto de partida de discussões em torno da importância da leitura de livros. O objetivo é acolher propostas e engajar o maior número de pessoas em torno dessa causa. É o primeiro passo para mobilizar o país em busca da construção de um Brasil literário.
O debate foi orientado pelas seguintes questões: é possível transformar o Brasil em um país de leitores? O que entendemos por um país de leitores e o que esperamos dele? Como fazer para que as ações existentes de promoção da leitura possam convergir para uma atuação conjunta na construção de um país leitor?
Depois da FLIP, os interessados podem acompanhar as ações de incentivo à leitura literária que estão acontecendo no país, conhecer a agenda que pauta essa temática e saber os próximos passos. Essas iniciativas darão base a um movimento nacional de incentivo à leitura literária e estarão publicadas no site www.brasiliterario.org.br, também lançado no dia 2. Esse espaço virtual abrigará um fórum de discussão, enquetes e notícias com essa temática e é o principal meio de adesão ao manifesto.
Mauro Munhoz presidente da Associação Casa Azul comenta o Manifesto
Bartolomeu Campos de Queiroz, autor do Manifesto comenta
Elisabeth Serra, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil
Revisitar e reinventar o passado
julho 3, 2009 por Bruno ZeniTrês escritores, três histórias inventadas, mas com um fundo de verdade. Na chuvosa tarde de quinta-feira, Tatiana Salem Levy, Arnaldo Bloch e Sérgio Rodrigues dividiram a mesa 3 da FLIP 2009, “Verdades inventadas”, e discutiram os limites entre realidade e ficção na literatura. Os três falaram sobre livros que escreveram a partir de pesquisa e memória, mas que também se abrem para a elaboração literária e a a ficção.
Os irmãos Karamabloch, de Arnaldo Bloch, reconstitui a saga da família Bloch, controladora da extinta revista Manchete. O título retoma a forma espirituosa com que o jornalista Otto Lara Rezende se referia aos irmãos Adolfo, Arnaldo e Boris, aludindo aos fratricidas irmãos Karamázov, da obra de Doistoiévski. O livro demandou oito anos de pesquisa familiar, mas foi o depoimento de duas velhas tias do autor que “contaminou” o relato de veracidade emocional.
Tatiana Salem Levy leu um trecho do seu premiado romance A chave de casa, que conta a história de uma jovem mulher, de família judia, que decide ir à Turquia em busca da história dos antepassados. Seu avô deixara a península ibérica com a chave de casa, com a esperança de um dia retornar a ela. Segundo Tatiana, foi um livro difícil de escrever, menos por conta da história familiar e mais por abordar “o segredo do silêncio” pessoal da autora. Para ela, a pesquisa e a viagem que fez à Turquia não serviram tanto para coletar informações. Resultaram mais em elementos de composição, que no seu caso têm a ver com a necessidade de “transformar em sangue próprio” uma experiência alheia ou passada.
Sérgio Rodrigues falou do processo de construção do romance Elza, a garota, sobre a militante comunista assassinada pelo próprio partido. Apesar de partir de um episódio real da história brasileira, o autor terminou por compor um livro “híbrido”, que compreende ensaio, estudo e ficção.
Na mesa os três autores falaram das dificuldades em remexer em fatos do passado (relacionados às suas histórias pessoais e ao passado brasileiro) e da coragem necessária para publicar seus livros. Veja no vídeo abaixo:
Flávio Moura comentando como foram as mesas Separações e Verdades Inventadas
julho 2, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPFlávio, contente com o resultado das primeiras mesas da FLIP, comenta a mesa Separações, com Rodrigo Lacerda, Domingos de Oliveira e mediação de Paulo Roberto Pires, e a mesa Verdades Inventadas, com Tatiana Salem Levy, Arnaldo Bloch e Sérgio Rodrigues com mediação Beatriz Resende.
Noite de boas-vindas com música e palavras
julho 2, 2009 por Bruno ZeniA primeira noite da FLIP 2009 teve dois shows com lotação completa da Tenda do Telão. Romulo Fróes e banda abriram a apresentação musicial, em compasso rockeiro, com letras elaboradas e guitarras altissonantes. Antes da atração principal, a presidente da Festa Literária, Liz Calder, leu uma carta de boas-vindas ao público, em português e em inglês.

Adriana Calcanhotto subiu ao palco anunciada por Liz Calder e, antes de dar vazão à sua voz cristalina, leu em tom rascante o “Poética” de Manuel Bandeira, que começa com os conhecidos versos: “Estou farto do lirismo comedido/ Do lirismo bem-comportado/ Do lirismo funcionário público com livro de ponto (…)”.

O público da tenda degustava champanhe oferecido pelo patrocinador da FLIP. Do lado de fora, a praça repleta.
O amor acaba, mas nem sempre mal
julho 2, 2009 por Bruno ZeniA segunda mesa literária da FLIP 2009 reuniu o escritor Rodrigo Lacerda e o dramaturgo e cineasta Domingos de Oliveira. Lacerda leu um trecho de Outra vida, seu romance mais recente, lançado este ano. Domingos de Oliveira leu um texto bem-humorado sobre o tema da mesa, “Separações”, escrito especialmente para a FLIP. O autor fez a plateia se divertir — e refletir — com as histórias de seus cinco casamentos e cinco separações e com três indagações sobre o amor: Por que o amor acaba? Por que dói tanto quando acaba? O amor é mesmo necessário?
Lacerda contou que procurou fugir de seu universo pessoal e contar uma história de um casal comum, de maneira a dar destaque ao que há de extraordinário na vida cotidiana. Para ambos, o amor acaba, mas nem sempre de maneira trágica. Às vezes, acaba e acaba bem.
Os dois autores comentaram seus processos de criação literária e a relação que mantêm com os personagens. Veja o trecho em que ambos falam de seus personagens.
Histórias literárias em imagens
julho 2, 2009 por Bruno ZeniA primeira mesa da FLIP reuniu, na manhã de quinta-feira, quatro dos mais destacados quadrinistas brasileiros da nova geração. Rafael Coutinho, Rafael Grampá e os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá comentaram suas criações e apresentaram, no telão da Tenda dos Autores, trechos dramatizados de suas HQs. Veja abaixo o que eles mostraram.
Fábio Moon e Gabriel Bá contaram como foi a passagem da fase em que faziam fanzines com os amigos de faculdade para o momento em que ganharam projeção internacional e conquistaram espaço no mercado americano de quadrinhos, com as HQs Casanova e Umbrella Academy. Grampá comentou Mesmo delivery e Fury water, sua obra em parceria com o escritor Daniel Pellizari. Rafael Coutinho, filho do cartunista Laerte, descreveu a relação de amizade com o pai e falou deCachalote, a HQ a quatro mãos que desenvolveu com o escritor Daniel Galera.
Eles também responderam à pergunta recorrente sobre se os quadrinhos podem ser considerados literatura. Veja no trecho a seguir.
Flávio Moura comenta como foi o Show, a Conferência de Abertura e a Mesa 1 – Novos traços
julho 2, 2009 por Equipe de comunicação da FLIPFlávio Moura, infelizmente, não tem tempo de postar, mas a equipe de comunicação da FLIP correu atrás para saber o que ele está achando da programação. Teremos aqui no blog, frequentemente, pequenos vídeos com comentários dele.
Alumbramentos bandeirianos
julho 2, 2009 por Bruno ZeniA Conferência de Abertura da FLIP teve como tema a poesia de Manuel Bandeira. O professor e crítico Davi Arrigucci Jr. falou sobre a importância do alumbramento (epifania, êxtase, a “emoção diferente da poesia”) na obra do autor pernambucano que morou a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro.
Foi, aliás, no morro do Curvelo, em Santa Teresa, no Rio, que se deu a viravolta na vida de Bandeira, uma verdadeira guinada que fez com que sua poesia passasse a atentar para a simplicidade do cotidiano. Foi ali, no pé do morro carioca, que o autor deixou de lado o sentimento “cabotino da piedade de si mesmo”, numa “superação do sentimentalismo” que vai dar na poesia humilde, atenta ao que a vida simples tem de mais sublime.
Para Arrigucci, a poesia de Bandeira é marcada pela convivência e pelo diálogo entre o alto e o baixo, o interior e o espaço de fora, entre o quarto e a rua. Bandeira deixa “o ruído do mundo humilde” penetrar nos sentimentos elevados do alumbramento. Por meio da leitura de alguns poemas do autor, como “Momento num café”, “Poema só para Jaime Ovalle”, “Comentário musical” e “Poema do beco”, Arrigucci empreendeu um verdadeiro itinerário pela Pasárgada de Bandeira: do escritor que recebeu a herança romântica do poeta que vai morrer jovem à formação do autor como um dos mais inventivos e influentes poetas modernistas brasileiros.
Foi saudado de pé pelo público da FLIP 2009.
A FLIP começa
julho 1, 2009 por Bruno ZeniA tenda dos autores já está pronta para a FLIP 2009. Hoje teremos a Conferência de Davi Arriguci Jr. sobre Manuel Bandeira às 19h, e o show de Adriana Calcanhotto, com abertura de Rômulo Froes e banda. Pela manhã, a bilheteria da FLIP já apresentava movimento de pessoas em busca de ingressos. A loja e a livraria da Vila, na Tenda dos Autógrafos, já estão funcionando. E a Flipinha já começou.



Tempo e lugares de Bandeira
julho 1, 2009 por Bruno ZeniA mostra fotográfica Os lugares de Bandeira, organizada pelo IMS (Instituto Moreira Salles) e pela FLIP, pode ser vista na Tenda dos Autores. Ela traz imagens de Manuel Bandeira e das principais cidades onde o poeta morou, na época em que ele esteve nesses locais: sua Recife natal, o centro do Rio de Janeiro (cidade onde passou quase toda a vida), e Ouro Preto, a cidade histórica de Minas Gerais que tanto encantou os escritores modernistas.
As fotos, grandes ampliações em preto e branco, mostram Bandeira em sua casa no Rio dos anos 1940, o poeta em companhia do cronista Orígenes Lessa e panorâmicas do Recife feitas no começo do século XX pelo fotógrafo franco-brasileiro Francisco du Bocage. Imagens de outros três fotógrafos do acervo do IMS compõem a mostra: José Medeiros, Marcel Gautherot e Carlos Moskovics.
Outra preciosidade de registro visual do poeta está na edição que a revista Serrote preparou especialmente para a FLIP 2009: duas fotos inéditas de Bandeira, de pijama, na janela de sua casa na rua do Curvelo em Santa Tereza, centro do Rio de Janeiro, na década de 1930. Os fotogramas vêm acompanhados de ensaio do professor de literatura hispano-americana da USP Jorge Schwartz, diretor do Museu Lasar Segall (São Paulo). A revista pode ser retirada gratuitamente em certos pontos de Paraty.
A seguir, o espaço expositivo na Tenda dos Autores.

Montagem das tendas
julho 1, 2009 por Ana Carolina ArantesA produção trabalha em ritmo acelerado para finalizar as tendas. Os números impressionam: as equipes técnica e de arquitetura contam com cinco chefes que coordenam as áreas de marcenaria, cenografia, montagem, som, projeção, luz e tradução. O grupo todo reúne cerca de 110 pessoas. A autoria do projeto de cenografia da FLIP é de Mauro Munhoz e do designer Dárkon V Roque, a partir de ilustrações de Jeff Fischer.
As fotos abaixo mostram a movimentação da equipe e dão certa ideia da composição dos espaços, que, conforme a Festa Literária se aproxima, adquirem mais e mais a cara da FLIP 2009.
O espaço de autógrafos, que nas primeiras FLIPs era composto de uma singela mesa, desde a edição de 2008 se transformou em uma tenda com dois anexos. Esta é a Tenda dos Autógrafos da FLIP 2009, ainda em montagem.
A Tenda dos Autógrafos abriga também a loja oficial da FLIP. E uma unidade da Livraria da Vila:
Abaixo, podemos ver alguns dos jovens voluntários responsáveis pela cenografia da FlipZona, a programação da FLIP direcionada aos adolescentes.


A cenografia da Flipinha, de autoria de Miguel Paladino, foi desenvolvida a partir de desenhos das crianças do sistema de ensino paratiense.
Abaixo, o boneco da baleia Moby Dick, de Herman Melville, uma das histórias homenageadas pela Ciranda de Máscaras e Bonecos deste ano. Com 10 metros de comprimento e 3 metros de altura, a baleia está instalada na Praça da Matriz. Seu interior pode ser explorado pelos visitantes.

A Tenda da Flipinha, antes de receber a decoração das crianças.
A Biblioteca da Flipinha, que até o ano passado ocupava um espaço na própria Tenda da Flipinha, este ano ganhou tenda aos moldes de um coreto, no centro da Praça da Matriz.

Em função da procura recorde de ingressos, a equipe de arquitetura ampliou a Tenda do Telão de 1200 para 1400 cadeiras.
Vista da Tenda dos Autores a partir da ponte sobre o rio Perequê-açu. O formato da tenda foi mantido como nos últimos anos:
A equipe de cenografia finaliza a Tenda dos Autores:

Montagem da cenografia do palco, no interior da Tenda dos Autores:
Movimentos da véspera
junho 30, 2009 por Bruno ZeniNa véspera do início da 7a. FLIP, alguns autores já estão em Paraty. Nesta terça, Davi Arrigucci Jr. dava entrevista para uma rede de tevê nas ruas da cidade. Gay Talese já estava acomodado na Pousada do Ouro. Edna O’Brien passeava de barco com Liz Calder, presidente da FLIP. Edson Nery da Fonseca e o mexicano Mario Bellatin também já chegaram. As tendas ainda estão à meia-luz e a brita vai sendo espalhada entre os caminhos que levam de um local a outro, enquanto a cenografia é finalizada. Na FlipZona, os jovens paratienses já se preparam para fazer, eles mesmos, a cobertura da programação, em texto e vídeo. Faz calor em Paraty e a noite que começa nos lembra, apenas remotamente, que estamos em pleno inverno brasileiro.
Por dentro da festa e antes dela
junho 30, 2009 por Bruno ZeniAntes de começar, a FLIP está em gestação. Desde 2003, pelo menos, quando foi realizada pela primeira vez. Para quem já foi à FLIP outras vezes, a festa começou ainda antes, lá atrás, de acordo com a experiência e a memória pessoal de cada visitante, morador, funcionário ou autor. Para quem escreve, a Festa Literária Internacional de Paraty pode ter começado nas primeiras letras pronunciadas há muito tempo, quando as palavras e as ideias ainda se formavam, em estado bruto, e seu autor nem sonhava com Paraty.
A 7a. edição do evento começou desde o momento em que a FLIP anterior teve fim. Ou, pelo menos, desde o começo deste ano, quando o calendário já avisava: falta pouco. E desde abril último ela já é realidade para quem está diretamente envolvido nos últimos arremates conceituais e na produção de textos e materiais gráficos. A poucos dias do evento, o escritório de São Paulo também respirava ares paratienses.
Todo esse exercício de antecipação vai, na verdade, para dizer que a FLIP é um evento que conta com tempos múltiplos, que combina experiências diversas e termina por ser uma obra coletiva, em que escritores, leitores, críticos, artistas, jornalistas, viajantes e paratienses se encontram em momentos diferentes de suas experiências de vida.
O fato de esse encontro ocorrer mais uma vez a partir desta quarta-feira 1 de julho — e mais uma vez ser regado a literatura — é algo a ser celebrado. Para lembrar Manuel Bandeira, cuja poesia é homenageada na FLIP 2009, tomemos alegria.
Aviso aos flipeiros
junho 29, 2009 por Flavio MouraPor causa da correria, não conseguirei atualizar o blog durante a Flip. Mas haverá uma cobertura caprichada do evento neste espaço. Ela ficará a cargo do escritor Bruno Zeni e da jornalista Ana Carolina Arantes. Zeni é um craque do texto, autor de Sobrevivente André du Rap (Labortexto, 2002) e O fluxo silencioso das máquinas (Ateliê, 2002), além de coordenador editorial da Flip deste ano. Ana Carolina é autora de boa parte dos textos que foram para o site e para o catálogo das Flips 2008 e 2009. A bola agora está com eles.
As proezas de Zequinha
junho 29, 2009 por Flavio MouraAlguém já disse que um bom escritor a gente conhece pela habilidade com as cenas de sexo. Pegue o Pornopopéia, dê uma espiada entre as páginas 128 e 174, e depois diga se nesse quesito há quem chegue aos pés de Reinaldo Moraes. O livro será lançado hoje na Mercearia São Pedro.
Contando estrelinhas
junho 27, 2009 por Flavio MouraA Folha de hoje traz uma matéria sobre a Flip que merece comentário. O argumento principal é o de que a ficção perdeu espaço na festa para artistas de outras áreas. E de que os convidados que não são propriamente ficcionistas representam uma estratégia da curadoria para mascarar a falta de “estrelas” do mundo da ficção, que teriam em Lobo Antunes o único representante este ano.
Ok, ok. O objetivo dos repórteres é manter a imagem de distanciamento crítico cultivada pelo jornal e suscitar respostas como esta. Mas é justamente por isso que achei que valia morder a isca e fazer um post a respeito.
Como já comentei neste blog em texto justamente sobre a Ilustrada (50 anos em 5), acho ótimo que a Flip seja alvo de críticas e estimule o debate em torno das carências e contradições do meio literário e artístico no Brasil.
O problema é que de novo me parece que as provocações chegam por vias tortas – e ficam muito aquém da consistência crítica que se poderia esperar de um jornalismo feito com seriedade.
Nem acho que valha perder muito espaço para rebater os argumentos. Pelos critérios da matéria, por exemplo, Chico Buarque não é um escritor com méritos literários independentes, mas “um cantor”. Quando saiu Leite derramado, há uns três meses, não parecia essa a opinião do caderno, que dedicou páginas e páginas ao livro, além de uma resenha alentada da lavra de um dos principais críticos literários brasileiros.
Tampouco acredito que os repórteres vejam consistência no argumento de que autores da não-ficção como Richard Dawkins e Gay Talese venham mascarar a falta de estrelas literárias. Como se autores com esse perfil não fossem convidados desde a primeira Flip. Como se eles mesmos não fossem “estrelas” dignas de cacifar o evento. Como se fosse mais fácil obter o sim de autores como Dawkins em pleno ano Darwin do que de um ficcionista “do porte de um Salman Rushdie”.
De novo, a profundidade da crítica é aquela que uma formiga atravessa com água nas canelas. Tudo se resume a contar estrelinhas. Na matéria do ano passado, o ponto era a falta de celebridades no evento. Na deste ano, a falta de celebridades literárias. E a crítica pára por aí: na contagem dos troféus.
As questões mais relevantes suscitadas pela Flip continuam sem resposta. Por que, afinal, tanta gente se abala até Paraty para ouvir escritores e intelectuais? Num país em que a tiragem média de um livro é 3 mil exemplares, o que leva quase 20 mil pessoas a pegar a estrada e assistir a leituras e palestras que em outro contexto poderiam estar vazias? Qual a especificidade de um evento capaz de unificar motivações tão diversas quanto as de escritores, banqueiros e artistas de tevê?
Sem falar na questão principal: já que os jornalistas consideram que a literatura não está bem representada este ano, qual é mesmo o papel da literatura no debate intelectual hoje em dia? Será que está apenas nesse âmbito o que vale a pena da produção de conhecimento? Parece que nada disso merece discussão. Seguimos comparando estrelinhas.
Algumas raras matérias parecem se preocupar com isso. Por justiça, cito uma desta semana, do Valor Econômico. A crítica é talvez até mais contundente, mas muito mais frutífera.
O pior de tudo é a desconsideração pelos escritores brasileiros. Como se Cristovão Tezza, Milton Hatoum, Bernardo Carvalho, Rodrigo Lacerda, Sergio Rodrigues, Tatiana Salem Levy, Arnaldo Bloch, Heitor Ferraz, Eucanaã Ferraz, Angélica Freitas, Davi Arrigucci Jr, Chico Buarque e até o homenageado Manuel Bandeira não fossem representativos de literatura digna do nome.
Os repórteres miram na curadoria da Flip, mas acabam acertando nesses autores também.
É possível que eu esteja levando a sério demais uma provocação que não mereceria mais que os habituais esgares de enfado. Mas a Ilustrada teve um papel importante para que a Flip pudesse se tornar o que se tornou — não me parece descabido esperar de seus repórteres mais que a capacidade de contar troféus.
Substituto à altura
junho 16, 2009 por Flavio MouraNem tudo são notícias ruins. Para o lugar de Wolff, a Flip escalou o também americano e também craque no conto James Salter. Até o tema da mesa – representações ficcionais da família – permanece, visto que Salter, como Wolff e como Anne Enright, foi fundo nessa seara.
Saiu não faz muito tempo um artigo excelente sobre o trabalho dele. Quem tiver senha no New York Review of Books pode ver aqui. Outra leitura que vale a pena são os comentários feitos por Cristovão Tezza, fã declarado do trabalho de Salter.
Melhoras, Tobias
junho 16, 2009 por Flavio MouraÉ natural que os convidados mais famosos da Flip acabem recebendo também maior atenção da imprensa. Mas um dos meus preferidos era um que ainda não tinha sido muito explorado pelos jornalistas daqui: o Tobias Wolff.
Ele é um desses escritores tão tarimbados que se confundem com o gênero que praticam — no caso, o conto. E também um desses muitos autores que, por uma razão ou outra, não emplacaram direito os poucos livros que tiveram lançados em português.
Como Edna O’Brien, Wolff era um convidado pelo qual a Flip podia fazer alguma coisa no que diz respeito à divulgação no Brasil: com a visibilidade que o evento confere, quantos novos adeptos será que não surgiriam por aqui?
Sem falar no carisma: ele tem fama de ser um dos escritores mais simpáticos da praça, de falar com extrema desenvoltura e de ser tão preciso nos julgamentos quanto no fraseado. Vai aí o videozinho que não me deixa mentir.
Por tudo isso, é uma tristeza a notícia de que não vem mais. Wolff teve um derrame nos últimos dias e por motivos óbvios cancelou todos os compromissos. Até onde sabemos, permanece lúcido e com quadro estável, mas em tratamento intenso para mitigar as pequenas seqüelas que ainda não se sabe se permanecerão.
Vai então este post pra dar a notícia e pra desejar em nome de todos da Flip: melhoras, Tobias.
Pequim em coma
junho 5, 2009 por Flavio MouraPublicado no site do Guardian na última terça-feira, este artigo foi escrito pelo autor chinês Ma Jian a propósito de sua visita à Praça Tiananmen (a Praça da Paz Celestial), em data próxima ao aniversário de 20 anos do massacre perpetrado pelo governo chinês sobre os estudantes que protestavam no local por liberdade de expressão.
Na FLIP, o autor dividirá a mesa com a jornalista Xinran, na qual os dois discutirão, a partir de experiências e trajetórias literárias diferentes, suas perspectivas quanto ao futuro da China, num momento em que o país ocupa papel de destaque entre as lideranças mundiais, mas segue ignorando as convenções internacionais que versam sobre os direitos civis. Exilado em Londres há anos, Ma Jian recupera, no artigo, alguns fatos representativos do esforço progressivo do governo da China para apagar da memória da população as atrocidades cometidas por ele. Processo perpetuado, segundo Ma Jian, graças à conivência da população, que, num misto de medo e comodismo, abre mão da liberdade intelectual e política em troca de conforto material.
Ana Carolina Arantes
Equipe FLIP
Mais enxuta
maio 15, 2009 por Flavio MouraO Globo de hoje destaca que a programação da Flip este ano está “mais enxuta”. Na ponta do lápis: 34 autores agora contra 41 no ano passado.
Não vejo a observação como crítica, mas acho que faltou observar um ponto importante: é o perfil dos convidados que acaba levando a esse resultado, mais do que questões orçamentárias ou administrativas.
Quando alguém como Richard Dawkins topa participar, existem duas opções: ou conseguir alguém do mesmo patamar, ou deixar o sujeito sozinho.
O mesmo vale para Lobo Antunes e Gay Talese. Claro que não é impossível achar pares para eles, mas já que vieram de tão longe, já que têm tanto a dizer, por que não deixar que falem por mais tempo?
Alex Ross e Simon Schama também se enquadram bem nesse sistema. Ross porque tem uma fala muito bem amarrada sobre o livro que seria uma pena desperdiçar numa mesa sobre “crítica musical”. E Schama porque vem com Obama nas costas, assunto que rende até dizer chega.
Isso tudo sem falar nas mesas com três convidados, que neste ano foram empregadas com mais parcimônia.
Feitas as contas, mudou pouco — e para melhor.
Momento diário
maio 14, 2009 por Flavio MouraNa Flip de 2003, foi organizada uma entrevista coletiva com Don DeLillo, o escritor americano. Logo no começo da conversa, ele disparou: “os Estados Unidos invadiram hoje o Irã”. Diante dos olhares de espanto, ele emendou: “sempre achei que entrevistas coletivas fossem para anunciar eventos de grande magnitude. Então achei que devia inventar um”.
Foi hoje a entrevista coletiva para o anúncio da programação oficial da Flip. E o fato é que deu para entender bem o que DeLillo quis dizer com aquela piada.
Como a maior parte da programação já havia sido divulgada – e como não estamos falando exatamente dos destinos da nação –, fiquei ali meio com cara de tacho, gaguejando as platitudes de hábito e com a sensação de que o que tinha a acrescentar ao que estava no release e aos textos sobre cada mesa (que, cá entre nós, faço com o maior cuidado) era pouco ou nada.
Claro que dá orgulho da programação, que acho forte. Mas ficar em público lambendo a cria – cria aliás que não é só minha, mas de todo mundo que ajudou em cada convite – dá um constrangimento danado, além de ser de um cabotinismo inútil.
Sem falar no medão de que na última hora outro autor de peso resolva não pegar o avião.
Por tudo isso, queria deixar o registro aqui no blog desse lado B da coletiva e das entrevistas em geral. Quanto mais a programação puder falar por ela mesma, melhor para todos.
Saia-justa
maio 8, 2009 por Flavio MouraO Hard Talk, da BBC, me parece um modelo de programa de entrevistas. Não há uma pergunta que não ponha o entrevistado na parede. A firmeza e a capacidade de interromper sem ser grosseiro do entrevistador impressionam. Nesse vídeo que vai abaixo, é Richard Dawkins quem tem de explicar direitinho que história é essa de sair por aí tirando sarro de Deus. Ele suou, mas achei que se saiu bem.
Fuentes
maio 5, 2009 por Flavio MouraNão está fácil laçar Carlos Fuentes. Ele quase veio em 2007. Em 2008 não podia, mas garantiu para 2009. Até um mês atrás, tinha cumprido a palavra. A organização falou com ele algumas vezes para acertar a vinda – e estava tudo mais que certo desta vez, até jantares no Rio já estavam programados. Mas pelo visto apareceram alguns exames médicos e ele preferiu cancelar a viagem. Pena – com o cancelamento de Junot Díaz já há algum tempo, a Flip fica um pouco desfalcada de autores da América Latina. Mas nada que a presença do vulcânico mexicano Mario Bellatin não possa suavizar.
Wolf Antunes
abril 27, 2009 por Flavio MouraLá vamos nós indicar mais uma vez um link para uma revista estrangeira. Dá sempre uma sensação esquisita sugerir a leitura de textos em outra língua como se fosse a coisa mais natural do mundo. Mas o fato é que de novo é um daqueles textos incontornáveis, cheios de informação nova e sacadas boas. E justo sobre o Lobo Antunes. Juro que procurei coisa parecida em português – se você achar, por favor, dê a dica.
Proposta indecente
abril 20, 2009 por Flavio MouraAinda sobre os agentes: há poucas semanas, foi enviado um convite para um autor americano de alguma projeção – ganhou um prêmio importante nos EUA lá se vão uns bons vinte anos.
Na escala de prestígio dos que já estiveram na Flip, estaria decerto um degrau abaixo de escritores como Martin Amis, Ian McEwan, Salman Rushdie, J. M. Coetzee, Don DeLillo, Paul Auster, para citar apenas alguns.
O convite se justificava: sua obra será relançada em breve no Brasil, teve papel importante na luta pelos direitos civis e alguma visibilidade recente por conta das eleições de Obama.
Mas eis que chega um e-mail do agente para negociar as condições da viagem. Antes de mais nada, dizia ele, o referido autor só viaja de primeira classe. Os bilhetes de executiva oferecidos pela Flip eram pouco – e o padrão primeira classe teria de ser estendido ao assistente, sem o qual o referido autor se recusa a viajar.
O convite, contudo, não estava descartado. Como nosso autor está em ano sabático, lhe pareceu simpática a proposta do festival e gostaria de um pouco mais de tempo para considerar a possibilidade. Em poucos meses a resposta definitiva poderia vir.
Ah sim, seguia o agente: não custa lembrar que a “speaking fee” do convidado é de 65 mil dólares. Por evento. Por razões óbvias, não é dessa vez que poderemos vê-lo na Flip. Sinceramente, acho que não vamos perder muita coisa.
O blog de Alex Ross
abril 17, 2009 por Ana Carolina ArantesEm seu blog – www.therestisnoise.com – Alex Ross, presença na FLIP 2009, posta ensaios e reúne suas críticas, originalmente publicadas na revista New Yorker.
Sophie em Paraty
abril 6, 2009 por Flavio MouraO que Sophie Calle, uma artista plástica, faz no elenco de convidados de um festival literário? Bem, em primeiro lugar, é preciso lembrar que desde o primeiro ano os convidados da Flip não são apenas ficcionistas. Já em 2003, Eric Hobsbawm puxava a fila da não-ficção com uma concorridíssima palestra – e de lá pra cá exemplos nessa linha não faltam.
Artistas plásticos, é verdade, estão mais longe do mundo das letras que historiadores. Mas a diferença é apenas de grau. Para um evento cultural do porte da Flip, desprezar esse tipo de diálogo não faz sentido. Basta uma olhada superficial sobre o trabalho da artista francesa para notar que as questões em jogo são muito próximas do universo literário.
Este perfil, publicado há não muito tempo no Guardian, deixa o ponto mais claro. Se sobrar um tempo para ler, fica a dica. Depois diga se o trabalho de Sophie não combina com Paraty.
p.s. a exposição de que trata o texto abre em São Paulo na semana seguinte à Flip.
Ruídos de Ross
março 30, 2009 por Flavio Moura
Além de Chico Buarque, que dominou os cadernos culturais do fim de semana, uma presença forte foi Alex Ross, o crítico de música erudita da New Yorker. Seu livro sobre a música do século XX, O resto é ruído, publicado pela Companhia das Letras, ganhou quatro páginas elogiosas na Veja e duas no Estadão, onde foi capa do “Cultura” de domingo e objeto de uma resenha em página interna.
Desde o início do ano passado, a Flip está de olho na repercussão do livro, realmente fora de série para o assunto. O autor já foi até citado de raspão neste blog – ao lado de Chimamanda Adichie, Ross também levou em 2008 a bolsa MacArthur, conhecida como “genius grant”.
Por essas e outras, é um prazer anunciar que ele estará na Flip de 2009. Espero não dar uma de espírito de porco ao indicar o link abaixo – é uma fala recente que fez nos EUA, parecida com a que fará por aqui.
Dois links
março 27, 2009 por Flavio Moura
Os links abaixo ajudam a conhecer melhor a francesa Catherine Millet, confirmada para a próxima Flip. O primeiro é uma entrevista em vídeo a respeito de seu livro mais recente, sobre o ciúme ao saber que o marido tinha uma vida sexual quase tão variada quanto a sua.
O segundo, uma conversa publicada na Nouvel Observateur, depois na Folha de S. Paulo, sobre sua trajetória. Os dois documentos deixam claro que a personalidade e o trabalho de Catherine estão longe de restringir-se a um punhado de aventuras sexuais.
http://www.youtube.com/watch?v=TicidqAe18Q
Provinciano, quem?
março 23, 2009 por Flavio Moura
Uma semana de viagem para resolver assuntos de trabalho. O primeiro impulso é ficar exaltando as maravilhas de lá e as carências daqui. Como os museus deles são melhores, as livrarias, as exposições, a infra-estrutura. Como a cultura é levada a sério na Europa e deixada para segundo plano por aqui, etc, etc.
Mas eis que uma rápida espiada nos jornais do dia me fez desistir de imediato de ficar tecendo loas ao que vi por lá.
Só hoje, vemos textos sobre o show do Radiohead, que tocou na sexta no Rio e domingo em São Paulo. Uma entrevista com o arquiteto Daniel Libeskind, o autor do projeto em substituição às torres gêmeas, que está em São Paulo para um evento. Uma nota sobre a palestra que o neurocientista Steven Pinker fará hoje em Porto Alegre. Uma entrevista com o estilista Marc Jacobs, também em São Paulo para a abertura de uma loja de sua marca.
Isso tudo no jornal do mesmo dia. Se esticarmos alguns meses para trás, a lista cresce um bocado — de Wim Wenders e David Lynch até Richard Serra e o próprio Simon Schama, que volta para o Brasil em julho. Só um provincianismo muito atávico impede de reconhecer que a oferta de cultura no país é de primeira linha e melhorou nos últimos anos.
A Flip, creio, teve uma contribuição para essa melhora quando foi criada, em 2003. Até ali, não se tinha visto uma concentração tão grande de autores de relevo num mesmo evento no país. Mas com a entrada em cena de ciclos de palestras como o “Fronteiras do Pensamento” e a proliferação de festivais nos moldes da Flip, o cenário mudou um pouco.
Para não falar nas Bienais e na Jornada Literária de Passo Fundo, que há tempos prestam ótima contribuição nesse sentido, e nas iniciativas isoladas das editoras, que vez por outra trazem para cá autores de primeira plana por conta própria.
O aumento da relevância econômica do país no cenário internacional (somos um dos “Brics”, afinal) talvez tenha ajudado a reforçar o interesse pelo que acontece por aqui – e o crescimento dos últimos anos decerto exerceu papel importante para que as iniciativas pudessem se concretizar.
O fato é que as ofertas são muitas. A presença de figurões do mundo literário e cultural de maneira mais ampla depende cada vez menos de Paraty. Não dá para não achar isso bom.
Agentes e agentes
março 11, 2009 por Flavio Moura
Agente literário: eis aí outra entidade que se descortina à frente de quem começa a organizar festivais de literatura.
Confesso que, como jornalista da área de livros, sabia pouco a respeito da atividade. O universo a cobrir parecia restrito às editoras.
Como são elas que controlam a divulgação das provas e dos livros prontos, fazem intermediação para entrevistas, sugerem pautas, representam, enfim, os autores estrangeiros no Brasil, raras vezes era preciso acionar uma instância diferente.
Os agentes ficavam meio à margem – figuras enigmáticas que sempre achei que negociavam os contratos dos escritores com os editores e se retiravam para seus escritórios.
Cada vez mais, são eles que dão as cartas. Poucos agentes nos EUA e na Inglaterra controlam a obra dos autores mais cobiçados – e as editoras do resto do mundo disputam o direito de publicá-los.
Um deslize de qualquer uma delas – uma tradução malfeita, uma impressão desleixada, uma campanha de promoção ineficiente — e perdem na hora os direitos para um concorrente.
Os agentes encarnam a profissionalização do mercado editorial: são eles que defendem os interesses econômicos dos autores que representam. E por isso ficaram tão importantes. Quando a operação é bem sucedida, a fidelidade é imediata.
Um agente de primeira linha está para um bom escritor como Paula Lavigne para Caetano Veloso (só no aspecto profissional, bem entendido): é quem põe as finanças em ordem, quem otimiza o potencial de vendas do artista.
Eles sabem, portanto, quais os festivais literários que valem a pena. Valer a pena, no caso, significa visibilidade, prestígio, impacto sobre a promoção do livro, etc.
Felizmente, a Flip não pode se queixar nesse aspecto: um agente bem informado não desdenha de Paraty, por motivos óbvios. Mas isso também significa que boa parte dos convites tem de passar por eles.
E o lado ruim disso é que muitas vezes a proteção é excessiva. Um autor mediano representado por um agente importante de repente vira uma diva: não se consegue acesso direto, informações importantes não lhe são enviadas para que seja “poupado”, o menor conflito de interesses se torna uma imensa saia-justa.
É mais fácil falar pessoalmente com o maior escritor brasileiro do que com um novato americano que já tenha ganhado algum prêmio relevante e que tenha um bom agente por trás.
Nem tudo está perdido. Enquanto ninguém ganhar cachê para vir, alguma integridade se preserva.
Ainda assim, não arrisco a perguntar ao agente quantas toalhas brancas o autor exige no camarim.
Quem sabe da próxima vez
março 4, 2009 por Flavio Moura
Já que andamos meio vagais ultimamente, atitude pela qual peço desculpas e que justifico como produto da mais pura preguiça pós-carnavalesca, aqui vai uma notícia para esquentar o blog. Infelizmente, não é boa: o dominicano radicado nos EUA Junot Díaz, ganhador do Pulitzer de 2008, desistiu de vir a Paraty.
Segundo sua agente, Nicole Aragi, Junot anda completamente extenuado com as viagens que tem feito após a premiação e está jogando a toalha: cancelou, na mesma tacada, idas à Polônia e à Palestina.
A recusa chama a atenção para um lado curioso da atividade de organizar festivais: o acesso a dimensões comezinhas do dia-a-dia dos escritores. Verdadeiros ou não, os motivos que os levam a recusar muitas vezes são divertidos e dizem algo a respeito da personalidade de cada um.
Em 2008, o mesmo Junot disse que não podia vir porque tinha “um casamento na Itália”. No mesmo ano, Lobo Antunes – que segue confirmadíssimo para 2009 – não pôde vir em razão da formatura da filha, na mesma data da Flip.
A família é também o ponto de apoio de Kazuo Ishiguro, autor de Vestígios do dia, e do crítico James Wood, de How fiction works. O primeiro se diz pouco à vontade para viajar para longe enquanto o filho não for crescido o bastante para ficar sozinho. O segundo, com filhos pequenos, não quer nem ouvir falar em eventos a mais de duas horas de vôo de sua terra natal.
Dave Eggers, o fundador da McSweeneys, vai na mesma direção: o primeiro filho acaba de nascer, de modo que não, obrigado, fica para a próxima vez.
Mas, de todos, meu preferido é George Steiner, o austero crítico de Cambridge. Diante do convite da Flip, que lhe foi enviado por fax, reagiu com uma sinceridade desconcertante. A resposta veio pelo correio, datilografada em duas linhas, num envelope timbrado da universidade: “Caro senhor: estou prestes a completar 80 anos e ir para o Brasil está, infelizmente, fora de questão”.
Uma caminhada com McEwan
fevereiro 16, 2009 por Flavio Moura
Saiu essa semana um perfil imperdível de Ian McEwan. Seu gosto por caminhadas, por ciência, o livro em andamento, a relação com os chapas Martin Amis e Christopher Hitchens, a infância, a vida familiar, o dia-a-dia em Londres e na casa de campo, o processo criativo, as disputas com os críticos: nada escapa ao autor do texto. Creio que essa história de não repetir autores estrangeiros na Flip tem prazo de validade. Quando ele acabar, acho que McEwan é dos primeiros a merecer convite para voltar a Paraty.
20 anos depois
fevereiro 12, 2009 por Flavio Moura
Faz 20 anos que decretaram a “fatwa” contra Salman Rushdie. Num vídeo nesta página, postado hoje no Guardian, vai um resumo dessa história estranhamente atual.
Detalhe importante: repare como o visual de Rushdie melhorou nos últimos anos…
A antientrevista
fevereiro 5, 2009 por Flavio Moura
“É tudo artificial. Estamos todos fingindo. Estamos num show, tentando ser agradáveis e dizer coisas engraçadas, mas não levamos quase nada daquilo a sério.” Esse é David Letterman, numa entrevista à Rolling Stone publicada não muito tempo atrás.
Achei que valia o destaque por causa da velha questão do timing das mesas da Flip. Já ouvi centenas de vezes que muitas mesas deveriam ser mais “dinâmicas”. Que tal autor era “ruim de palco” ou que tal mediador “falou mais do que deveria”.
Fica parecendo que o ideal seria que as mesas da Flip tivessem um ritmo de seriado americano, com uma gag a cada dois minutos. Ou obedecessem à mesma lógica das entrevistas com David Letterman.
Acho que nada seria mais trágico para a Flip. Se o apresentador do programa de entrevistas mais popular do mundo não tem um pingo de interesse real pelas pessoas que entrevista, é problema dele e não chega a ser uma novidade.
Mas às vezes parece que alguns estariam dispostos a pagar esse preço em nome de mais ação e divertimento nos palcos da tenda dos autores.
Já foi dito que poucas vezes a literatura no Brasil ficou tão perto do espetáculo quanto na Flip. Mas me parece que essa alquimia particular de Paraty – literatura de primeira com audiência de show de rock – cairia por terra se o “dinamismo” fosse o critério número um de seleção dos convidados.
Não só porque a literatura demanda mais tempo que qualquer outra forma de entretenimento. Mas também porque a mistura de autores no palco tem o objetivo de promover um encontro em que algo de genuíno possa aparecer.
As frases sempre repetidas em conferências e entrevistas podem ali ganhar significado novo. Perguntas imprevisíveis podem desarmar e dar acesso a uma dimensão menos impostada da personalidade de determinado autor.
Um deslize, um erro de comunicação, um silêncio, uma rusga, tudo isso me soa mais literário que qualquer performance exaustivamente ensaiada.
Estamos, pois, no extremo oposto da lógica de um talk-show como o de Letterman.
Pode ser piegas dizer isso, mas o dia em que os convidados da Flip tiverem de ensaiar antes da mesa, algo importante terá se perdido.
Família, família
fevereiro 2, 2009 por Flavio MouraA irlandesa Anne Enright, confirmada para a próxima Flip, fez da vida familiar o tema por excelência de seus livros. O encontro, mais célebre deles, saiu por aqui ano passado pela Alfaguara e é a principal sugestão para quem se interessar pela autora – além de única obra disponível em português.
Nesta resenha, a melhor que pude ler sobre o livro de Enright, fica mais claro por que a ganhadora do Booker de 2007 merece lugar de destaque na prosa contemporânea. E também se mostra com mais clareza o que essa “vida familiar” pode ter a ver com boa literatura.
Ainda não
janeiro 27, 2009 por Flavio Moura
Não, ainda não é dessa vez. Como todos os anos surge algum rumor sobre a possível vinda de Philip Roth para a Flip, achei por bem adiantar que ainda não é em 2009 que teremos o autor de O complexo de Portnoy em Paraty.
É claro que Roth é dos primeiros, se não o primeiro, a ser lembrado na hora de montar a grade de convidados. Mas desconfio que os programadores da Flip ainda terão muito trabalho para convencer o homem a vir.
A última vez em que ele saiu do país para um evento literário, salvo engano meu, foi em 1999. Era um festival em Aix-en-Provence, no sul da França, inteiramente dedicado à sua obra. Havia outdoors com fotos suas, o prefeito lhe deu a chave da cidade e uma parcela expressiva dos literatos franceses ficou ali por vários dias para examinar cada vírgula de seus livros. E ainda assim os amigos tiveram de insistir um bocado para ele aceitar.
De lá para cá, tem saído cada vez menos dos EUA. Passa os dias a escrever obstinadamente, de pé, num chalé contíguo ao sítio onde mora. Entrevistas até dá de vez em quando, mas odeia abandonar o posto de trabalho (a assiduidade com que tem publicado nos últimos anos parece atestar isso: já há outro livro pronto depois do recém-lançado Indignation). Consta até que tenha recusado uma soma respeitável para dar uma palestra no Brasil — nada a ver com a Flip, bem entendido.
O pouco que se sabe sobre o dia-a-dia de Roth está num perfil escrito por David Remnick, o editor da New Yorker, publicado pela revista em 2000 e que você pode espiar aqui (para assinantes). É daí que saem os detalhes sobre a recepção barulhenta de O complexo de Portnoy, no fim dos anos 1960, as piadas que ele ouve há quarenta anos a respeito, as amizades mais significativas, os motivos que o levaram a adotar uma vida cada vez mais distante do mundo literário.
Não tenho dúvida de que a presença dele em Paraty seria um marco na história da Flip (e acredito que os programadores anteriores não divergem da opinião).
Esgotados os canais de praxe para o convite – editora brasileira, agente literário, amigos mais próximos, cartas a seu endereço postal –, alguns colegas me sugerem soluções extremas, como pedir para a mulher melancia fazer o convite ou escalar universitárias cubanas para ciceroneá-lo no Brasil.
Enquanto a Flip não adere a medidas tão heterodoxas, resta aproveitar os registros de suas raríssimas aparições. Esta é de uma homenagem feita a ele em Columbia por ocasião dos seus 75 anos (numa das mesas do evento estava Nathan Englander, que deu as caras por aqui em 2008). O trecho que ele lê é curtíssimo, mas parece condensar tudo o que procuramos nos seus livros.
p.s. Há uma versão em português do texto sobre Roth no livro Dentro da Floresta (Companhia das Letras, 2006), que reúne perfis escritos por Remnick para a revista.
http://www.columbia.edu/cu/news/08/04/roth.html
Caro Carlos
janeiro 16, 2009 por Flavio MouraEis uma carta de Norman Mailer para Carlos Fuentes, também presença confirmada na Flip deste ano. Engraçado pensar que tenham sido amigos – difícil imaginar personalidades literárias mais distantes.
A missiva saiu na New Yorker e fui publicada em português pela revista Piauí (n. 27, dez. 2008).
13 de outubro de 1971
Caro Carlos,
A vida política daqui ficou tão imensamente complexa que tendemos a questionar qualquer perspectiva política, e a ver diante dos olhos apenas uma feijoada. No momento, por exemplo, o presidente Richard Nixon deslocou-se para a esquerda com a desvalorização do dólar, a estruturação de preços e salários e o flerte com a China. Diante dos passos cuidadosamente calculados que vem fazendo para a esquerda, estão começando a dizer que, no fim das contas, um republicano talvez seja mais capaz de levar adiante um programa progressista que os democratas. No meio desse interessante ensopado, em qual sentido devemos exercer a nossa influência? Reafirmar que Nixon continua a ser o ogro ou saudar seu deslocamento para a esquerda? Como a política convencional não tem, a meu ver, finalidade mais substancial que purgar as animosidades e os impulsos ditatoriais frustrados de cada um, a influência política do intelectual americano foi reduzida à capacidade de mobilizar os sentimentos dos seus leitores, e confirmar os preconceitos de esquerda que já possuíam.
Você pode responder que tudo isso é a conhecida merde da política convencional. E a juventude? O que dizer da juventude americana? Quando penso nos nossos reluzentes jovens garanhões da salvação revolucionária, sinto-me duplamente atarantado. Porque o enigma da América de hoje é se estamos diante de uma verdadeira revolução, que vem ardendo em silêncio nas raízes, à diferença de qualquer revolução anterior, ou se tudo não passa da fumaça dissipada de uma revolta que nunca chegou a pleno fogaréu e nunca irá chegar – não nos tempos que correm. Simplesmente não sei a resposta a essa questão. E acho que ninguém sabe na América. Sem dúvida, a deriva nos leva a alguma forma de revolução. Sem dúvida, nenhum americano convencional pode continuar a viver satisfeito com a concepção do sistema que tínhamos dez anos atrás. Por outro lado, que exército revolucionário! Quase totalmente movido a drogas, suas visões do futuro são totalmente fragmentadas, e híbridos monstruosos de tecnologia e budismo brotam no ar contaminado. Vivemos tempos curiosos. Desconfio que daqui a cinco anos, onde quer que eu me situe politicamente, minha visão retrospectiva deste período será de um tempo em que a política perdeu todas as vantagens, e jazia esfriando num lodaçal metafísico.
As épocas de transição são piores do que túneis para criadores de slogans como eu. Tudo de bom,
Norman
Medida justa
janeiro 16, 2009 por Flavio Moura“Viver nos Estados Unidos por tantos anos me deu mais idéia da noção de fantástico do que morar em um país do Caribe.” Esse é um dos aspectos que me parecem mais interessantes em Junot Díaz, um dos confirmados para a próxima Flip: o desapego em relação aos estereótipos da “latinidade”.
De origem dominicana, o autor faz dessa condição um dos eixos de seu livro, mas encontra um registro que não cai nem no pastiche do realismo fantástico, nem na militância contra o legado de García Márquez e cia., que também já levou muitos jovens autores latinos a uma encruzilhada difícil de sair.
Pouco depois de ganhar o prêmio Pulitzer, Junot deu uma entrevista ao portal G1 em que deixa esse ponto mais claro.
Não gosta de caqui
janeiro 13, 2009 por Flavio MouraAbaixo vai um “flash autobiográfico” de Manuel Bandeira. O texto saiu nos “Arquivos Implacáveis”, criados pelo jornalista João Condé (1912-1996) em 1946.
Publicados inicialmente no jornal “A Manhã”, os arquivos reuniam dados diversos sobre escritores brasileiros – curiosidades biográficas, perfis, poemas e trechos de prosa inéditos, entrevistas, pequenas resenhas.
Em suma: se fosse hoje, seria um blog.
Nos anos 1950, a seção passou a ser publicada na revista “O Cruzeiro”, onde saiu o trecho que se lê abaixo:
Nome: Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho. Nasceu no Recife, na rua Joaquim Nabuco, em 1886. Solteiro, sem filhos. Altura: 1,68m, sem sapatos. Colarinho nº 40 (pescoço forte!). Sapatos nº 39. É míope, usa óculos e se sente infeliz por isso. Tem ficado bastante surdo com a idade e se sente muito infeliz por isso. Já deixou duas vezes de fumar e não tem muito orgulho disso, porque acha, como Pedro Dantas (Prudente de Morais, neto), que é mais fácil deixar de fumar do que fumar pouco. Acorda às sete e meia, deita-se à meia noite. Agradece os livros que recebe e responde as cartas; danado da vida, mas responde. Gosta de criança e de animais, sobretudo de cachorro. Não gosta de abiu nem de caqui, nem de melancia. É contra os regimes totalitários, da direita ou da esquerda, contra a lei de inquilinato e contra a mão-única nas ruas Marquês de Abrantes e Senador Vergueiro. Suas orações: o Padre-Nosso e o verso de Verlaine “Seigneur, délivrez moi de l’orgueil toujours bête”. Cada vez mais admira e estima o poeta Carlos Drummond de Andrade, e diz: “Quem não estiver de acordo, é favor não falar mais comigo”. Poeta brasileiro de sua predileção: o citado. Romancistas brasileiros de sua predileção: José Lins do Rego e Rachel de Queiroz. Contistas de sua predileção: Ribeiro Couto, Rodrigo M. F. de Andrade e Marques Rebelo. Seu cronista predileto: o velho Braga. Pintores brasileiros de sua predileção: Portinari, Pancetti e Cícero Dias da 1ª fase. Escultor brasileiro de sua predileção: Celso Antônio. Compositores brasileiros de sua predileção: não tem predileto. Pertence ao Partido Socialista Brasileiro. Não é requintado: gosta de jiló, cinema falado, rádio, mesmo com “friture”, e de poetas de segunda ordem. Seu maior amigo: Rodrigo M. F. de Andrade. Detesta escrever para jornais e falar em público. Não tem nenhuma religião, mas a de sua simpatia é a católica. Se pudesse recomeçar a vida, gostaria de ser o que não pode: arquiteto. Arte de sua predileção: a música. Gosta de antigos e modernos, preferindo acima de todos Bach, Haydn e Mozart. Gosta de todo gênero de leitura, sem predileção. Tem medo de ter medo na hora de morrer. Escreve diretamente a máquina; quando se trata de poesia, rascunha a lápis as primeiras idéias dos poemas. Gosta mais de visitar do que ser visitado. Não tem secretário nem criado, e prepara o seu café da manhã; sabe fazer muito bem sorvete de café e doce de leite. Gosta da solidão. Com um poema publicado num jornal conseguiu que o prefeito Mendes de Morais mandasse calçar o pátio para onde dão as janelas do seu apartamento. Não se casou porque perdeu a vez. Ri com muita facilidade porque é dentuço. Homem de muitos amigos. Como Valéry, raramente faz versos, mas em matéria de poesia é o anti-Valéry: acredita e confia na inspiração, acredita na reabilitação do lugar-comum. Guarda pelo Recife a sua ternura de infância. Costuma veranear desde 1914 em Petrópolis. Não se consola de ter estado três dias em Paris, sem ver Paris. Publicou o seu primeiro livro aos 31 anos (A cinza das horas). Faz versos desde os dez anos de idade. Já tocou violão e sabe executar ao piano dois prelúdios de Chopin, um número do Carnaval de Schumann e uma peçazinha de MacDowell. Coisas que mais detesta: fila de qualquer coisa, responder a enquetes, dar opinião sobre os pardais novos, esperar retardatários, fazer plantão em guichê, viajar de trem etc. Gosta de: tirar retratos, ver figuras, ler suplementos literários, bestar etc. Suas reminiscências mais antigas remontam aos três anos de idade e estão contados no seu poema “Infância”. Tem uma dúzia de poemas novos, que em futura edição de “Poesias completas” serão incorporados ao livro Opus 10. Aprecia os novos e novíssimos da poesia brasileira, ledos ou não. Gostaria de morrer de repente, mas em casa.
A pires de leite
janeiro 9, 2009 por Flavio Moura
O trecho abaixo tem só dois minutos de duração. Mas o curta feito por Joaquim Pedro de Andrade em 1959 com Manuel Bandeira, que soma no total cerca de dez minutos, é longo o suficiente para sugerir uma analogia entre o estilo de vida do poeta e sua obra.
Bandeira bebendo leite, acendendo o fogão, comprando jornal, atravessando a rua – difícil imaginar que o diretor não quisesse com isso evocar o “estilo humilde” que alguns críticos enxergam nos versos do autor.
Essa impressão é reforçada ainda pela edição do vídeo: o que vai abaixo são as cenas selecionadas por Fernando Sabino e David Neves para figurar num especial sobre a vida de escritores, de 1973, e reunido num DVD que está fora de catálogo.
Seria apressado estabelecer um paralelo entre o estilo de vida de Bandeira e sua obra a partir apenas desse material, mas isso não tira em nada o prazer de assistir a essas imagens.
O circuito de festivais literários
janeiro 5, 2009 por Flavio Moura
Uma maneira eficiente de especular sobre escritores que podem vir ao Brasil é olhar a programação dos festivais literários internacionais. Eles são cada vez mais numerosos e transformaram o lançamento de livros em turnês que lembram as de astros do rock.
O “Financial Times” publicou no início da semana uma lista dos principais festivais literários a ocorrer em 2009 – a Flip foi o único mencionado fora do circuito de língua inglesa. É curioso olhar as programações já divulgadas: dificilmente você encontrará um autor de relevo que não tenha estado em Paraty.
Digo isso não para levantar a bola da Flip, mas para frisar como é limitado o escopo de autores que compõem o cardápio dessas festas. No fim de janeiro, por exemplo, acontece o Hay Cartagena – franquia colombiana do festival de Hay-on-Wye, pioneiro no formato e inspiração declarada da Flip.
Ali estão Martin Amis, Salman Rushdie, Fernando Vallejo, Nathan Englander, Adriana Lisboa. No ano passado, passaram por Cartagena Jon Lee Anderson, Kiran Desai, Bernardo Carvalho, João Paulo Cuenca. Se o parâmetro for o Pen Festival, de Nova York, os exemplos são ainda mais numerosos.
Os festivais oferecem um bom retrato dos autores inseridos no circuito internacional. Os mais novos tendem a aceitar com mais facilidade os convites e costumam participar do maior número de eventos possível. Mas mesmo veteranos como Jon Lee Anderson ou Salman Rushdie circulam um bocado por essa esfera.
Em negativo, os festivais literários acabam revelando também aqueles que dificilmente virão ao Brasil ou a qualquer outro canto. São aqueles autores que, seja em razão da idade, temperamento, convicção ou saúde, não veem mais motivos para divulgar a própria obra. Claro que o comportamento esquivo funciona como marketing poderoso, mas isso é outra questão.
Em suma: procure um evento na lista do “Financial Times” que tenha os nomes de Philip Roth, V. S. Naipaul, Haruki Murakami, John Updike, Cormac McCarthy, Gore Vidal (a lista poderia se estender um bocado) e ficará mais fácil entender por que eles não dão as caras por aqui.
Pinteriano, Stoppardiano
dezembro 28, 2008 por Flavio Moura
A morte de Harold Pinter no início da semana motivou os obituários de costume: umas poucas declarações de gente do teatro, um ou outro texto breve de um dramaturgo afinado com o trabalho do autor, aquele cozidão biográfico feito com material de agências internacionais. E estamos conversados.
Apesar do Nobel, apesar do que já foi encenado por aqui, apesar dos papéis que Pinter desempenhou como ator, tudo se passou de forma burocrática: a impressão é que o registro ficou aquém da importância da obra.
Pode ser porque poucos têm paciência para ler peças, que inexistem no mercado editorial brasileiro e mesmo fora do país nunca levaram multidões às livrarias. Pode ser culpa do inglês cheio de manha, que não se traduz com facilidade. Pode ser culpa do fim de ano, que é um problema para a repercussão de qualquer notícia.
Lembrou um pouco a situação de Tom Stoppard, um dos convidados da Flip de 2008. Era a primeira vez dele na América Latina. Os jornais noticiaram a vinda com algum destaque. Na palestra em Paraty, no sábado à noite, tinha gente até no lustre.
Mas nem uma mísera peça foi publicada em português por causa da presença dele. E o próprio Stoppard abriu sua fala na Flip tirando sarro com o fato de ser mais conhecido no Brasil por causa dos roteiros que escreveu para o cinema.
Não à toa, Stoppard foi um grande amigo de Pinter. Eram parceiros desde o início dos anos 1970 – e compartilharam ao longo da vida bem mais do que os tacos de críquete. Há um texto de Kenneth Tynan que descreve em detalhe a amizade dos dois. Saiu em novembro de 1977 na New Yorker e é a fonte para muito do que se escreveu sobre eles depois disso. (Inexplicavelmente, o texto ficou de fora da antologia de perfis escritos por Tynan publicada aqui pela Companhia das Letras em 2004, mas merece uma busca nos arquivos da revista.)
Agora dizem as colunas sociais que uma montagem de Rock’n’Roll, de Stoppard, deve estrear no Brasil em março. Terá Daniel de Oliveira à frente do elenco e produção de primeira. Dificilmente vai mudar esse panorama. Mas se a Flip, ainda que remotamente, tiver alguma coisa a ver com isso, já vai ter valido a pena.
p.s. O blog dá um tempo para a passagem do ano e retoma a partir do dia 5. Boa virada a todos.
Casa nova
dezembro 23, 2008 por Flavio Moura
Estamos de mudança. A nova casa é mais arrumadinha e pega leve no personalismo no blog, o que é um avanço e tanto nos dias que correm. Segue o endereço.
http://www.flip.org.br/blog
Chico x Giannotti
dezembro 23, 2008 por Flavio Moura
O “Aliás”, caderno do Estadão, trouxe no último domingo uma página dupla de debate entre Chico de Oliveira e José Arthur Giannotti sobre o futuro do Brasil. A idéia me pareceu digna de nota por alguns motivos.
O primeiro é a coragem da mistura. Os dois têm jogado em campos opostos desde a eleição de Fernando Henrique em 1994. Com a adesão de Giannotti ao governo e o rompimento público de Chico com FHC, começaram a trocar farpas e assumiram posições opostas no debate: Giannotti como o fiador teórico do pragmatismo tucano, Chico como um idealista da transformação social.
Os jornais buscam com freqüência a opinião de um e de outro e editam seus textos às vezes na mesma página, mas não me lembro de uma ocasião recente em que tenham sido confrontados num debate dessa maneira: só os dois, com a mediação de jornalistas da casa, discutindo durante duas horas.
Todo mundo defende o confronto de opiniões opostas em debates, mas quem já tentou colocar isso em prática se deparou com a dificuldade. A censura, por vezes, vem antes mesmo do convite: “não seria indelicado com um convidado colocá-lo nessa situação?”. Mais frequentemente, são os próprios convidados que se recusam a debater com desafetos – e o risco nesses casos é não conseguir trazer ninguém, como já aconteceu algumas vezes na Flip. Pontos então para o jornal e para Chico e Giannotti, que, bons de briga, deram de ombros para antigas desavenças.
O segundo motivo é o rendimento da conversa. Os dois já viraram a curva dos 75 anos, mas acompanham a conjuntura com fôlego. Não há tema sobre o qual não tenham opiniões bem fundamentadas. Num momento em que a flexibilização das leis trabalhistas parece um consenso, Chico consegue defender o aumento da regulação com exemplos persuasivos. Giannotti, por sua vez, insiste nos efeitos perversos do “esvaziamento da política” com fervor de líder estudantil. Há nos dois um envolvimento com os rumos do país que vai muito além das divergências pessoais.
Digo essas coisas não por adulação (até porque alguma coisa terá mudado no mundo se algum dos dois chegar a ler um blog da Flip). E mais porque o encontro representa um tipo de debate que pode render muito em Paraty.
Creio que algumas mesas de não-ficção, com teor parecido, às vezes têm rendimento excepcional – e polarizam mais do que debates com ficcionistas. Não só pelo preparo dos debatedores, mas pela concretude dos temas, o que faz diferença diante de uma platéia ávida por tomar posição.
É verdade que o rompimento público de Chico com o governo Lula e o proverbial antipetismo de Giannotti aproximaram a opinião dos dois em tempos recentes. Mas isso não esvazia a força do encontro. Tenho cá algumas idéias de aproximações semelhantes para o ano que vem. Se você tiver alguma, sugestões serão mais que bem-vindas.
Belo, áspero, intratável
dezembro 18, 2008 por Flavio MouraO cacto
Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco nordeste, carnaubais, catingas…
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais.
Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças,
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas
[privou a cidade de iluminação e energia:
- Era belo, áspero, intratável.
Eis aí um poema que sintetiza bem os traços da obra de Manuel Bandeira, o homenageado da próxima Flip. Saiu no livro Libertinagem, de 1930. Dá vontade de ficar aqui analisando, mas seria difícil dizer algo que não fosse uma pálida paráfrase do ensaio “A beleza humilde e áspera”, de Davi Arrigucci Jr., inteiramente inspirado nesse poema e fundamental para situar a importância da obra de Bandeira. O texto foi republicado no volume O cacto e as ruínas (Duas Cidades/34, 2000) e já fica como dica de leitura para o ano que vem.
Habemus data
dezembro 18, 2008 por Flavio MouraA Flip de 2009 já tem data para acontecer: 1 a 5 de julho.
50 anos em 5
dezembro 16, 2008 por Flavio Moura
Sylvia Colombo publicou hoje na Ilustrada um texto que vai em direção oposta à nostalgia que tem marcado as comemorações dos 50 anos do caderno.
Nos debates realizados ao longo da última semana, de fato a tônica foram os lances “revolucionários” da década de 1980. E a sensação de que a identidade da Ilustrada teria se perdido em meio à apatia da nova geração e ao jogo do mercado.
O texto de Sylvia deixa a história mais complicada. Ela mostra como as regras do jogo eram diferentes para quem começou a fazer o caderno a partir dos anos 1990.
A entrada em cena da Internet, por exemplo, alterou radicalmente o acesso dos leitores à informação, o que obrigou os jornalistas a uma cobertura mais dinâmica: se antes bastava ao repórter a leitura de revistas estrangeiras, agora era preciso absorver um volume muito maior de informação para acompanhar as tendências de nichos em permanente mudança.
A ampliação da oferta de cultura no país e o surgimento de mecanismos mais complexos de financiamento provocaram alterações igualmente decisivas na pauta. A reportagem assumiu a dianteira, tendo em vista a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa das empresas, do estado e dos agentes de cultura.
Faz pouco sentido, em resumo, cobrar da Ilustrada – e por extensão do jornalismo cultural – uma conduta que não responde mais às exigências do momento.
Para quem não chegou aos 40 anos de idade e tem pouca paciência para saudosismo, o texto de Sylvia vem a calhar. É esquisito o caderno de cultura de maior circulação no país pôr em questão a própria relevância de modo tão ostensivo – e não deixa de ser um sinal de vitalidade do veículo que alguém de dentro venha desafinar o coro.
Para ficar apenas na Flip, que é a razão deste blog: em 2003, ano da primeira edição, a cobertura do caderno foi determinante. Partiram de repórteres da Ilustrada, a própria Sylvia Colombo e Cassiano Elek Machado (depois diretor da Flip, em 2007), reportagens centrais para que o evento se firmasse no calendário da literatura. Não por acaso, a fundação da Flip aparece na “roda da cultura” publicada na Ilustrada do último domingo com um resumo dos fatos relevantes no setor nos últimos 50 anos.
Méritos à parte, o texto de Sylvia poderia ter sido mais crítico com relação ao jornalismo atual. Um pouco do espírito iconoclasta dos anos 1980 não seria incompatível com as novas demandas do mercado.
As críticas mais freqüentes dirigidas à programação da Flip, por exemplo, dizem respeito à falta de celebridades literárias no evento. Isso foi especialmente forte em 2006 e 2008.
É claro que é um direito do jornalista cobrar estrelas. Mas isso parece mais uma adesão ao culto das celebridades – marca nefasta do jornalismo cultural dos anos 1990 para cá – do que propriamente uma crítica.
Na Ilustrada nos anos 1980, possivelmente algum jornalista logo se cansaria do oba-oba em torno de Paul Auster, Eric Hobsbawm ou J. M. Coetzee e escreveria um texto descendo o sarrafo. Agora, parece que o sinal se inverte e a cobrança é por unanimidades.
Não escrevo em causa própria. Há uma série de outros flancos que a Flip abre para exploração crítica e que parecem longe do foco dos jornalistas.
Por que uma festa desse tipo tem a repercussão que tem num país de escassos leitores? Se a literatura anda em baixa em relação às outras artes, o que faz com que os escritores se tornem celebridades? Quais os mecanismos de construção de reputação de um autor no Brasil e que papel a Flip, ao lado das editoras, desempenha nisso? Quais as principais lacunas no mercado editorial brasileiro e de que modo a Flip deve se relacionar com elas? São questões obviamente importantes, mas que têm ficado à margem da cobrança por “estrelas”.
Vale lembrar que a adaptação às novas demandas do mercado tem limites. Um efeito perverso dessa adaptação é a supervalorização das assessorias de imprensa.
As editoras hoje têm de montar mega-esquemas de divulgação para contentar todos os veículos sem que ninguém se sinta “furado”. O calendário fica na mão das assessorias, que combinam “embargos” ou esquemas de “exclusividade”. E quase ninguém discute qual o sentido de um furo no jornalismo cultural, sobretudo no de livros, irmão caçula de um nicho já secundário no panteão da profissão.
Uma última questão sobre os 50 anos: quem está fazendo o balanço são os protagonistas da história. É natural que construam a versão em que ficam melhor na fita. Compete aos mais jovens mostrar que não é bem assim. O texto de Sylvia dá um passo nessa direção.
Adendo
dezembro 16, 2008 por Flavio MouraNo post abaixo, faltou dizer que Gomorra foi transformado num filme que deve estrear em breve por aqui. Segue o trailer.
Sodoma, Camorra, Gomorra
dezembro 12, 2008 por Flavio MouraA capa do Caderno 2 do Estadão traz hoje um texto de Antonio Gonçalves Filho sobre Gomorra, livro do italiano Roberto Saviano recém-lançado pela Betrand Brasil que tem andado no topo das listas de mais vendidos mundo afora.
O livro é uma radiografia da Camorra, a organização mafiosa napolitana que, a crer na descrição do autor, deixa os Corleone no chinelo no quesito crueldade e organização.
O assunto é quente, mas causa alguma estranheza a morbidez do marketing que envolve o livro: Saviano, um jornalista de 29 anos, foi jurado de morte pela organização por ter revelado as entranhas da máfia italiana. O autor, garantiram os capos, não chegará vivo até o natal.
É normal que o juramento acrescente alguma pimenta na divulgação, mas a euforia com que isso vem sendo ventilado pelos promotores do livro, dentro e fora do Brasil, é de espantar. É como se o perigo efetivo que o sujeito corre fosse uma questão menor perto da publicidade que o fato pode gerar.
Há também um efeito perverso: é como se a ameaça conferisse credibilidade instantânea a Gomorra e alçasse Saviano à condição de grande escritor. As comparações com Salman Rushdie foram imediatas – e as manifestações do próprio Rushdie em defesa de Saviano só reforçaram essa impressão.
Rushdie, não custa lembrar, já tinha escrito Os filhos da meia-noite quando recebeu a “fatwa” por Versos satânicos. Já era, portanto, um autor premiado e respeitado quando o regime iraniano resolveu pedir sua cabeça.
Não é o caso de Saviano, de modo que não se pode confundir a ameaça de que é objeto – aliás, bastante previsível – com a qualidade do trabalho. Não vejo motivo para cogitar um convite para Paraty, mesmo na remota possibilidade de ele poder vir, só por causa disso.
Se o livro for bom, aí é outra história. Confesso algum pé atrás com a descrição dos integrantes da organização como vilões de almanaque, negociantes frios, vingativos e crudelíssimos assassinos. Tenho mais simpatia por mafiosos com identidade mais complexa, estilo Tony Soprano e sua turma.
Ainda assim, vamos a ele. Tomara que não seja preciso retomar a velha piada do escritor V. S. Naipaul a respeito dessas ameaças. Quando os muçulmanos radicais embargaram o livro de Rushdie, Naipaul foi taxativo: a “fatwa” não era mais que uma forma extrema de crítica literária.
Corra, Haruki, corra
dezembro 8, 2008 por Flavio Moura
Num comentário ao post anterior, David França Mendes faz uma sugestão divertida: para atrair Haruki Murakami para o Brasil, o jeito seria marcar a maratona do Rio na mesma época da Flip.
A brincadeira faz sentido: pelo visto, ele anda mais envolvido com corrida do que com literatura. Seu último livro, a sair por aqui no ano que vem, trata justamente do assunto. E dá algumas pistas de por que é tão complicado atraí-lo para eventos literários.
O sujeito acorda todos os dias por volta das cinco da manhã, amarra os tênis de corrida e sai para correr por uma hora. Ele descreve o momento como a uma liturgia – e é graças a esse hábito que, acredita, pôde tornar-se escritor.
Foi a corrida, conta Murakami, que deu a ele a disciplina para escrever, a capacidade de se concentrar no trabalho, a estabilidade emocional para passar longas jornadas às voltas com a concepção de um romance.
Foi também por causa da corrida que decidiu trocar a vida de dono de clube de jazz, atravessando madrugadas a tourear boêmios nem sempre amistosos em Tóquio, por uma rotina monástica que consiste basicamente em correr e escrever.
As brechas, quando existem, existem em função da corrida. No ano passado, ele aceitou um posto de escritor visitante na Universidade do Havaí por esse motivo: Honolulu, justificou, é um ótimo lugar para praticar o esporte.
Por essa ótica, no que depender do calçamento irregular de Paraty…
De volta para o futuro
dezembro 3, 2008 por Flavio MouraO caderno de informática da Folha de S. Paulo traz hoje uma reportagem sobre livros eletrônicos. Afirma, entre outras coisas, que o faturamento com a venda de e-books nos Estados Unidos saltou de 8,2 milhões de dólares em 2007 para 10,1 milhões em 2008. E que a editora Random House pretende dobrar a quantidade de títulos disponíveis no formato – dos 8 mil atuais para 15 mil.
Fiz uma vez um teste com um Kindle, o aparelho de leitura da Amazon. Achei meio enjoado – vem com uma capa de couro (?) para dar um ar de seriedade, mas deixa muito a desejar.
Não oferece, por exemplo, bom acesso a internet. É possível acessar a Amazon para baixar livros, assinar blogs, jornais e revistas, mas não dá para procurar no google uma palavra que você desconheça, ou simplesmente ir aos sites de sua preferência.
Apesar das promessas das editoras, são poucos os livros disponíveis no formato, a maior parte best-sellers desinteressantes. A tal tela opaca, que dá boas condições de leitura mesmo à luz do sol, é de fato boa, mas não parece motivo suficiente para justificar o gasto, ainda alto (359 dólares).
Fiquei com a sensação de que um software de leitura de livros feito para Iphones ou celulares seria bem mais útil que o tal reader, que já nasce com cara de velho, uma espécie de “game boy” dos letrados.
Mas essa impressão é pessoal e importa pouco. O fato é que o assunto não é tão simples e tem rendido muita conversa ultimamente. Os e-readers foram destaque na última Feira de Frankfurt e não passa uma semana sem que alguém volte ao tema e acrescente um argumento novo à discussão.
Já que estamos num blog da Flip, não custa então perguntar: você gostaria de assistir a uma mesa sobre o “futuro do livro” em Paraty?
Michael Moore de saias
dezembro 1, 2008 por Flavio Moura
É essa a imagem que Larissa MacFarquhar pinta de Naomi Klein em perfil publicado essa semana. A cruzada da autora canadense contra o liberalismo é apresentada como uma missão quixotesca, mas nem por isso destituída de sentido.
Nas palestras que dá pelo mundo, Klein tem conseguido renovar a imagem da esquerda. Arrasta multidões entusiasmadas e não se enquadra com facilidade nos estereótipos que os detratores tentam lhe impingir – no perfil, fala com ironia a respeito de sua participação no Fórum Social de Porto Alegre, por exemplo.
É ainda hábil em driblar os bordões usuais e se fazer ouvir para além dos circuitos de sempre. Sem logo (Record), que discute o poder crescente das marcas, teve papel importante para a renovação da discussão em torno do consumo. E o recente A doutrina do choque (Nova Fronteira) fez barulho semelhante ao propor uma correlação entre guerras e desastres naturais e o liberalismo ortodoxo.
É possível que haja pontos em comum entre suas palavras de ordem e o denuncismo algo histriônico de Michael Moore. Mas Klein é sutil na formulação dos problemas, tem argumentos menos simplistas e é sem dúvida uma figura esteticamente mais suave. O vídeo aí embaixo não me deixa mentir.
Solução extrema
novembro 30, 2008 por Flavio Moura
Para se proteger dos efeitos da crise, as editoras têm adotado estratégias parecidas: reduzir o número de títulos publicados, priorizar autores que já tiveram boas vendas em outros países, redobrar a severidade dos critérios para seleção de originais.
Até aí o fenômeno é mais ou menos geral e não chega a surpreender. Mas a Houghton Mifflin Harcourt resolveu extrapolar: segundo o blog de livros do Le Monde, a editora decidiu “suspender temporariamente a aquisição de novos manuscritos” enquanto a situação financeira não melhorar.
E não se trata de editora pequena: tem no catálogo Philip Roth, Tolkien, Gunter Grass, Jonathan Safran Foer, entre diversos autores capazes de aliar prestígio literário e bons resultados nas livrarias.
É uma atitude extrema que pode ter efeitos benéficos: se não arruinar as finanças da casa, dará mais visibilidade aos que conseguirem passar pelo crivo dos editores quando a situação voltar ao normal.
A decisão também contrasta com um mercado editorial marcado nos últimos anos por adiantamentos estratosféricos. O fenômeno já dura bastante tempo e parece que se agudizou recentemente: a também americana Little, Brown, por exemplo, assinou um contrato de seis milhões de dólares com a atriz Tina Fey para publicar seu próximo livro de humor.
Como disse o autor do blog do Monde, se o livro não vender pelo menos 500 mil exemplares, os editores certamente vão achá-lo menos engraçado.
p.s. Há uma longa descrição da bolha no mercado editorial numa matéria publicada em setembro pela New York Magazine. O texto pode soar um pouco cansativo, mas os exemplos de apostas fracassadas que aparecem no fim são de impressionar.
James Wood na berlinda
novembro 27, 2008 por Flavio Moura
“Para a geração anterior de críticos de Nova York, os romancistas são pessoas; para James Wood, as pessoas, incluídos os romancistas, são idéias.” A frase resume o teor da crítica que saiu na The Nation esta semana sobre James Wood, o titular de livros da New Yorker.
Como anotou Sergio Rodrigues no seu blog, o texto vem a calhar num momento em que Wood virou uma unanimidade. Já faz alguns anos que tudo que ele escreve causa frisson, de modo que estava na hora de alguém desafinar o coro.
É possível que Wood ande supervalorizado. Mas me pareceu importante retomar os argumentos da crítica da Nation para não cair na tentação, igualmente redutora, de baratear um trabalho que deu sobrevida para a crítica literária.
O texto contra James Wood parte da premissa de que ele virou “o” crítico a ser levado a sério. E nessa toada começaram a alçá-lo a uma posição que ele não sustenta: a de críticos como Edmund Wilson e Lionel Trilling, os “founding fathers” do ensaísmo literário americano no século XX.
O problema com Wood seria sua obsessão pelo realismo. A literatura para ele é mais literatura quando diz alguma “verdade” sobre o mundo. Wood acredita, no entender de seu detrator, que existe uma forma mais ou menos perfeita de representar a realidade – e o texto literário seria melhor quanto mais se aproximasse dessa forma ideal de representação.
Por isso Wood tem estima tão grande por autores como Tolstói, Henry James e Naipaul e desdém por Zadie Smith, Don DeLillo e Salman Rushdie. Estes últimos seriam simplesmente mais “artificiais” que os primeiros e portanto mais distantes da “verdade”. Estou simplificando, mas o tom do reparo é esse.
Para piorar, Wood, na opinião do crítico da Nation, é um esteta que não olha para o mundo – só para os livros. Apesar do acúmulo impressionante de leituras e referências, é um livresco que tende a achar que a literatura conversa apenas com ela mesma – não com o que vai em volta.
Por isso jamais pode ser comparado a autores como Wilson e Trilling, que tinham interesse em cultura e política, escreveram sobre os temas mais candentes de seu tempo, não apenas os literários, e puderam de fato fazer jus à condição de “intelectual público”.
É claro que o texto da Nation é bem urdido e oportuno. Mas de saída já traz um argumento discutível. Será que Wood virou mesmo “o” crítico a ser ouvido? Não seria apenas o mais vistoso entre os da geração dele? Me parece que esse posto oficial é ainda de Harold Bloom, a julgar pela ressonância de tudo que ele escreve, até aqui no Brasil (bem maior que a de Wood, diga-se).
Aos quarenta e poucos anos, Wood talvez nem queira esse posto. Tem poucos livros publicados — um deles de fato incensado, o recente How Fiction Works, outro demolido pela crítica, o romance The Book Against God – e uma consciência de sua estatura que em nada sugere que ele queira se colocar ao lado dos maiores nomes de seu país. Veja-se a devoção com que escreve sobre um veterano como Robert Alter, por exemplo.
Sobre a falta de “interesse pelo mundo”, aí é mais difícil concordar. Se ele acredita que um escritor pode representar com maior ou menor perfeição a realidade, o que está em jogo não é um interesse profundo por essa mesma realidade? Em outros termos, a ficção não é, ela também, parte do mesmo mundo pelo qual deveríamos nos interessar?
Seria descabido levar adiante a discussão, que aliás começa a soar afetada, no contexto desse blog. Mas essa cobrança por um “interesse pelo mundo” tem um ranço nostálgico fora de propósito. É como se o melhor crítico brasileiro na faixa dos quarenta fosse cobrado por não ser Antonio Candido. Como se o próprio papel reservado à literatura (e à crítica literária) não tivesse mudado nos últimos 50 anos.
Talvez haja nessa cobrança mais o ímpeto engajado da Nation, célebre pelas vozes da esquerda que publicam ali, do que propriamente um reparo à atividade crítica de James Wood. Não vale julgar um autor por algo que não faz parte de seu projeto.
O fato é que Wood conseguiu transformar a crítica literária em assunto pop sem ceder em nada à facilidade. Conseguiu dar de ombros à hostilidade do mundo jornalístico ao texto “muito acadêmico” e abrigar na New Yorker seus ensaios, às vezes um tom acima do restante da revista. E foi capaz de temperar isso com a atenção aos autores novos, não apenas os que escrevem em inglês.
Que ele seja a bola da vez não me parece mais que uma conseqüência desses feitos.
Conversa no escritório
novembro 27, 2008 por Flavio Moura
O livro novo de Paul Auster não foi dos mais bem recebidos pela crítica. Ainda não li, de modo que prefiro não meter a colher na discussão. Mas gostei bem do trecho que ele leu neste evento promovido pelo Google. Deu pra lembrar um pouco da participação dele em Paraty.
Roudinesco e os francesismos
novembro 24, 2008 por Flavio Moura
Na Flip de 2003, ao fim da leitura de Hanif Kureishi, uma espectadora virou-se para o escritor de origem paquistanesa e tascou, à queima-roupa: “Hanif, todo mundo em Paraty está dizendo que você é muito mal-humorado. Como esse mau-humor influencia seu trabalho?”.
Fosse na última Flip, a pergunta poderia ter sido dirigida a Elisabeth Roudinesco. A psicanalista francesa foi um dos hits de 2008: seu livro foi dos mais vendidos na livraria em Paraty e sua conferência das mais concorridas da festa. Mas quem tiver trocado mais de duas palavras com ela percebeu que o gênio da autora não é dos mais fáceis.
Tudo isso pra dizer que o humor de Roudinesco deve andar especialmente azedo esta semana. Seu livro Filósofos na tormenta: Canguilhem, Sartre, Foucault, Althusser, Deleuze e Derrida (publicado por aqui pela Jorge Zahar) saiu há pouco em inglês e foi objeto da principal resenha da última edição do London Review of Books.
E a resenhista, a professora de Stanford Elif Batuman, resolveu implicar: “’Vivemos em tempos estranhos’, é como começa o livro de Roudinesco. Mas também o leitor de Roudinesco está prestes a viver tempos estranhos e turbulentos ao começar a leitura…” O texto abre nesse tom e pega pesado até o fim.
Batuman compara o livro ao dicionário de idéias prontas de Flaubert, torce o nariz para a insistência de Roudinesco em afirmar que o mundo se “despolitizou”, descarta suas comparações entre neurociência e fascismo e rebate a todo tempo seu tom catastrofista. “Em 1908, pensamentos sexuais reprimidos levavam a neuroses histéricas; em 2008, pensamentos sexuais medicalizados nos tornam obcecados por orgasmos. Com quanta certeza é possível dizer que as coisas estão piorando?”
Aos olhos da autora da resenha, parece que o pecado de Roudinesco é ser francesa demais: dialogar apenas com a tradição filosófica de seu país, acreditar na psicanálise e nos velhos dogmas do marxismo, preferir a retórica aos dados empíricos, acreditar na missão transformadora do “intelectual público”.
É difícil concordar com a resenhista: ela parece mais interessada em denunciar os “francesismos” de Roudinesco que nos eventuais furos do argumento.
Sem entrar no detalhe do livro, me parece que a crítica é um bom documento da incomunicabilidade crescente entre a produção intelectual francesa e o mundo anglo-saxão. Na ficção esse estranhamento vem de longe, mas nas ciências humanas o espaço para o diálogo parecia maior até há bem pouco tempo.
Para quando sobrar tempo
novembro 24, 2008 por Flavio MouraJá que se falou em Coetzee, vale uma ponte rápida entre ele e outros autores da Flip. Colaborador do New York Review of Books, Coetzee já publicou ali ensaios sobre Nadine Gordimer, que veio em 2007, Amos Oz, que dividiu mesa com ela, e o holandês Cees Nooteboom, que veio em 2008. Coetzee é leitor contumaz do trabalho de Nooteboom: escreveu ensaios sobre The Dutch Mountains, Caminhos para Santiago e ainda traduziu um poema do autor holandês, Basho, publicado em 2003. É também de autoria de Coetzee uma resenha sobre Paraíso Perdido, livro de Nooteboom que saiu por aqui no primeiro semestre. Todos os textos estão disponíveis, para assinantes, nos arquivos da publicação.
Mr. laconismo
novembro 20, 2008 por Flavio MouraUm dos grandes orgulhos da Flip é o sul-africano J. M. Coetzee, que veio em 2007. Não só pelo Nobel, que por si não é indicativo de muita coisa, mas pelo fato de o autor estar no auge da forma e pela extrema raridade de suas aparições públicas.
Mas uma das exigências para a vinda era justamente não dar entrevistas e não fazer nada que não fosse ler um trecho de seu último livro – o que pode ter deixado em alguns leitores a sensação de não tê-lo conhecido direito.
No link abaixo (clique em “vídeo”, no alto da página, à direita), há uma chance de se aproximar do escritor. É uma entrevista de uma hora a um canal holandês em que o austero autor de Desonra se abre um pouco mais: fala sobre o medo da morte, a África do Sul, os ídolos literários, seus hábitos de escrita, o gosto por cozinhar e, juro, até esboça um sorriso.
http://boeken.vpro.nl/personen/22550457/
O TED
novembro 18, 2008 por Flavio Moura
A fala de Malcolm Gladwell que aparece no vídeo do post abaixo é parte de um evento que tem parentesco com a Flip: o TED. O ciclo de conferências foi criado em 1984 para reunir autores das áreas de tecnologia, entretenimento e design (daí a sigla), mas hoje congrega gente de todos os campos possíveis.
Os autores não têm mais de 18 minutos para suas falas – mas são instigados pelos organizadores a fazer ali a “palestra de suas vidas”. Durante quatro dias, cinqüenta convidados se reúnem para a maratona de participações – algumas de fato memoráveis.
Desde 2007, o TED começou a tornar disponíveis as falas no site www.ted.com. Já são mais de 200 vídeos, alguns familiares aos freqüentadores do Youtube. Tem desde Stephen Hawking e Steven Pinker até Isabel Allende e Al Gore.
Há uma fala divertida de Philip Starck sobre design (basicamente explicando por que seu ofício é inútil), um depoimento de Dave Eggers sobre as escolas comunitárias que criou na Califórnia e mais dezenas e dezenas de vídeos que ainda não deu para assistir. (Uma busca na área brasileira do Google permite encontrar alguns com legenda em português.)
O formato enxuto instiga os autores a uma fala dinâmica e objetiva. Não cansa quem assiste e duvido que prejudique muito a densidade do conteúdo. É curioso ver como luminares de todos os quadrantes se viram para dar o recado ali em pouco tempo — e não parecem se importar com isso.
Um dos organizadores do evento é Chris Anderson, editor da Wired e criador da teoria da “cauda longa” – que prevê espaço crescente para produtos destinados a nichos específicos.
O evento tem um pouco a cara da revista que ele edita: bastante espaço para novas tecnologias, debates em torno de propriedade intelectual, interfaces entre ciência e cultura, um certo fetiche pelo “novo”.
Há ainda alguma idealização sobre a capacidade “transformadora” daquelas palestras e uma inclinação politicamente correta que soa exagerada aos nossos olhos.
Mas a amplitude temática do TED é também uma resposta enfática aos que acreditam em eventos estritamente literários: ignorar o que se passa em campos distantes da literatura, parece dizer sua invejável lista de autores, é uma boa maneira de torná-la mais pobre e desinteressante.
No ventilador
novembro 14, 2008 por Flavio Moura
“Mas alguém tem que ganhar o jogo, né? Então, vai o João Paulo Cuenca. Por quê? O dia Mastroianni é melhor do que Toda terça? Não, não é. É que eu estive com o João Paulo Cuenca, no começo do ano, num evento literário lá em Portugal, e a gente deu umas voltas por Povoa do Varzim e por Lisboa e batemos uns papos e ficamos amigos e tal. A Carola deve ser gente boa também, mas eu não a conheço pessoalmente. É só isso tudo.”
Assim o escritor André Santanna justificou sua opção na Copa de Literatura Brasileira. E poucas vezes a blogosfera literária pareceu tão movimentada.
Para entender melhor, veja o comentário do editor, blogueiro e programador da Flip de 2003 (ao lado de Flávio Pinheiro) Paulo Roberto Pires, aqui.
Impostura ou jornalismo?
novembro 14, 2008 por Flavio Moura
À primeira vista, é fácil tachar Malcolm Gladwell de autor de auto-ajuda. Como funciona a intuição e por que ela é importante? Por que alguns negócios dão certo e outros não? As perguntas que norteiam seus livros Blink e Ponto de desequilíbrio, ambos lançados no Brasil pela Rocco, despertam desconfiança por motivos óbvios.
O novo livro de Gladwell não é diferente: Outliers, recém-lançado em inglês, procura entender como algumas figuras tidas como geniais chegaram lá. Bill Gates, por exemplo, não teria feito o que fez se não tivesse estudado num colégio de vanguarda em Seattle com acesso a computadores de ponta. Nem os Beatles seriam os Beatles se no comecinho da carreira, quando tocavam em Hamburgo, não tivessem encarado longuíssimas jornadas noite adentro, em que se viam forçados a experimentar vários gêneros e a caprichar no improviso.
Não interessa entrar no detalhe do argumento (uma boa matéria sobre o livro novo pode ser lida aqui). O ponto é que Gladwell me parece anos luz à frente dos arautos da motivação que lideram as listas de mais vendidos por aqui. É difícil conciliar a má impressão que colegas mais experientes e respeitáveis manifestam sobre ele e o que leio em matérias como esta, sobre o ketchup, ou esta, sobre o preconceito em Harvard. Um sujeito capaz de escrever assim merece todo esse desdém?
Gladwell é um diluidor, é claro, mas não vejo por que a diluição que ele pratica é menos respeitável que outras formas de jornalismo. Ele se especializou em apurar o que se passa em certos nichos da pesquisa universitária, sobretudo nos campos da psicologia, do marketing e da sociologia, e transformar isso em narrativas bem-costuradas. Há simplificação nisso, como sempre, mas também uma capacidade impressionante de escrita e de cruzar informação.
Gladwell parece ter descoberto um novo filão – o jornalismo corporativo bem-humorado. E pelo visto está mais interessado em tornar palatáveis suas descobertas do que em vender ilusões.
Talvez não tenha o perfil da Flip. Mas ninguém diria que ele não é “bom de palco”, como fica claro neste vídeo do youtube.
Schama em SP
novembro 12, 2008 por Flavio MouraSimon Schama esteve ontem em SP, no auditório da Bienal. Voltou ao tema apresentado na véspera em Porto Alegre: a representação do horror na história da arte. Falou sobre Goya, Picasso e fotos de torturas em Abu Ghraib no mesmo tom de conversa que conduz os documentários da BBC. Não é a mesma conferência que levará a Paraty, mas já serve como aperitivo para o que virá em julho (dois bons textos sobre a passagem de Schama pelo Brasil podem ser lidos aqui e aqui, ambos por Sylvia Colombo).
Ezra Pound encontra Daniela Mercury
novembro 10, 2008 por Flavio Moura
É, é mais ou menos isso. Quem cita os dois no mesmo texto é Camille Paglia. Ela sempre foi dada a ousadias teóricas, mas agora parece mais inventiva do que nunca.
Em agosto, ela já tinha escrito um ensaio para a Salon.com em que fazia uma comparação entre Madonna e Daniela Mercury. “Foi eletrizante: senti como se tivesse sido atingida por um raio, causando um misterioso rearranjo nas minhas células cerebrais. Meu tédio e desilusão com a cultura popular, que foram se intensificando nos últimos 15 anos, pareciam sumir”.
A descrição do impacto que sentiu ao conhecer a cantora brasileira segue nessa toada entusiasmada, até a conclusão de que a salvação para a decadência de Madonna seria o exemplo de Daniela.
Até aí, tudo bem, estamos no terreno da música popular e o argumento pode encontrar sua cota de defensores. Mas no texto dessa semana Camille volta à carga num tom diferente. Ela está a explicar por que seu livro de crítica de poesia, Break, Blow, Burn, foi o único do gênero a atingir a lista dos mais vendidos dos EUA. Há uma enxurrada de referências eruditas, de Ezra Pound a Gerard Manley Hopkins.
E a certa altura, ao explicar como um poema capturava sua devoção diante das estrelas, enumera três exemplos: Elizabeth Taylor, Catherine Deneuve e… Daniela Mercury.
Nada contra Daniela, que fique claro. Nem contra referências pop em ensaios acadêmicos, que vêm desde os tempos de Roland Barthes e seus textos sobre o ovo frito.
O ponto é esse tipo de aproximação num ensaio que defende a pertinência de seu crivo como intérprete de textos literários. A questão é simples: depois dessa, você compraria o livro de Camille?
Uma bolsa para Chimamanda
novembro 8, 2008 por Flavio Moura
Quem esteve na Flip de 2008 há de se lembrar de Chimamanda Ngozi Adichie. Ela é aquela nigeriana classuda de trinta e poucos anos que, na mesa ao lado do angolano Pepetela, impressionou pelo charme e pela articulação com que falou sobre seu livro mais recente, o premiado Meio sol amarelo.
Ela foi uma das 25 ganhadoras da bolsa da Fundação MacArthur. Os vencedores, anunciados no começo de outubro, são agraciados com a módica soma de 500 mil dólares, que pingam na conta ao longo de cinco anos.
Chimamanda mora há tempos nos Estados Unidos, mas estava em Lagos quando recebeu a notícia – em pleno dia do aniversário. “Gosto de dizer que os Estados Unidos são como um tio distante que não lembra do meu nome, mas de vez em quando me dá um dinheirinho”, disse a autora.
O melhor do prêmio é que o vencedor não precisa apresentar contrapartida alguma. Basta seguir tocando os projetos que já vinha desenvolvendo. Não é à toa que a bolsa também é conhecida como “genius fellowship”. Um de seus mais notórios ganhadores é Thomas Pynchon, o esquisitão pós-moderno autor de O arco-íris da gravidade.
A MacArthur também não aceita inscrições. Os diretores da fundação escolhem com base na qualidade do trabalho. E em qualquer área: neste ano, os cientistas foram maioria, com 13 premiados, seguidos pelos escritores e artistas, que eram oito. Também entrou no bolo Alex Ross, o crítico de música erudita da New Yorker.
É claro que uma barbada como essa só pode existir num país com a riqueza e a tradição de filantropia dos EUA. Mas é um formato que poderia ser adaptado no Brasil, onde também existem fundações e institutos interessados em fomentar a atividade literária. Com a extinção da Vitae, que foi uma das principais financiadoras de projetos literários no país, uma bolsa desse tipo, mesmo que em menor escala, seria um estímulo e tanto para um setor em eterna escassez de recursos.
A preferida de Oprah Winfrey
novembro 6, 2008 por Flavio Moura
Já que se falou em James Baldwin, é preciso lembrar Toni Morrison. A americana, dona de um prêmio Nobel e destaque da Flip de 2006, é uma das principais guardiãs do legado de Baldwin nos EUA: foi ela quem organizou a obra do escritor para a “Library of America”, coleção que marca em definitivo a canonização de um autor norte-americano.
Morrison esteve essa semana em Londres para uma sessão de leitura e um bate-papo com a crítica Hermione Lee. Encarou um auditório abarrotado e foi aplaudida de pé tantas vezes que levou o jornalista Stuart Evers a postar um comentário no blog de livros do Guardian sobre sua condição de “superstar” das letras.
Ele argumenta que foi explosiva a mistura entre o Nobel e o fato de ela ser a preferida de Oprah Winfrey – a apresentadora mais popular dos EUA já declarou a inclinação algumas vezes em seu programa.
A consagração crítica e o empurraozinho de Oprah (que já conseguiu transformar o esquivo Cormac McCarthy em best-seller nos EUA) contribuíram para a criação de uma celebridade literária difícil de igualar. Ainda mais em tempos de eleição de Obama, quando a longa militância da autora em favor dos direitos civis e do partido democrata ganha um sentido quase profético.
Só acho difícil concordar com Evers quando ele diz que autores como Philip Roth ou Haruki Murakami jamais seriam recebidos pelo público com o mesmo entusiasmo. Se algum dos dois aportasse em Paraty, tenho certeza de que a platéia não seria menos efusiva do que foi com Morrison em 2006.
Se Obama fosse escritor
novembro 3, 2008 por Flavio Moura
Se Obama fosse escritor, seria James Baldwin. A opinião é de Colm Tóibín, ensaísta irlandês que deu um show na Flip de 2004 com uma conferência sobre James Joyce.
“Os dois tiveram de enfrentar a raiva e a ira que carregavam dentro de si como forma de expurgar o veneno de si mesmos. É como se, na busca por poder – Baldwin se tornando o mais fino estilista americano de seu tempo, Obama o primeiro negro indicado à presidência dos Estados Unidos – os dois tivessem de buscar sabedoria na mesma fonte, já que nenhuma outra estava disponível. A história deles é de certo modo a mesma história porque dificilmente poderia ter sido diferente.” (mais, aqui).
Pouco conhecido no Brasil, Baldwin (1924-1987) é um prato cheio para os adeptos dos estudos culturais: negro e homossexual, fez dessa condição uma bandeira literária bem antes que os direitos civis conquistassem espaço nos EUA. Foi ele quem despertou em Nina Simone a veia ativista e ajudou a semear a causa entre os atores de Holywood, Marlon Brando entre eles.
O começo do ensaio deixa a impressão de que Tóibín força um pouco a mão, como se a “obamania” nublasse um pouco o julgamento. Mas a lista de paralelos entre as trajetórias é tão extensa que o texto se revela bem mais que uma sacada inteligente. Quem sabe o resultado das urnas nos EUA não anima os editores brasileiros a lançar outros livros de Baldwin por aqui.
Os indecisos de Sedaris
outubro 31, 2008 por Flavio Moura“A aeromoça vem pelo corredor com o carrinho de comida e, por fim, pára ao meu lado. ‘Você aceitaria o frango?’, ela pergunta. ‘Ou você prefere o prato de cocô com cacos de vidro dentro?’ Estar indeciso nessa eleição é o mesmo que fazer uma pausa e depois perguntar qual o ponto do frango.”
Esse é David Sedaris, convidado da Flip de 2008, em comentário sobre as eleições americanas publicado semana passada na New Yorker. Ele não cita os nomes de Obama ou McCain, mas deixa muito claro de que lado está.
Como de costume, foi campeão de audiência do site da revista. Clique aqui e veja a íntegra do texto, com aceso livre.
O Martin Amis dos historiadores
outubro 29, 2008 por Flavio Moura
“Simon Schama é uma espécie de Martin Amis dos historiadores. Estrela em ascensão no começo dos anos 1970, atingiu a maturidade literária durante os anos Thatcher, quando sua prosa efervescente e iconoclasta lhe garantiu uma cadeira em Harvard e o posto de historiador mais vibrante do mundo de língua inglesa.”
Esse é o trecho de abertura da resenha do Observer do livro mais recente de Simon Schama. O historiador, um dos primeiros a confirmar presença na Flip 2009, é desses tipos que construíram uma carreira universitária irrepreensível e bandearam pro lado de cá da academia sem baratear a qualidade do trabalho.
Biógrafo de Rembrandt e autor de livros sobre a revolução francesa, a Holanda no século XVII ou a mitologia da natureza no Ocidente, Schama ganhou notoriedade como apresentador de programas sobre história da arte da BBC, alguns dos quais transmitidos pela tevê Cultura. Só a série “A History of Britain” teve 4 milhões de espectadores, e seus livros já venderam mais de 1 milhão de exemplares no Reino Unido.
Schama pratica uma espécie de “história narrativa”: escreve como um prosador tarimbado e recheia seus relatos com tempestades, ventanias e outros detalhes que beiram o inverossímil — mas adora mostrar aos incrédulos os documentos de onde tira a informação. Também é capaz de conferir à narração dos documentários que produz uma cadência de trailer de Holywood.
The American Future, recém-lançado nos EUA e na Inglaterra e com previsão de publicação por aqui para março ou abril, revê a história do país a partir dos temas da guerra, religião, imigração e fartura. O ponto de chegada, naturalmente, são as eleições desta semana.
De novo, quem aparece não são os nomes e datas de costume, mas personagens comuns que atravessam a história do país. É nesse livro que se baseia a série homônima da BBC, de que podemos ver um trecho no trailer abaixo.
Ah sim, o Martin Amis: quem tiver ido à Flip de 2004 e visto Amis por lá está convidado a tirar a prova sobre a comparação no ano que vem.
Capítulo Final
julho 6, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyTom Stoppard
julho 6, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyVeja a íntegra da palestra do dramaturgo:
parte 1 – veja aqui com tradução simultânea
parte 2 - veja aqui com tradução simultânea
parte 3 - veja aqui com tradução simultânea
Tom Stoppard responde a uma pergunta de Luis Fernando Veríssimo e fala sobre as obras que prefere: as bem-feitas. – veja aqui
[As três partes com áudio original podem ser vistas aqui: parte 1, parte 2, parte 3]
Arte e Política
julho 6, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyEm 1924, o filho de Richard Wagner, Siegfried, mandou fazer uma pequena bandeira e a colocou sobre a entrada do teatro de Bayreuth. Nela, estava escrito: “Hier gilt’s der Kunst!” Ou seja: “Aqui só vale a arte!”
A FLIP 2008 abriu com Roberto Schwarz transformando Dom Casmurro num romance de luta de classes. No dia seguinte, Elizabeth Roudinesco foi obrigada a responder por que havia usado Osama Bin Laden como exemplo de perversidade e não o “terrorismo de Estado”. Ontem foi a vez de Luis Fernando Veríssimo que, diante de um dos maiores dramaturgos contemporâneos, tentou levar o assunto da dramaturgia para a ideologia…
Talvez uma pequena bandeira pudesse tremular sobre a Tenda dos Autores: “Aqui só vale a arte!”
Sandman
julho 6, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyNeil Gaiman fala sobre seu personagem mais conhecido.
Neil Gaiman e Richard Price
julho 6, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyRichard Price
julho 6, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyRichard Price agradece ao povo de Paraty por ter colocado a cachaça em sua vida e lê trecho de seu último romance.
Seu Garçom, Faça o Favor de Me Trazer o Prato…
julho 6, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyEm Paraty, existem dois tipos de garçom: o que demora pra te atender e o que nunca te atende. Mas tudo bem. Tudo é festa.
Stoppard
julho 6, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyA mesa “Shakespeare, Utopia e Rock ‘n’ Roll”, com Tom Stoppard e Luis Fernando Veríssimo, teve pouco de Shakespeare, quase nada de utopia e menos ainda de rock ‘n’ roll. Mas foi uma aula de dramaturgia. Stoppard contou o diálogo de cinema que gostaria de ter escrito, elogiou uma cena de Indiana Jones, comentou sobre Chinatown e, como se diz em propaganda, muito, muito mais. Amanhã, vocês poderão ver os melhores momentos aqui.
Other People
julho 5, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyDavid Sedaris
julho 5, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyEscritor americano colaborador da New Yorker, eleito humorista do ano pela Time Magazine, lê conto ambientado em Paris:
E aproveita para falar sobre “estilo”:
O Sarau Real
julho 5, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyOntem à noite, rolou na casa do príncipe Dom João Henrique de Orleans e Bragança, também conhecido como Dom Joãozinho, o tradicional Sarau do Príncipe. Se você não conhece, é quando Dom Joãozinho abre o quintal de sua casa a quem quiser entrar, oferece cachaça ao pessoal, e assiste a declamações de poesia. O BLOG DA FLIP foi lá. A imagem pode dizer pouco, mas o áudio mostra muito:
Neil Gaiman e Richard Price
julho 5, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyAcabou de terminar a palestra de Neil Gaiman e Richard Price. Foi sensacional. Tom Stoppard estava na platéia e, antes do início, lia a tradução em inglês de “Borges e os Orangotangos Eternos”, de Luis Fernando Veríssimo.
Daqui a pouco, colocaremos aqui alguns trechos da palestra.
Exclusivo: Machado Se Cala Diante das Perguntas Deste Blog
julho 5, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyPara acabar de uma vez por todas com a maior polêmica da literatura nacional, o BLOG DA FLIP, num esforço inédito de reportagem, foi atrás do bruxo do Cosme Velho.
Zoë Heller
julho 5, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyEscritora inglesa lê trecho de Anotações sobre um Escândalo:
Blogs na FLIP
julho 5, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyAlguns blogs que estão cobrindo a FLIP:
Eduardo Carvalho
Blog do Digestivo Cultural
Marcelo Tas
Neil Gaiman
Recortes
Sérgio Rodrigues
Se você está aqui em Paraty e está escrevendo sobre a FLIP em seu blog, deixe o endereço na caixa de comentários que a gente passa pra lista aí de cima.
Um Post Nada Familiar
julho 4, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyAtenção, crianças: mantenham distância. Xico Sá lê trechos do “Manual de Civilidade Destinado às Meninas para Uso nas Escolas”.
De Jayme Ovalle a Gisele Bündchen
julho 4, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyJayme Ovalle foi um poeta que escreveu pouco e influenciou muito. Manuel Bandeira foi influenciado por ele. Vinicius de Moraes, idem. Augusto Frederico Schmidt, Fernando Sabino, Murilo Mendes. Idem, idem, idem. Influenciava falando, influenciava com sua personalidade. Deixou apenas um punhado de poemas (a maioria escrita em inglês, traduzida por Bandeira) e 33 composições musicais. “A incapacidade de criação dele é fantástica”, escreveu Mário de Andrade.
No vídeo abaixo, Humberto Werneck, autor da biografia de Ovalle, fala sobre essa figura singular. Depois, no mesmo vídeo, Xico Sá explica por que os escritores escrevem para “humilhar a Gisele Bündchen”.
Livrarias
julho 4, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyO BLOG DA FLIP finalmente encontrou uma livraria em Paraty. Uma, não. Duas. A primeira não é uma livraria qualquer. É uma livraria extremamente curiosa. É a menor livraria do mundo:

Depois, graças à ajuda de uma gentil leitora, encontramos a livraria Nova Paraty, que fica na Rua da Praia. Chegamos lá com a pergunta: a FLIP fez as vendas de livro aumentarem? Resposta: bem pouco. Quais livros estão vendendo mais? Resposta: nenhum em especial. Como é a venda no resto do ano? Resposta: baixa; corremos o risco de fechar.

Chateados, saímos de lá e fomos direto para uma loja de cachaça. Descobrimos que, se os livros não estão vendendo mais, as cachaças estão. O motivo é óbvio: Xico Sá está na cidade.

PS: a Nova Paraty tem uma filial na agradável Casa de Cultura de Paraty. E, claro, a FLIP tem a Tenda dos Autógrafos, que conta com uma Livraria da Vila.

Escrever Para Viver
julho 4, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyMichel Laub, Emilio Fraia, Vanessa Barbara e Adriana Lunardi respondem a uma pergunta de João Moreira Salles:
Roberto Schwarz
julho 4, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyMarcelo Tas está aqui em Paraty e escreveu algumas coisas que esse blog gostaria de ter escrito sobre a palestra do Roberto Schwarz. Abaixo, alguns trechos da palestra:
Conversa de Botequim
julho 3, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyXico Sá levou, várias vezes, a Tenda dos Autores às gargalhadas. Uma de suas frases: “Bebo pra c*** e escrevo socialmente”. Amanhã, você poderá ver aqui no BLOG alguns trechos em vídeo da “conversa de botequim” que ele teve com o jornalista e escritor Humberto Werneck (que, aliás, contou ótimas histórias sobre Jayme Ovalle, o “santo sujo“). E poderá entender por que é que os escritores escrevem para “humilhar a Gisele Bündchen”.

E os livros?
julho 3, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyProsa, Poesia e Melodia
julho 3, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyLuiz Melodia canta A Voz do Morro no show de abertura.
Uma Parte Obscura de Nós
julho 3, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyAcabou agora há pouco a palestra da psicanalista Elizabeth Roudinesco. Ela falou sobre seu livro “A Parte Obscura de Nós Mesmos – Uma História dos Perversos”. Em determinado momento, disse que tinha certeza que todo mundo ali já tinha lido “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde. Acho que ouvi uma parte da platéia pigarrear…
Dom Casmurro
julho 3, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyRoberto Schwarz abre a FLIP 2008 lendo a abertura do romance de Machado de Assis.
Flanando pela FLIP
julho 3, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyCapítulo 46 de Quincas Borba
julho 3, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de ParatyO rumor das vozes e dos veículos acordou um mendigo que dormia nos degraus da igreja. O pobre-diabo sentou-se, viu o que era, depois tornou a deitar-se, mas acordado, de barriga para o ar, com os olhos fitos no céu. O céu fitava-o também, impassível como ele, mas sem as rugas do mendigo, nem os sapatos rotos, nem os andrajos, um céu claro, estrelado, sossegado, olímpico, tal qual presidiu às bodas de Jacó e ao suicídio de Lucrécia. Olhavam-se numa espécie de jogo do siso, com certo ar de majestades rivais e tranquilas, sem arrogância, nem baixeza, como se o mendigo dissesse ao céu:
- Afinal, não me hás de cair em cima.
E o céu:
- Nem tu me hás de escalar.

Primeiro Capítulo
julho 3, 2008 por FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty
A Tenda dos Autores estava praticamente lotada ontem à noite. Escritores chegavam e eram assediados por fotógrafos. Escritor só é fotografado cinco dias por ano: na FLIP.
Roberto Schwarz deu início à festa falando sobre Dom Casmurro. Não demorou muito para levantar a velha questão machadiana, o “ser ou não ser” da literatura nacional: Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Quer dizer, Schwarz não levantou a questão. Schwarz a respondeu. Para ele, não há dúvida: ela é inocente. Não é, claro, uma opinião unânime. Dalton Trevisan, por exemplo, escreveu certa vez que “se Capitu não traiu Bentinho, então Machado de Assis é José de Alencar.” Millôr Fernandes foi ainda mais longe: ” o fato é que não só a Capitu deu pro Escobar como o Bentinho também.” E você, o que acha?

Nenhum comentário:
Postar um comentário